Quatroloscinco conquistam SP com teatro mineiro

Quatroloscinco – Teatro do Comum (a partir da esq.): Maria Mourão, Rejane Faria, Ítalo Laureano, Assis Benevenuto e Marcos Coletta: quatro espetáculos e duas oficinas em São Paulo – Foto: Eduardo Enomoto

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
Fotos EDUARDO ENOMOTO

As nuvens estão carregadas e “o céu [parece estar] a cinco minutos da tempestade”, para citar o título de uma peça da dramaturga mineira Silvia Gomez. Afinal, a tarde é mesmo de conversa mineira na velocidade paulistana.

A luz cai enquanto cinco integrantes do grupo Quatroloscinco – Teatro do Comum chegam ao Memorial da América Latina, recém saídos da estação de metrô da Barra Funda. Apressados, correm para as fotos velozes de Eduardo Enomoto, antes da entrevista.

Os mineiros conquistam a maior cidade do Brasil com o teatro que fazem há sete anos. Até o fim deste mês, fazem a Ocupação Quatroloscinco no Sesc Belenzinho, um dos mais importantes espaços teatrais de São Paulo, apresentando quatro espetáculos (Get Out!, É Só uma Formalidade, Humor e Outro Lado), além de duas oficinas para trocar experiências com artistas e público paulistano.

O Quatroloscinco é formado pelos atores Ítalo Laureano, Rejane Faria, Marcos Coletta, Assis Benevenuto e Maria Mourão, esta última na função de produtora.

O ator Ítalo Laureano: “O Quatroloscinco funciona em rede” – Foto: Eduardo Enomoto

Ítalo Laureano, mineiro nascido e criado em Bom Despacho, conta que ainda se assusta com São Paulo. “Acho uma cidade fria, as pessoas correm muito, é tudo muito tumultuado. As pessoas te empurram, não te olham. Isso me dá um pouco de medo”.  Formado em artes cênicas pela UFMG, ele será pai no começo de 2015 de uma menina, fruto do relacionamento com a atriz Carla Duque. Já escolheu o nome da primeira filha: Nina.

Conta que hoje consegue viver de atuar, que, “de uns três anos para cá o grupo conseguiu uma estrutura boa”. Mas sabe que ainda há muito a batalhar, “pois teatro ainda não atinge o grande público neste País, infelizmente”. Fala que gostam de trabalhar em rede, com outros grupos brasileiros e também dentro do próprio grupo, em um sistema colaborativo. Andam viajando muito: “São Paulo é nosso oitavo estado neste ano”, revela. E diz que o maior objetivo da trupe é “estabelecer um lugar de afeto com o público”.

A atriz Rejane Faria: “Agora, a gente já se sente colocado, mas isso só aconteceu porque o Quatroloscinco conquistou o seu lugar no cenário teatral” – Foto: Eduardo Enomoto

Rejane Faria, belo-horizontina que hoje prefere morar em um sítio em Esmeraldas, nos arredores de Belo Horizonte, conta que o teatro chegou mais tarde em sua vida, mas o agarrou com unhas e dentes. Ela o descobriu já funcionária dos Correios, onde ainda trabalha, quando foi convocada para o grupo teatral da instituição. Levou tanto a sério que resolveu estudar artes cênicas na UFMG. Foi lá que criou com os colegas um grupo de estudos para pesquisar o teatro latino-americano. Assim nasceu o Quatroloscinco. O nome veio de uma reunião na qual constaram que dos cinco participantes, sempre faltava um em algum encontro.

Sobre o lugar de reconhecimento que o grupo ocupa hoje na cena nacional, afirma: “Agora, a gente já se sente colocado, mas isso só aconteceu porque conquistamos nosso lugar”. Diz que “o artista tem uma voz muito forte na sociedade, é um ofício com grande responsabilidade”. Afirma que para um grupo teatral sobreviver é preciso muito planejamento, muita união. “Hoje ainda temos atividades paralelas, mas um dia a gente quer viver só de teatro”, espera.

A atriz e produtora Maria Mourão: “Fazer teatro de grupo é como abrir uma empresa a cada ano” – Foto: Eduardo Enomoto

É Maria Mourão quem corre atrás da produção do grupo. Ela é mineira de Divinópolis radicada em Belo Horizonte. Herdou a arte de família: a mãe produzia e dirigia espetáculos infantis. Acabou fazendo o curso de jornalismo na Fumec, faculdade privada de BH, mas acabou entrando no Teatro Universitário da UFMG, o TU. Foi chegando no Quatroloscinco aos poucos. “Fui ficando”, explica, com um sotaque mineiro gostoso de se ouvir.

Acabou assumindo as rédeas da produção. “Fiz pós-graduação em produção cultural na PUC-Minas, aprendi a fazer sonoplastia e iluminação”. É um pacote completo nos bastidores. Sobre a continuidade do grupo conta que este é o maior desafio. “Vivemos um ano de cada vez, por enquanto temos nossa vida programada até março do ano que vem. Depois, é começar tudo de novo. Ter um grupo de teatro é como ter de abrir uma empresa nova a cada ano”.

Com essa vida dinâmica e frenética, prefere não fazer planos para o futuro. “A Maria de 30 e poucos anos parou de pensar nisso [de como será a Maria dos 50 e poucos]. Sou muito ansiosa. Então, preferi relaxar e viver”. E ela não tem vontade de voltar para o palco? Ela pensa, sorri, tímida, e responde, com muita calma: “Quem sabe… Acho que sim, mas para eu ir para o palco é preciso encontrar alguém para fazer tudo que eu faço! [risos]”.

O ator Marcos Coletta: “A política começa nas pequenas relações” – Foto: Eduardo Enomoto

O ator Marcos Coletta, belo-horizontino criado no bairro do Padre Eustáquio, descobriu seu amor pela arte ainda na escola. Tanto que aos 16 anos entrou para o Teatro Universitário da UFMG. Conta que ainda era muito menino e nunca tinha ouvido falar até então de Stanislavski. Do curso técnico, emendou para a graduação em artes cênicas na mesma universidade. E ainda fez mestrado, orientado por Fernando Mencarelli, no qual pesquisou o ator no teatro de grupo tendo como base o Grupo Galpão, referência em Minas e no País, e o seu Quatroloscinco.

Conta que a luta do grupo foi árdua para se estabelecerem. “Foram três anos até a gente ganhar o primeiro edital”. Além do Galpão, cita outros grupos mineiros um pouco mais velhos como referências: “Tem o Espanca!, o Luna Lunera…”. E diz que o que lhe chamou a atenção nestes últimos sempre foram peças jovens, autorais, que dialogam com sua geração.

Nunca teve medo de se colocar na vida. E gosta que o grupo o faça. “A gente pensa política não só no macro como também no micro. A política começa nas pequenas relações”, diz. Para o futuro, só espera estar ativo nas artes: “Espero que daqui a 20 anos o Quatroloscinco exista ainda”.

O ator Assis Benevenuto: “O teatro que fazemos é consequência da nossa persistência” – Foto: Eduardo Enomoto

Assis Benevenuto também é de Belo Horizonte, mas a família é de Rio Pomba, no interior mineiro, mas também já morou em outras cidades, como Muriaé e Juiz de Fora, em Minas, e Vila Velha, no Espírito Santo. Retornou à capital mineira no fim da adolescência, “para prestar vestibular para medicina ou veterinária”. Acabou fazendo o curso livre de teatro e abandonou as pretensões de estudos na área de ciências biológicas.

Fez vestibular para letras na UFMG, curso que concluiu, e entrou para o curso técnico de atuação do Cefar Palácio das Artes. Entrou para o Quatroloscinco acompanhando os ensaios dos amigos. Quando percebeu, já fazia parte. Sonha que um dia o grupo conquiste espaço próprio. “Hoje, a gente só tem um quartinho para guardar nossos cenários em um espaço coletivo”, conta. E emenda: “O teatro que fazemos é consequência da nossa persistência. É um sufoco, é mandar 80 projetos por ano e ser aprovado em dez no melhor dos casos. Das quatro peças que montamos, só uma foi por meio de edital. Tudo deu muito trabalho”.

Acha que o atual sistema de produção teatral no país, com toda a sua burocracia, exigências e contrapartidas “está muito viciado”. Na hora de explicar por que escolheu fazer disso seu destino, ele pensa e responde: “O teatro já virou a minha vida, é a nossa vida”.

Integrantes do grupo mineiro de teatro Quatroloscinco – Teatro do Comum posam no Memorial da América Latina, em São Paulo, onde fazem temporada de repertório no Sesc Belenzinho em novembro de 2014 – Foto: Eduardo Enomoto

Agradecimento: Memorial da América Latina

Conheça o site do Quatroloscinco e veja o serviço das peças e oficina deles no Sesc Belenzinho, em São Paulo!

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2 Resultados

  1. nels disse:

    Miguel, a Dilma colocou no seu horario eleitoral apenas o apoio de grandes atores de teatro, que são os mais politizados, e pouco acrescentou no numero de votos que ela ja tinha, pois apenas somou mais 18% no segundo turno; enquanto que o Aecio colocou artistas populares, de televisão, e cresceu 90% o numero de seus eleitores. Isso prova que o povão não vai ao teatro e pouco se influencia com a opinião deles. Então vamos falar dessa edição da FAZENDA da RECORD: A Pepê e a Nenem, MENTIRAM para o publico desde o inicio da carreira, pois no programa do Celso Portiolli, no SBT, elas disseram que moraram APENAS UM DIA NA RUA (sempre foram apresentadas como se fossem pessoas que viveram nas ruas), e também disseram que FICARAM ESSE DIA NA RUA, PORQUE MORAVAM NA CASA DE UM IRMÃO, que é MEDICO, e ele QUERIA QUE ELAS FOSSEM PRA ESCOLA. Ora que pessoa humilde que tem um irmão formado em MEDICINA? Acho que a Pepê e a Nenem SÃO OTIMAS CANTORAS, principalmente em se comparando com o que estamos vendo atualmente sendo apresentado como CANTORAS e como MUSICA, mas “NÃO É LEGAL ENGANAR O POVO”, contando historias tristes pra se promoverem. Elas não precisam disso, e o POVO NÃO PERDOA este tipo de coisa. Miguel, ja temos muita gente, ganhando dinheiro devido a falta de informação do povo, que precisa que os comentaristas da fazenda da record, precisam informar melhor ao povo, para que possam decidir corretamente quem merece ganhar essa grana da fazenda.

  2. Phillipe disse:

    Apreciei o formato da matéria. Bem justo, dando espaço a todos.

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