“Bob Wilson joga anzol e pesca o mais profundo de nós”, dizem Mikhail Baryshnikov e Willem Dafoe
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
Fotos BOB SOUSA
Quando era pequeno, na extinta União Soviética da década de 1950, o menino Mikhail Baryshnikov pensava “em futebol” quando ouvia a palavra Brasil. Já no norte dos Estados Unidos, no começo dos anos 1960, o pequeno Willem Dafoe achava que Brasil era sinônimo “de selva”.
São lembranças deste tipo que contam ao R7, durante o encontro na tarde desta terça (22), para falar do espetáculo The Old Woman (A Velha). A obra dirigida por Robert Wilson, ou apenas Bob Wilson, estreia em São Paulo, no Teatro Paulo Autran do Sesc Pinheiros, nesta quinta (24). A temporada promovida pelo Sesc São Paulo será de apenas 11 sessões, já com ingressos esgotados. Wilson não virá ao Brasil.
Aniversário e caipirinha
De volta ao encontro, Dafoe conta que tem prazer em trabalhar com o diretor texano que virou referência de teatro em todo o mundo. “A coisa mais bonita do teatro é sua artificialidade, e o Bob sabe utilizar isso. Gosto de ser moldado por ele”, afirma.
Dafoe completa 59 anos nesta terça (22). Vai comemorar com trabalho. “Saio daqui e vou ensaiar. Quem sabe depois não bebo uma caipirinha?”.
Mesmo com tanta labuta, ele e seu colega de cena, Baryshnikov, encontraram tempo para conferir nesta segunda (21) o show Gilbertos Samba, de Gilberto Gil, no Theatro NET São Paulo.
Dafoe também pode ser visto nos cinemas, no filme O Grande Hotel Budapeste. Mas faz questão de dizer que o teatro também sempre foi sua praia, já que fez parte do grupo nova-iorquino The Wooster Group entre 1977 e 2005. E frisa: “Diariamente”. Agora, se lança em trabalhos independentes, que lhe tragam desafios: “Eu me sinto desconfortável quando estou no conforto”.
Foi dos tempos de teatro de grupo que conheceu Wilson, uma das influências de seu grupo. “É a segunda vez que faço algo com ele. A preparação é ser flexível, se entregar à preparação dele. Fizemos antes A Vida e a Morte de Marina Abramovic”, ao lado da artista nascida na Sérvia. E lembra de um fato engraçado na montagem. “Como o espetáculo era baseado na vida dela, a Marina chorava em cena. Bob falava: ‘Não quero que você chore, deixe que o público chore por você”. E a Marina me dizia: “Willem, eu choro todos os dias!”
Corpo moldado há quase 60 anos
Baryshnikov, lenda viva da dança mundial, conta que o convite de Bob Wilson veio “num desses jantares da vida, quando a gente fala: precisamos trabalhar juntos”. E revela que o diretor é um excelente dançarino: “Ele faz uns movimentos idiossincráticos, abruptos. Quanto mais esquisito, melhor para ele”. Tanto que algumas cenas foram criadas a partir de danças de Wilson. Baryshnikov ainda surpreende na obra: “Canto por 30 segundos, o que é suficientemente assustador [risos]”.
O bailarino de 66 anos diz que seu corpo, moldado pela dança desde os 9, logo se adaptou ao estilo de movimentação “egípcia” de Bob Wilson, na qual é importante “sustentar a imobilidade”. “Trago no corpo um acúmulo de diversas linguagens”, afirma. “Com o Bob Wilson, você é o que você é. Ele joga o anzol e pesca o mais profundo de nós”.
Os atores, assim como o diretor, não querem se precipitar ao dizer o que o público sentirá ao ver a obra, baseada na novela do russo Daniil Kharms. “Acho que isso de tudo ser feito atrás de uma máscara, convida o público a achar engraçado ou não. Não queremos incorporar o que a plateia vai sentir. Ela tem de sentir por si só”, diz Baryshnikov.
Veja fotos da peça de Bob Wilson com Baryshnikov e Dafoe
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Adorei a entrevista, fiquei ainda mais curiosa para vê-los em cena! Maravilhoso ouvir os relatos desses artistas tão geniais. Parabéns!
Obrigada.
Carolina, obrigado pela observação enviada e pela leitura atenta. Aquele abraço!
Baryshnikov é ícone. Sem mais.
Já Willem é um cara bem intelectual, mas não é “blasé”. Ao contrário, tem uma faceta bem alternativa. Vide o polêmico “A última tentação de Cristo”.
Sensacional essa reunião de dois ícones!! Baryshnikov é o artista do corpo. Dafoe também é brilhante, mesmo em filmes comerciais como o primeiro Homem Aranha, no qual ele faz o vilão atormentado.