Crítica: Elke Maravilha é alento em meio a Krísis

Elke Maravilha e Pereio encerram temporada no Sesc Bom Retiro: ela é o grande destaque – Divulgação

Por Miguel Arcanjo Prado

O mundo não anda nada bem. Nem as pessoas que nele vivem. Mas, quando tudo esteve melhor? Esta é a mensagem central da peça Krísis, que a Cia. Nova de Teatro apresenta no Sesc Bom Retiro, em São Paulo.

O grupo dirigido pelo carioca Lenerson Polonini, que antes passou temporada de pesquisa na Grécia, mergulhou na mitologia grega misturada a uma lisérgica pós-modernidade para criar o espetáculo com dramaturgia de Eduardo Brito e Carina Casuscelli. Projeções sombrias do videocenário de Alexandre Ferraz e Giuliano Conti dão o tom, assim como os figurinos e maquiagem assinados por Carina Casuscelli.

Afinal de contas, o capitalismo nos transformou a todos em produtos a serem curtidos, mas a felicidade não veio no pacote.

O grande alento da montagem é a volta aos palcos da atriz Elke Maravilha. Antes de ela surgir, acontecem cenas fragmentadas, com muita declamação com pouca intenção na fala. E discussões importantes da contemporaneidade estão por ali, o tempo todo, transmutadas nos mitos gregos referendados: a crise econômica, moral e social, aquela ausência que preenche soturnamente o mundo feito de representações irreais.

Muitas vezes, parece que o elenco não tem consciência do que diz. Falta pausa, falta viço. Alguns, sobretudo os homens, surgem com corpos desalinhados e perdidos.

Lá para o meio da peça, aparece Paulo César Pereio como um libidinoso deus Zeus, que adora brincar com a humanidade. O ator até causa certo impacto em seu surgimento. Há claro desejo dele em colocar mais energia ao texto que diz. Ora consegue, ora não. Mas, é um avanço em relação ao que havia antes.

Entretanto, tudo muda quando Elke Maravilha surge representando Hades, a morte. Ela tem dois monólogos na montagem. O melhor é o primeiro, lá pela metade da obra. Do forma impactante, fala da solidão da velhice e da violência curtida por nós diariamente no Facebook. Este texto, poético e forte, é o grande achado do espetáculo. E Elke, com sua sabedoria conhecida de todos nós há muito tempo, faz de cada palavra um grande momento. Ao contrário de boa parte do elenco, ela não tem pressa em declamar. Ela apenas vive o que o texto propõe, como uma boa atriz deve fazer. E o público, claro, fica aos seus pés.

A direção é pouco feliz ao escolher voltar com a ladainha do começo após esta cena irrefutável. Sem alternativa, o público segue ali, torcendo para que Elke volte outra vez. Porque depois dela, todo o resto deixa de fazer sentido. E, neste ponto, o diretor acerta: faz Elke voltar, ressurgida debaixo da terra, divina e sentada em uma cadeira de rainha, para se despedir de seus espectadores com novo texto, de menos impacto que o primeiro, mas, como sempre, transformado por ela e sua, neste caso irônica, força vital.

Quando tudo termina, a gente fica com uma certeza: Elke Maravilha é o motivo para ir ver Krísis.

Krísis, com Cia. Nova de Teatro
Avaliação: Regular
Quando: Sábado, 19h. Domingo, 18h. Até 11/8/2013
Onde: Sesc Bom Retiro (al. Nothmann, 185, Bom Retiro, Metrô Santa Cecília ou CPTM Júlio Prestes, São Paulo, tel. 0/xx/11 3332-3600)
Quanto: R$ 24 (inteira); comerciários e dependentes pagam R$ 6
Classificação etária: 16 anos

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1 Resultado

  1. Felipe disse:

    Li alguns livros de mitologia grega porque me interessava no passado pelo assunto. Acredito que Elke, pela artista performática que é, seja realmente uma ótima Hades.

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