Teatro Invertido rompe fronteiras de Minas e conquista seu lugar nos palcos do Brasil

Os seis integrantes do Teatro Invertido posam no Centro Cultural São Paulo – Foto: Eduardo Enomoto

Por Miguel Arcanjo Prado
Fotos de Eduardo Enomoto

A metrópole que corre frenética na avenida 23 de Maio, avistada do terraço do Centro Cultural São Paulo, não assusta os seis integrantes do Teatro Invertido, grupo criado em Belo Horizonte em 2004.

A cidade cinza parece ter gostado da visita mineira. Tanto que preparou um potente sol de outono que dá vida e cor a tudo ao redor. Apesar da receptividade, os mineiros continuam matutos e observam os paulistanos nas espreguiçadeiras sob a grama do lugar, aproveitando cada minuto daquele dia lindo, coisa rara na cidade.

Os artistas sabem que vivem uma espécie de realização de sonho embalado há muito tempo. A companhia mineira conquista, a cada dia, respeito e público que vai além das fronteiras de Minas Gerais. São um grupo do mundo e de Minas Gerais, como diz a música de sua terra.

Após participar do último Festival de Curitiba, a trupe sobe ao palco nesta quinta (18) na 8ª Mostra Latino-Americana de Teatro de Grupo, às 21h, no Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, Metrô Vergueiro). Os ingressos, gratuitos, começam a ser distribuídos a partir das 16h na bilheteria do local.

Eles apresentam o espetáculo Os Ancestrais, com dramaturgia e direção de Grace Passô sobre uma família soterrada. Eles se unem a uma expoente no novo teatro mineiro. E Grace também está em cartaz na capital paulista com O Líquido Tátil, no Sesc Pompeia, resultado da parceria de seu grupo, o Espanca!, com o diretor argentino Daniel Veronese.

O Teatro Invertido bem sabe que parcerias são fundamentais para seu aperfeiçoamento. Diálogo é palavra chave do grupo. Aberto ao novo, incorporou novos integrantes, aceita críticas com maturidade e procura fazer seu teatro acontecer onde quer que estejam. Como todo artista deve fazer.

O R7 conversou com cada um dos seis integrantes do Teatro Invertido e conta, a seguir, quem eles são e o que desejam:

Kelly Crifer, do Teatro Invetido: “Foi a Folia de Reis quem me levou ao teatro” – Foto: Eduardo Enomoto

Kelly Crifer é doce e conquista automaticamente qualquer um. De fala articulada, é uma espécie de musa automática do Teatro Invetido. Nascida em Belo Horizonte, a atriz de 31 anos foi criada em Santana da Divisa, distrito de Diamantina no Vale do Jequitinhonha. Foi lá que se apaixonou pela arte, vendo a Folia de Reis. “Eles visitavam as casas enfeitadas, meu tio-avô cantava e eu ficava encantada”. Filha da professora Maria José e do caminhoneiro Egídio, Kelly sempre foi ótima em matemática. Mas descobriu que o palco poderia ser uma profissão ao pegar o revista do vestibular da UFMG e se deparar com o curso de artes cênicas. Não teve dúvida, abandonou os números e abraçou o teatro. Quando não está viajando com o Teatro Invertido, gosta de ficar em casa, quietinha, e ler biografia de grandes atores. No momento, desvenda a vida de Procópio Ferreira. “A vida de outros artistas é algo que me cativa e me enlouquece”.

Leonardo Lessa, do Teatro Invertido: “O trabalho de ator é minha prioridade” – Foto: Eduardo Enomoto

Leonardo Lessa fala a idade sem nenhum problema: “estou com 30 anos”. Diz que já passou da fase de ter medo. Está bem resolvido. Apesar de o grupo ser democrático em suas decisões, ele é uma espécie de lider nato do Teatro Invetido. Despachado, faz as coisas acontecerem. Nascido em Belo Horizonte, começou a fazer teatro bem cedo, aos oito anos. Nunca teve dúvida de que aquela seria sua profissão. “Tirei o registro profissional de ator aos 16 anos”. Na hora do vestibular, entrou de cara no curso de artes cênicas da UFMG. Lá criou o Teatro Invertido com os colegas de curso. No grupo, sempre assumiu a coordenação e o planejamento. “Foi algo natural, acho que tem a ver com minha personalidade e militância em políticas públicas para a cultura”. Divide o trabalho no Teatro Invertido com o de coordenador há cinco anos do Centro Cultural do Galpão Cine Horto. Quando elogiam seu trabalho de gestor, avisa logo: “Eu gosto, mas minha prioridade é o trabalho de ator. Posso gerir, mas faço isso como artista”. Acredita que o Teatro Invertido está em um momento de virada. “Temos princípios claros e parcerias frutíferas”, diz. Com tantas responsabilidades, mal consegue se desligar. “É coisa de capricorniano”. Por isso, nos poucos momentos em que consegue apagar o telefone e o computador, vê “a maior bobeira que encontra na TV”.

Rita Maia, do Teatro Invertido: “Gosto de pensar o teatro sem hierarquia” – Foto: Eduardo Enomoto

Rita Maia comemora 20 anos de carreira. A atriz, de 39 anos, começou na profissão aos 19. Natural de Uberaba, foi ainda bebê para Belo Horizonte. Logo que se entendeu por gente, mergulhou em cursos livres de teatro. Acabou se formando em Letras na UFMG. Assim que foi criado o curso de artes cênicas na universidade, resolveu que seria sua segunda e principal faculdade. Entrou sabendo o que queria: “Montamos de cara o Grupa, o Grupo de Pesquisa em Atuação. Gosto de pensar o teatro sem hierarquia”. Avalia as conquistas do Teatro Invertido como “resultado de muito trabalho”. “Estou conquistando aquilo que mais queria”, reitera. Conta que o cenário para o teatro na capital mineira melhorou, tem mais público e incentivos, “mas ainda não é o ideal”. Faz questão de militar pela cultura em sua cidade. “Escolhi ficar em BH, então, tenho de peitar isso e fazer as coisas acontecerem lá”. Tem o Grupo Galpão, a quem chama de “pai de todos”, como grande referência. “Espero poder um dia trabalhar só como atriz do Teatro Invertido”.

Robson Vieira, do Teatro Invertido: “Queremos circular cada vez mais” – Foto: Eduardo Enomoto

O belo-horizontino Robson Vieira, de 36 anos, começou a fazer teatro e dança ainda adolescente, aos 14 anos. Passou por vários grupos amadores até se profissionalizar. Formou-se em dança pela Fundação Clóvis Salgado. A amizade com a atriz Kelly Crifer lhe rendeu o convite para integrar o Teatro Invertido. “Tudo que estamos conquistando é fruto de uma construção coletiva. O crescimento é resultado de desejos múltiplos”. Diz que o teatro político e engajado que fazem dialogam com realidades distintas. “Queremos circular cada vez mais”. Quando viaja, fica com saudade de casa e, sobretudo, de brincar com seu filho, Raul, de oito anos. “Recentemente, temos brincado muito de helicóptero e de dançar”.

Janaina Morse, do Teatro Invertido: “Estar em um grande festival é sempre uma realização” – Foto: Eduardo Enomoto

Janaina Morse é mineira, de Belo Horizonte. Mas tem um pé na Bahia: morou em Salvador por oito anos, “divididos em dois períodos de quatro”. Formada em teatro no Palácio das Artes, de BH, fez Oficinão do Galpão em 2000 e, de cara, ganhou a missão de substituir a atriz Teuda Bara em Um Trem Chamado Desejo, em 2001. Viajou todo o País e conheceu de perto como é integrar um grupo sólido no cenário brasileiro e mundial. Assim que a temporada acabou, migrou para a Bahia, onde foi trabalhar no Grupo Dimenti. A volta para a capital mineira foi por conta do coração. A mãe, Maria da Conceição, ficou doente. Voltou em 2006 e ficou ao lado dela até sua partida, em 2008. Aos poucos, se reintegrou à cena mineira. Os Ancestrais é seu primeiro trabalho no Teatro Invertido. O convite partiu de Grace Passô, a diretora e dramaturga com quem estudou no Palácio das Artes. Após participar do Festival de Curitiba e agora na 8ª Mostra Latino-Americana de Teatro de Grupo, diz estar contente. “Estar em um grande festival é sempre uma realização. Acho que é o lugar que todo mundo quer estar, né? Onde as coisas acontecem”. Quando dá um tempo na frenética rotina, toca acordeon e kulelê, “que é aquele violão havaiano menor que o cavaquinho”.

Dimitrius Possidônio, do Teatro Invertido: “A vontade de atuar veio do cinema” – Foto: Eduardo Enomoto

Dimitrius Possidônio, de 28 anos, é de Almenara, no Vale do Jequitinhonha. O nome impactante vem da ascendência grega do lado paterno. Da infância, veio o gosto por se embrenhar no sertão: “Gosto do mato, de fazer fogueira e ir para cachoeira”. Foi em Belo Horizonte, na adolescência, que o teatro chegou em sua vida. “A vontade de atuar veio de ver cinema”. Ele se matriculou no curso de teatro do Espaço Cênico e depois no Palácio das Artes, onde se formou em 2008. O amor pelos palcos foi tão grande que vendeu um restaurante que tinha para investir na profissão. Foi o ator Leonardo Lessa quem o convidou para entrar para o grupo. “O Teatro do Invertido está indo num caminho muito bom, e agora, com os novos integrantes, está com sangue novo”. Fã de Zeca Baleiro e Lucas Santana, também reserva espaço para ouvir Milena Torres, sua tia cantora e compositora. “Também gosto muito de ler. No momento, estou mergulhado na obra do Charles Bukovski”.

Com sede em Belo Horizonte, o Grupo Teatro Invertido é uma das atrações da 8ª Mostra Latino-Americana de Teatro de Grupo de São Paulo, gratuita, no CCSP – Foto: Eduardo Enomoto

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1 Resultado

  1. Felipe disse:

    Muito bom o texto. Conhecendo um pouco sobre cada um dos integrantes, dá para ter uma ideia da grande soma de diferentes vivências que é o Teatro Invertido. Um dos mais prazerosos textos para se ler do blog, na minha opinião.

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