Ator brasileiro se destaca no teatro de Nova York: Daniel Mazzarolo está em Radium Girls por Pamela Moller Kareman | Entrevista do Arcanjo

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

O ator brasileiro Daniel Mazzarolo é destaque no teatro de Nova York, cidade dos Estados Unidos onde o paulistano vive desde 2019. Atualmente, o artista se prepara para estrear na capital mundial das artes cênicas o espetáculo Radium Gilrs, de D.W. Gregory, sob comando da prestigiada diretora nova-iorquina Pamela Moller Kareman, neste sábado (7), no charmoso Rita Morgenthau Theatre, localizado no coração de Nova York.

Com experiência em palcos e telas, no Brasil, ele estudou artes cênicas na ECA-USP e também passou pelo CPT (Centro de Pesquisa Teatral) de Antunes Filho no Sesc São Paulo, oficina da Cia de Teatro Os Satyros, além de ser cofundador do [pH2]: estado de teatro e ter trabalhado com diretores como Gabriel Villela e Mika Lins, integrando a Cia. Instável. No cinema, esteve em filmes como como Anêmona (2015), Tempo (2014), Under the Atlantic Sun, The Young Baumann e Airless (2018).

Em Nova York, esteve na prestigiada The Neighborhood Playhouse of the Theater e participou de espetáculos como Miss Julie, de August Strindberg, no Ivoke Theater. Na Alemanha, participou da peça Woyzeck, no Buchner International.

O artista conversou com exclusividade com o Blog do Arcanjo sobre seu atual momento, o espetáculo que estreia e os desafios de ser um ator brasileiro nos Estados Unidos, mais especificamente na efervescente metrópole chamada Nova York. Leia com toda a calma do mundo.

Ator brasileiro Daniel Mazzarolo é destaque no teatro de Nova York, Estados Unidos – Foto: Gabi Amerth – Blog do Arcanjo

Miguel Arcanjo Prado – Qual o maior desafio para um ator brasileiro que vive e trabalha em Nova York?
Daniel Mazzarolo –
Um grande desafio é sem dúvida a língua. Além de ter que fazer um esforço constante para se comunicar numa língua que não é sua língua materna, tem a questão do sotaque, que por menor que seja, acaba denunciando que você não é um nativo. E o ideal é que a gente não seja colocado numa caixinha por conta disso, para não restringir as nossas possibilidades de peças e personagens. Por outro lado, a nossa bagagem cultural e nossas experiências no Brasil podem também ser uma força para o nosso trabalho.  Outro desafio referente à linguagem são os termos técnicos do ofício que são muito específicos de país para país. Eu já falei muita coisa errada traduzindo literalmente do português, que aqui não faz sentido [sorri].

Miguel Arcanjo Prado – Há quanto tempo você vive em Nova York? O que mais ama na cidade?
Daniel Mazzarolo –
Eu me mudei em setembro de 2019, então faz dois anos e meio mais ou menos que moro aqui. Eu estive aqui durante o lockdown e a quarentena, então demorou para eu conseguir de fato conhecer a cidade. Nova York é demais porque tem gente do mundo todo aqui! Você anda no metrô e ouve todo tipo de língua. A cena cultural aqui é muito forte e tem muito investimento. Os museus são incríveis, tem sempre exposições interessantes. E tem muita opção para ir ao teatro, shows, tem muito parque. Toda vida cultural e social é muito efervescente.

Miguel Arcanjo Prado – Como você definiria os nova-iorquinos? E a cena teatral nova-iorquina?
Daniel Mazzarolo –
É engraçado porque o que menos tem em Nova York são nova-iorquinos. Tem gente de toda parte dos Estados Unidos aqui, e do mundo todo. É uma cidade muito focada em trabalho e produtividade. As artes têm muito financiamento aqui, e o teatro especificamente tem muito dinheiro e apoio. A cena teatral é dividida em Broadway, Off-Broadway e Off-Off-Broadway. E diferentemente do que eu pensava quando eu cheguei, essa distinção não tem a ver com a região onde ficam os teatros, mas a quantidade de assentos, entre outras pequenas diferenças. Os musicais aqui ficam anos em cartaz. E tem muito público. Todo mundo quer ir ao teatro!

Ator brasileiro Daniel Mazzarolo atua em Nova York – Foto: Andrew Watkins – Blog do Arcanjo

Miguel Arcanjo Prado – Você estreia neste mês uma nova peça nova-iorquina. Qual é seu personagem e o que lhe move neste trabalho?
Daniel Mazzarolo –
A peça chama “Radium Girls” da dramaturga D.W. Gregory, e é baseada numa história real da década de 1920 em Nova Jersey. É uma peça cheia de personagens e todo o elenco interpreta vários. Dos personagens que eu faço, gosto muito de um dentista que existiu na vida real, um tal de Dr. Joseph Knef, que tentou se aproveitar de uma crise sanitária numa fábrica para lucrar chantageando a empresa que coordena a fábrica.  É uma história que precisa ser contada e é isso que move. As personagens dessa peça existiram de verdade, 100 anos atrás. E as mulheres dessa fábrica pintavam ponteiros de relógio com uma mistura que usava o elemento rádio, acabaram contaminadas e envenenadas e muitas morreram. A briga delas contra a empresa revolucionou os direitos trabalhistas nos Estados Unidos.

Miguel Arcanjo Prado – Como tem sido o trabalho com a diretora estadunidense Pamela Moller Kareman?
Daniel Mazzarolo – Tem sido uma experiência incrível! Cada diretor ou diretora tem seu jeito único de trabalhar. Ela tem muita confiança no meu trabalho e me dá muita liberdade para criar. A peça tem um estilo cinematográfico em que uma cena corta e já entra a outra, e a peça é escrita de um jeito que parece que quando uma cena começa para o público, ela na verdade já está no meio de um acontecimento, e não no começo. Então nos ensaios trabalhamos para esse “estilo”.  

Daniel Mazzarolo: ator brasileiro se destaca no teatro de Nova York – Foto: Gabi Amerth – Blog do Arcanjo

Miguel Arcanjo Prado – Em São Paulo, sua formação passou por ECA e CPT, como cada um destes lugares marcou sua trajetória?
Daniel Mazzarolo –
A ECA e o CPT são experiências de valor imensurável na minha formação, e diversas vezes durante o curso conservatório que eu fiz aqui, eu me pegava usando técnicas que eu aprendi numa ou na outra. Mas, além dessa formação, igualmente importante é a minha formação prática, com a Mika Lins, o Gabriel Villela, o grupo do qual eu fiz parte durante 8 anos – o [pH2]: estado de teatro – e os cursos de extensão que eu fiz no Satyros. Foi onde eu aprendi verdadeiramente sobre o ofício e a pôr a mão na massa. E sem dúvida essas experiências todas fazem de mim um artista diferencial aqui, por ter tido o privilégio de aprender e trabalhar com tantas pessoas incríveis.

Miguel Arcanjo Prado – Do que mais sente saudade?
Daniel Mazzarolo –
De ir pro samba [abrindo um sorriso].

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O que falam de Daniel Mazzarolo

Desde 2019, eu tenho presenciado o alto nível de compromisso e dedicação ao ofício que o Daniel Mazzarolo traz. Ele é muito bem adequado aos papéis que está interpretando na peça ‘Radium Girls’. Eu sou muito grata ao talento valoroso que ele está trazendo ao elenco da nossa peça.

Pamela Moller Kareman
diretora de teatro em Nova York, Estados Unidos

Daniel Mazzarolo trabalhou como meu assistente até ir pra Nova York. É um homem de teatro com formação sólida.  Nossa parceria foi e ainda é muito profícua. Um interlocutor artístico de muita profundidade e capacidade criadora. Mesmo em Nova York continua fazendo parte da Cia Instável e sua trajetória me enche de orgulho.

Mika Lins
diretora de teatro em São Paulo, Brasil

Daniel Mazzarolo é um dos atores mais extraordinários de sua geração. E tem feito um trajeto admirável. Não apenas por ter participado do elenco de espetáculos memoráveis com Gabriel Villela, como “Estado de Sítio”, de Camus, e “Peer Gynt”, de Henrik Ibsen; mas por ter atuado em dois dos filmes experimentais mais incríveis dos últimos anos. Os longas “Fôlego” (2018), de Renato Sircilli, e “Os Jovens Baumann” (2019), de Bruna Carvalho Almeida, são pequenas obras de primeira grandeza. Curioso mesmo é que me lembro da primeira vez que vi Daniel em cena, no Teatro Cacilda Becker, talvez em 2012 e imagino que em seu primeiro trabalho. “A Água como Metáfora para a Apatia e Acomodação do Homem”, criação coletiva de um elenco conciso e com direção Rodrigo Batista, já dava pra notar o homem de teatro que seria Daniel. Grande!

Ivam Cabral
cofundador da Cia. de Teatro Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro, em São Paulo, Brasil

Editado por Miguel Arcanjo Prado

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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