Senhora dos Afogados ganha visão de Monique Gardenberg com Teatro Oficina em ponte com Zé Celso e Nelson Rodrigues

Teatro Oficina encena Senhora dos Afogados sob direção de Monique Gardenberg © Igor Marotti Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

O Teatro Oficina Uzyna Uzona, celeiro de transgressão e palco de reinvenções, volta a agitar as águas da cena paulistana. Desde a última sexta, 25 de abril, e com extensão programada para o seu icônico endereço a partir de 30 de maio, o grupo apresenta no Sesc Pompeia uma leitura visceral de “Senhora dos Afogados”, a emblemática tragédia de Nelson Rodrigues, sob a direção da sensível Monique Gardenberg.

Para quem acompanha a trajetória incandescente do Oficina, a montagem carrega um peso simbólico eloquente. A peça, um desejo antigo do mestre Zé Celso Martinez Corrêa – parceiro de Nelson em tantas trincheiras artísticas –, ganha vida pelas mãos de Gardenberg, amiga íntima e agora herdeira de um legado de ousadia.

Teatro Oficina encena Senhora dos Afogados sob direção de Monique Gardenberg © Igor Marotti Divulgação Blog do Arcanjo 2025

A decisão, como revela Marcelo Drummond, viúvo de Zé Celso à frente do grupo e intérprete do atormentado juiz Misael, surgiu em um momento de luto e aposta no futuro: “Monique perguntou o que faríamos depois de ‘A Queda do Céu’, e eu logo respondi que gostaria de fazer ‘Senhora dos Afogados’ antes. Queria estar no palco logo.”

O texto rodrigueano, ambientado em uma casa à beira-mar que pulsa como extensão do próprio oceano – metáfora poderosa para as correntes da vida, da morte e da memória –, é revisitado com a marca indelével do Oficina. A inovação cênica, a incorporação de recursos audiovisuais e a atmosfera musical intensificam a imersão no universo denso da família Drummond, onde segredos e culpas emergem como ondas implacáveis.

Teatro Oficina encena Senhora dos Afogados sob direção de Monique Gardenberg © Igor Marotti Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Um coro peculiar, as “putas do cais”, evoca a memória afetiva de Zé Celso e sua inclinação por dar voz aos marginalizados, injetando uma camada extra de visceralidade à encenação. No elenco, nomes potentes como Regina Braga, Leona Cavalli e Lara Tremouroux dão corpo às personagens complexas que orbitam o melancólico Misael.

A passagem de “Senhora dos Afogados” pelo Sesc Pompeia não é um evento isolado, mas sim a continuidade de uma frutífera parceria. Nos últimos anos, o Oficina brindou o público com releituras impactantes de “Esperando Godot” e “O Bailado de Deus Morto”, sempre dialogando com as artes visuais e expandindo as fronteiras do teatro.

Agora, a tragédia familiar de Nelson Rodrigues, filtrada pela lente única do Teatro Oficina e o olhar de Monique Gardenberg, convida o espectador a mergulhar em um Brasil arquetípico, onde as paixões toldam a razão e o silêncio grita mais alto que as palavras. Imperdível para os amantes do teatro que pulsa e questiona. Que as águas cênicas lavem e revelem!

Senhora dos Afogados

Ficha Técnica:

Família Drummond

Misael Drummond – Marcelo Drummond

Dona Marianinha – Regina Braga

Dona Eduarda – Leona Cavalli

Moema – Lara Tremouroux

Paulo – Kael Studart

Dora – Clarisse Johansson

Clarinha – Larissa Silva

Vizinhas

Cristina Mutarelli

Giulia Gam

Michele Matalon

Muriel Matalon

Cais

Noivo – Roderick Himeros

Mãe do Noivo – Sylvia Prado

Dona – Vick Nefertiti

Vendedor de Pentes – Marcelo Dalourzi

Sabiá – Alexandre Paz

Mulheres da Vida: Danielle Rosa,

Kelly Campêllo, Mariana de Moraes,

Selma Paiva, Zizi Yndio do Brasil

Michês: Tony Reis, Victor Rosa

Banda: Carlos Eduardo Samuel,

Felipe Botelho, Pedro Gongom Manesco

Realização:

Teat(r)o Ofi cina Uzyna Uzona

Texto:

Nelson Rodrigues

Direção:

Monique Gardenberg

Direção de Vídeo:

Igor Marotti Dumont

e Ciça Lucchesi

Arquitetura Cênica:

Marília Piraju

Figurino:

Cássio Brasil

Visagismo:

Sonia Ushiyama Souto

Desenho de luz:

Wagner Pinto e Sarah Salgado

Direção Musical:

Felipe Botelho

Direção de Cena:

Elisete Jeremias

e Rafael Bicudo

Artistas Homenageados:

A fotografia de José Celso Martinez Corrêa é de autoria de André Gardenberg.

O poema Perplexidade, declamado por Misael Drummond no último ato, é de autoria de Antonio Cícero.

A coreografia que abre a cena do Banquete é Season’s March Dance, de autoria de Pina Bausch, com a música Você Vai Ser o Meu Escândalo, de Erasmo e Roberto Carlos.

Citações:

As roupas usadas pela Família Drummond na cena de abertura foram estampadas com obra de Adriana Varejão, Celacanto provoca maremoto.

2004-08, óleo e gesso sobre tela.

A placa da praia foi produzida a partir de obra de Gabriel Grecco – Tá foda.

Serviço

Senhora dos Afogados

De: 25 de abril a 11 de maio de 2025. Terça a sábado, às 20h. Domingos e feriados, às 18h. Dia 10/05, às 16h, sessão extra.

R$ 21 | R$ 35 | R$ 70

Sesc Pompeia

Endereço: Rua Clélia, 93 Pompeia – São Paulo| SP

Telefone: (11) 3871-7700

https://www.sescsp.org.br/programacao/senhora-dos-afogados

Editado por Miguel Arcanjo Prado

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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