Festival de Curitiba celebra culinária negra ancestral na peça O Fim é Uma Outra Coisa

A mineira Zora dos Santos leva a arte da sua cozinha para um espetáculo do Festival de Curitiba © Annelize Tozetto Festival de Curitiba Blog do Arcanjo 2025

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

Enviado especial ao Festival de Curitiba

O Festival de Curitiba recebe um espetáculo musical que celebra a culinária ancestral preta e indígena: O Fim é Uma Outra Coisa, dirigido por Maurício Badé e apresentado na Mostra Lucia Camargo. A peça é inspirada na cozinha da pesquisadora mineira Zora dos Santos, que realiza uma célebre feijoada todo mês de março na Congada Treze de Maio em Belo Horizonte.

“Toda cozinha é uma grande orquestra”, afirma o diretor. Coube ao músico pernambucano transpor à música a sonoridade da cozinha de Zora dos Santos.

A atuação de Zora vai além do palco, sendo um convite a explorar a arte da cozinha em uma experiência sensorial profunda. “A sonoridade das coisas foi essencial para a construção da música”, comentou Zora, ao se referir aos sons do cotidiano culinário, como a faca cortando a tábua e o canto dos utensílios. “Como dizia minha avó: ‘cozinha e carnaval são brincadeiras sérias’”, afirmou.

A peça mergulha na memória afetiva e culinária de suas raízes. A diretora Grace Passô explicou que a dramatúrgica foi inspirada por uma vivência pessoal entre as duas.

Durante entrevista na Sala de Imprensa Ney Latorraca no Hotel Mabu, Zora relembrou os sabores e aromas de sua infância, destacando as cercas das casas de sua periferia, que mais do que simples divisórias, eram cercadas de plantas comestíveis como o ora-pro-nóbis, utilizado para barrar animais e alimentar famílias. Ela ainda compartilhou histórias sobre a urtiga cansanção, uma planta que as mulheres negras aprenderam a consumir de maneira segura, utilizando fubá para acompanhá-la com costelinha defumada.

Porém, Zora lamenta que, com a gentrificação, tais práticas estão desaparecendo. “Nem na periferia encontramos mais essas cercas comestíveis”, concluiu.

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Editado por Miguel Arcanjo Prado

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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