★★★★★ Crítica: Vestido de Noiva de Ione de Medeiros e Oficcina Multimédia impacta Tiradentes em Cena com aula teatral em noite de emoção
Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Enviado especial a São João del-Rei, Minas Gerais*
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VESTIDO DE NOIVA
Avaliação: Ótimo
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
Uma verdadeira aula de direção de um texto clássico de Nelson Rodrigues desenhada com o domínio da técnica teatral. Assim é possível resumir a apresentação do espetáculo Vestido de Noiva sob direção de Ione de Medeiros, vencedora do Prêmio APCA, no esquenta do Tiradentes em Cena – Mostra de Artes Cênicas, na noite desta quarta, 1º de maio. O evento realiza sua 11a edição de 2 a 5 de maio de 2024 com 25 espetáculos na cidade histórica mineira na região do Campo das Vertentes. A sessão inaugural com o espetáculo também indicado ao Prêmio Shell foi na cidade vizinha, no imponente Teatro Municipal de São João del-Rei, inaugurado em 1893, com seus quase 500 lugares ocupados. Pouco antes do começo da obra, a idealizadora e diretora do Tiradentes em Cena, Aline Garcia, se emocionou em seu discurso ao lembrar a importância da trajetória de Ione de Medeiros e celebrou a presença de seu Vestido de Noiva na programação. “É uma honra ter a Ione de Medeiros, do Grupo Oficcina Multimédia, com a gente, nesta edição. Ela é uma mulher que me mostra como é possível continuar na cultura. É uma alegria ver esse palco povoado de arte diante de uma plateia cheia”, disse, com voz embargada. “Sempre sonhei que o Tiradentes em Cena ocupasse este palco do Teatro Municipal de São João del-Rei, esta noite é um marco”, definiu. Com iluminação inebriante de Bruno Cerezoli, a versão do Oficcina Multimedia para Vestido de Noiva é um verdadeiro impacto estético, misturando realidade e fantasia de forma envolvente e repleta de poética teatral, com marcações inteligentes (e quase barrocas) e um elenco talentoso. Não custa lembrar que a peça de 1943 inaugurou o teatro moderno no Brasil, com a história da jovem Alaíde ao retratar o seu delírio entre a vida e a morte após um grave atropelamento no Rio de Janeiro. A envolvente e absolutamente segura Camila Felix e a intensa e precisa Priscila Natany brilham de forma descomunal em cena, sobretudo nos embates entre Alaíde e sua irmã, Lúcia, na disputa pelo mesmo homem. Também estão no palco os atores Henrique Torres Mourão, Júnio de Carvalho, Victor Velloso e Jonnatha Horte Flores, este último com maior destaque, por nuances interessantes na atuação e trabalho de voz impecável, sobretudo quando interpreta a lendária personagem Madame Clessi, já vivida pela icônica Norma Bengell na tecnológica montagem da Cia Os Satyros de 2008. A direção contemporânea de Ione de Medeiros também aposta no diálogo com o cinema, misturando o que acontece no palco a cenas audiovisuais surgidas em um telão ao fundo do mesmo – nas quais estão os atores Alana Aquino, Heloisa Mandareli, Henrique Torres Mourão, Hyu Oliveira, Jonnatha Horta Fortes e Thiago Meira – e também utilizando recursos como o uso de microfone e dublagem para enfatizar determinadas cenas. A precisão técnica da peça é soberba e todo o time técnico nos bastidores merece ser parabenizado, é perceptível que todos estão dentro da peça todo o tempo. Ione de Medeiros cria com seu Oficcina Multimédia em Vestido de Noiva um espetáculo fascinante e inebriante, capaz de dar um nó na cabeça de quem já viu Nelson Rodrigues, como muito bem definiu o fotógrafo teatral Bob Sousa. O espetáculo, com sua atmosfera surreal, descortina muito da mente humana e suas capacidades, expondo no palco verdades desconcertantes que fazem deste texto de Nelson Rodrigues atemporal e universal, com sua lasciva mistura de desejo, culpa, traição, delírio, vida e morte.
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VESTIDO DE NOIVA
Avaliação: Ótimo
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
*O jornalista Miguel Arcanjo Prado viaja a convite do Tiradentes em Cena.
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Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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