★★★★ Crítica: Traidor de Gerald Thomas com Marco Nanini é aula magna de poética teatral no Festival de Curitiba

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Enviado especial ao Festival de Curitiba*
★★★★
TRAIDOR
Avaliação: Muito Bom
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
É preciso respeitar quem nos ajudou a pavimentar a estrada que construímos. E o Festival de Curitiba, sabiamente dirigido por Leandro Knophfolz e Fabíula Passini, cumpre essa elegância. Prova disso é o espetáculo Traidor, um dos destaques de sua 32ª edição, com duas sessões esgotadas no Teatro Guairão com seus mais de 2.000 lugares. A obra, sabiamente enxuta para dialogar com os atuais tempos velozes, é escrita e dirigida por Gerald Thomas, nome fundamental na história do Festival de Curitiba, onde sempre foi uma figura de provocação estética e pessoal com suas montagens de nível internacional. Também autor da sublime concepção visual, Thomas transforma o espetáculo em variados quadros vivos, enquanto coloca na boca de um ator gigante sua verborragia. A obra cresce no encontro com a atuação magistral de Marco Nanini, capaz de criar nuances e graças inimagináveis para as duras palavras que diz, na pele de um homem em meio aos seus devaneios — ou seriam pesadelos, ou seriam sonhos? O público é transposto para um estado onírico que dialoga com a iluminação soberana e em mutação constante de Wagner Pinto e com a cenografia pungente, na qual se destaca um boneco gigante de Nanini amarrado, concebida por Fernando Passetti, com seus escombros e ruínas e até mesmo uma cafeteira ao léu. Em seu “quase monólogo” repleto de recados sutis desconcertantes, Nanini está acompanhado em cena dos atores Apollo Faria, Hugo Lobo, Marllon Fortunato e Wallace Lau, que são fundamentais na composição das cenas, com corpos abolutamente presentes e intensos — ponto para a direção de movimento de Dani Lima. Outra forte influência na encenação é a trilha e direção musical de Alê Martins, que cria suspensões e abismos em diálogo profundo com o texto pós-dramático de Thomas e com a luz de Pinto. A equipe ainda traz Samuel Kavalerski na assistência de direção, Fernando Libonati na direção de produção e Carolina Tavares na coordenação de produção. Conversando com temas contemporâneos, que vão desde a exaustão mental do homem diante das novas tecnologias até mesmo a uma ânsia por sexo, Traidor é um tributo de um grande diretor a um grande ator, em um encontro potente que torna-se uma aula magna de poética teatral e também e uma bela homenagem a estas duas trajetórias tão importantes para a história recente do teatro brasileiro e do Festival de Curitiba.
★★★★
TRAIDOR
Avaliação: Muito Bom
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
Nota do editor: Após o impacto no Festival de Curitiba, Traidor com Marco Nanini segue para o Rio de Janeiro, onde fica em cartaz no Teatro I Love PRIO de 4 a 28 de abril. Compre seu ingresso!
*O jornalista e critico Miguel Arcanjo Prado viaja a convite do Festival de Curitiba.
Blog do Arcanjo mostra cena e camarim de Traidor com Marco Nanini no Festival de Curitiba em fotos de Annelize Tozetto















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Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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