Caio Evangelista fala sobre perda da mãe e volta a The Boys in the Band: ‘Ela foi gigante e tento copiá-la’ – Entrevista do Arcanjo

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Idealizador, tradutor e ator do espetáculo The Boys in the Band – Os Garotos da Banda, dirigido por Ricardo Grasson e produzido por Zuza Ribeiro e sucesso desde outubro de 2023 no Teatro Procópio Ferreira, o ator Caio Evangelista começou o ano com uma notícia terrível: a perda de sua mãe. Diante do golpe incontornável da vida, ele precisou se afastar da obra por um tempo, para poder processar o luto. Após receber o carinho da produção e dos colegas de elenco, ele retornou ao espetáculo no último dia 17 de janeiro. O ator, que é ex-secretário de Cultura de Mauá, cidade na Grande São Paulo, conversou com exclusividade com o Blog do Arcanjo sobre este momento, a importância deste espetáculo e revelou por que faz teatro, lugar onde diz redesenhar-se. Leia a Entrevista do Arcanjo a seguir com toda a calma do mundo.

Miguel Arcanjo Prado – Por que você quis montar The Boys in the Band, uma peça de 1968? Foi um processo difícil?
Caio Evangelista – A minha intenção com The Boys in The Band foi e é um ato político. Sei que é arte e entretenimento, mas é uma tomada de posição a respeito do mal que “estar no armário” faz a qualquer homem e também o quanto constrangedor e violento e tirar algo do esconderijo, o quanto já toxidade na própria comunidade e como nos relacionamos atualmente é o quanto a heteronormatividade ainda castiga a comunidade lgbt+ dentre outros assuntos.

Miguel Arcanjo Prado – Você perdeu sua mãe recentemente. Ela chegou a ver a peça? Como você está lidando com o luto?
Caio Evangelista – Minha mãe faleceu dia 8 de janeiro, minha referência de mulher forte, que ressignificou a sua vida e constitui uma família gigante, mantendo a firmeza sem perder a ternura, tinha uma inteligência prática e não reclamava da vida. Por ela ser assim, encontrei forças para continuar. D. Rosalina Evangelista não chegou a ver a peça, já estava em tratamento paliativo quanto comecei a ensaiar, e o teatro foi uma válvula de escape. Ela se orgulhava de mim e comentava com médicos, enfermeiras com doce sorriso é um olhar de gratidão e orgulho. Ela foi gigante! Tento copiá-la.
Minha mãe, D. Rosalina Evangelista, foi gigante. Tento copiá-la.”
Caio Evangelista
ator
Miguel Arcanjo Prado – O restante do elenco e equipe da peça tem lhe dado apoio neste momento tão delicado?
Caio Evangelista – Toda a equipe dispensaram carinho, seguraram o prumo do barco, e eu e minha irmã (a produtora Zuza Ribeiro) agradecemos muitíssimo a todos, em especial ao ator Robson Catalunha, que me substituiu no momento mais difícil.

Miguel Arcanjo Prado -Você pretende que a peça tenha novas temporadas?
Caio Evangelista – Retornei ao elenco no dia 17 de janeiro e seguimos até 2 de fevereiro. E sim, a peça vai seguir uma terceira temporada pós-Carnaval e eu devo trocar de personagem. Mas ainda não posso dizer qual é.
Miguel Arcanjo Prado – Fale um pouco do seu personagem atual, o Larry, e quais foram suas referências na concepção do mesmo.
Caio Evangelista – O Larry tem algo de enfrentamento e nenhuma passividade frente às dissociações. Ele é claro e objetivo em sua credulidade no poliamor. Ele não quer convenções e defende isso com firmeza com seu corpo, voz e presença que reagem a tudo que acontece na cena, nada fica impune sem que ele reaja com um olhar, um movimento, construindo assim camadas em ver, ouvir, sentir sem construir nada pela forma e foi paulatinamente, gota a gota que ele nasceu, de maneira verdadeira dentro do jogo estabelecido pela direção.

Miguel Arcanjo Prado – Estamos vendo um boom de peças gays. Acha importante que a temática LGBTQIA+ esteja em cena?
Caio Evangelista – Super importante, não nos devemos calar, quando mais vozes melhor. Devemos colorir o mundo e construir utopias de paz, refazer o futuro, dar lição de civilidade e respeito.

Miguel Arcanjo Prado – Por que você faz teatro?
Caio Evangelista – Te-atro é ver o outro, se espelhar num espelho d’água, rir de si mesmo, se expor ao ridículo, nos redesenhamos, fazer terapia e nos salvar-nos.
Compre seu ingresso para The Boys in the Band no Teatro Procópio Ferreira em São Paulo!
Editado por Miguel Arcanjo Prado
Siga @miguel.arcanjo
Ouça Arcanjo Pod
Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
© Blog do Arcanjo por Miguel Arcanjo Prado | Todos os direitos reservados.