★★★ Crítica: Experimento Concreto questiona colorismo com peça-tese no Festival de Curitiba que faz pensar

Laís Machado em Experimento Concreto, que questionou o colorismo defendido por parte do movimento negro no 31º Festival de Curitiba © Humberto Araujo – Agência Daniel Sorrentino @festivaldecuritiba Blog do Arcanjo 2023

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

ENVIADO ESPECIAL AO FESTIVAL DE CURITIBA*

★★★
Experimento Concreto
Avaliação: Bom

A teoria do colorismo, pela qual as pessoas negras de pele mais escura sofrem mais racismo do que as de pele mais clara, é objeto de confronto na peça-tese Experimento Concreto, apresentada no 31º Festival de Curitiba na Mostra de Solos na Casa Hoffmann em dupla sessão no último domingo, 2 de abril.

A obra é uma realização da Plataforma Araká, formada pela dupla de artistas baianos Laís Machado e Diego Araúja, que assinam texto, direção, caracterização e arte da peça com iluminação de Luiz Guimarães e atuação de Laís.

No solo minimalista, a atriz faz o que define como “palestra-performance”, que visita a questão racial na formação do Brasil, sobretudo a partir da abolição da escravidão e da formação da República, no fim do século 19.

Citando autores renomados na temática, a peça foca no pardo, rememorando desde a imigração de europeus como forma de embranquecer a população brasileira até a violência policial atual contra negros, reconhecidos pelo IBGE como a somatória de pretos e pardos, fruto de árdua luta do movimento negro, já que é esta união que torna negros a maioria da população brasileira.

Se boa parte do recente movimento negro jovem atual adotou o colorismo como regra, sobretudo em posts que rendem farto engajamento nas redes sociais, o espetáculo busca justamente mostrar que o uso de tal tese pode ser perigoso para o próprio movimento negro e a população negra como um todo.

Já o colorismo levado a ferro e fogo provoca que pardos tenham medo novamente de assumir-se negros, podendo até mesmo sofrer perseguição por tal atitude, apelidados de “afrobeges” ou “afroconvenientes” por parte da militância.

O corajoso espetáculo, já aborda tema tão espinhento quanto as taças de cristal que a atriz quebra ao longo da encenação. associa a teoria colorista como aliada do mercado, com suas divisões de nichos para facilitar o consumo.

A peça-palestra, que se assemelha a uma defesa acadêmica com levíssimas pitadas teatrais, recorre à voz em off de Sueli Carneiro, grande nome do movimento negro no Brasil, criticando a visão do colorismo.

Ao fim, a atriz entrega um QR code ao público, para que possa acessar as referências bibliográficas do tema, instigando a leitura, o que é sempre salutar.

O público pode concordar ou não com a hipótese apresentada pela peça-tese, mas certamente sairá com vontade de refletir mais sobre o tema. Afinal, o teatro serve para fazer pensar, não é mesmo?

No livro argentino Martín Fierro, há um trecho excelente que diz: “Os irmãos sejam unidos, porque esta é a lei primeira. Porque, se brigam entre eles, os devoram os de afora”. A citação serve como metáfora que se encaixa perfeitamente na provocação de Experimento Concreto.

★★★
Experimento Concreto
Avaliação: Bom

Crítica por Miguel Arcanjo Prado

*O jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do Festival de Curitiba.

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Jornalista cultural influente e respeitado no Brasil, Miguel Arcanjo Prado é CEO do Blog do Arcanjo, fundado em 2012, e do Prêmio Arcanjo, desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e apresenta o Arcanjo Pod. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, R7, Record News, Folha, Abril, Huffpost Brasil, Notícias da TV, Contigo, Superinteressante, Band, CBN, Gazeta, UOL, UMA, OFuxico, Rede TV!, Rede Brasil, Versatille, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra o júri de Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de São Paulo, Prêmio Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil de Curtas. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação Nacional ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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