Crítica | Marlene Dietrich, Redentor tem apaixonado Christoph Fortmann em delicada proposta

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
O ator Christoph Fortmann e a atriz Marlene Dietrich tem muito em comum, a começar que nasceram na mesma cidade, em tempos históricos distintos. A Berlim que viu nascer aquela que seria uma das maiores estrelas da Alemanha e do cinema mundial no começo do século 20, ainda não destroçada pelas duas Guerras Mundiais, era bem diferente da Berlim dividida por um muro, entre Leste Capitalista e Oeste Comunista, e que viu nascer oito décadas depois o ator alemão que tece fortes laços com o Brasil.
No solo Marlene Dietrich, Redentor, Chirstoph Fortmann faz essa aproximação afetiva e estética com a estrela de sua cidade, e também com a arte de um tempo que passou, na busca da humanidade que ainda resta em nós. Ator de recursos sofisticados, Fortmann encarna a estrela na pele de um cover obcecado — e apaixonado — por sua musa, enquanto o mundo lá fora fica cada vez mais diferente e soturno.
Em direção conjunta com Marina Arthuzzi a partir de texto próprio traduzido para português por Mércia Costa, o artista constrói no palco com maestria essa angústia dilacerante de seu personagem — e a da própria homenageada. Afinal, a dor mais profunda é aquela que se vive. Para quem vê a obra em português, o charmoso sotaque alemão do ator deixa tudo mais interessante.

Ao traçar paralelos entre um artista desiludido e sem muitas perspectivas com a estrela hollywoodiana em decadência física e que se recusa a ser vista fora de seu auge, Fortmann cria subterfúgios para uma análise da própria situação do teatro no mundo contemporâneo. Para os mais céticos, o teatro é visto como algo démodé e que dialoga cada vez com menos gente, para outros, os dotados de maior grau de sensibilidade, o teatro é uma perene forma de expressão humana do sublime. E isso, neste espetáculo, é reforçado pela atuação sutil de Fortmann e pela luz propositiva de Guilherme Morais.
Ao trazer tal delicadeza de Marlene Dietrich, Redentor para o palco da Sala Alberto Guzik da SP Escola de Teatro na Praça Roosevelt, epicentro cultural paulistano, Christoph Fortmann estabelece pontes concretas entre o teatro alemão e o teatro brasileiro, reforçando a humanidade tão frágil que habita em cada um de nós.
Ponto positivo para a ação da Adaap, gerida por Ivam Cabral, e que deu ao artista internacional a missão de inaugurar a programação 2022 da SP Escola de Teatro, sob curadoria e coordenação de Extensão Cultural deste crítico e produção executiva de Rodrigo Barros.
Que esta estrada aberta por este intrépido artista berlinense, sedento por novos mundos e sotaques, seja profícua e prazenteira àqueles que cruzarem seu caminho. Afinal, o teatro só tem sentido quando feito com amor. E, obviamente, é o amor que faz mover Christoph Morais Fortmann em seu inesquecível encontro com Marlene Dietrich e, obviamente, com o Brasil.

Marlene Dietrich, Redentor
de Christoph Morais Fortmann
Avaliação: Muito Bom ✪✪✪✪
Crítica por Miguel Arcanjo Prado

Editado por Miguel Arcanjo Prado
Siga @miguel.arcanjo
Ouça Arcanjo Pod
Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
© Blog do Arcanjo por Miguel Arcanjo Prado | Todos os direitos reservados.
1 Resultado
[…] em Belo Horizonte e em São Paulo, na SP Escola de Teatro, de seu solo Marlene Dietrich, Redentor [leia a crítica]. Na obra, com delicadeza e sofisticação, encarna um artista em busca de sua diva, Marlene […]