Oscar na Globo derrapa com falas sobre ator negro e diretor coreano

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
A Globo foi infeliz em sua cobertura da 93ª edição do Oscar e reproduziu, mesmo que involuntariamente, pensamentos racistas estruturais contra negros e orientais em sua transmissão. Justamente em um ano que a festa mais importante do cinema buscou se abrir à diversidade entre indicados e vencedores.
A Globo já entrou no ar atrasada, praticamente com o Oscar em seus minutos finais, seguindo para um “melhores momentos”, que na verdade poderia ter se chamado “piores momentos”.
Talento negro minimizado
O comentarista Artur Xexéo foi no mínimo infeliz ao dizer que o único ator negro vencedor na noite, Daniel Kaluuya, melhor ator coadjuvante pelo filme Judas e o Messias Negro, não serviria para fazer “papéis suaves”. Segundo Xexéo, o britânico de 32 anos tem os “olhos arregalados” e que só serviria para fazer papéis “fortes”.
Só faltou o jornalista da Globo dizer que o ator negro só servia para papéis violentos e raivosos; foi o que deixou subtendido. Mais racismo estrutural, impossível.
Siga @miguel.arcanjo
Durante a transmissão, Xexéo também chamou Dira Paes, sua colega na cobertura, de “Dilma”, confundindo a atriz com a ex-presidente.
Leia artigo sobre o caso.

Diretor coreano vira ditador
Outra falha involuntária que acabou explicitando o racismo estrutural que os orientais enfrentam no Ocidente foi quando a apresentadora Maria Beltrão chamou erroneamente de Kim Jong-un, nome do ditador da Coreia do Norte, o diretor de Parasita, o sul-coreano vencedor do Oscar Bong Joon-ho.
O ato falho ocorreu justamente no ano em que uma coreana venceu como melhor atriz coadjuvante: Yuh-Jung Youn, do filme Minari. Em seu discurso, a artista asiática lembrou que no Ocidente as pessoas não sabem pronunciar seu nome e que sua vitória se devia a uma “hospitalidade americana para uma atriz coreana”. Pelo jeito, a hospitalidade na Globo para a diversidade não foi a mesma.
Kim Jong Un vencedor do Oscar do ano passado
— Leví Kaique Ferreira (@LeviKaique) April 26, 2021
pic.twitter.com/AlkyFvsDrE
‘ele é um bom ator pra papel forte, ele tem o olho arregalado’
— Ray, a piranha independente (@amaedojoaquim) April 26, 2021
Muito que bem, coitados dos sul coreanos
Globo a cada ano se supera com os comentaristas
Xexéo dizendo que gostaria de ver Daniel Kaluuya, que ele descreve como um ator físico, em um papel mais suave. Ué, mais suave do que em “Corra”, no qual Daniel é pura contenção? 🤷♂️ pic.twitter.com/e1LS9jEOJQ
— Jeff Nascimento (@jnascim) April 26, 2021
Mano que papo torto é esse do Arthur Xexéo falando do Daniel Kaluuya?
— 𝔓𝔢𝔱𝔯𝔦𝔠𝔥𝔬𝔯. 🎓 (@_kitsunetsuki_) April 26, 2021
“Ele tem esse olho arregalado, acho que seria dificil pra ele atuar em papeis suaves” QUE ISSO, tá doido Xexeó, que frase é essa? #Ocar
— Shel (@ShelidaSilverio) April 26, 2021
Siga @miguel.arcanjo
Inscreva-se no canal Blog do Arcanjo

O jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado é mestre em Artes pela UNESP, pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, bacharel em Comunicação Social pela UFMG e crítico da APCA, da qual foi vice-presidente. Dirige o Blog do Arcanjo e o Prêmio Arcanjo. Coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e faz o Podcast do Arcanjo. Está entre os melhores jornalistas de Cultura do Brasil pelo Prêmio Comunique-se e Prêmio Governador do Estado de São Paulo. Passou por Globo, Record, R7, Record News, Folha, Abril, Contigo, Superinteressante, Band, Gazeta, UOL, Uma, Rede TV!, TV UFMG e O Pasquim 21. É jurado das premiações Prêmio Arcanjo de Cultura, Melhores do Ano Blog do Arcanjo, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio Destaque Digital, Melhores do Ano Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil de Curtas. É vencedor dos Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação Nacional ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã e Prêmio África Brasil. Foto: Edson Lopes Jr.
© Blog do Arcanjo – Entretenimento e Cultura por Miguel Arcanjo Prado | Todos os direitos reservados.
