Morre Berta Zemel, lendária atriz da TV, teatro e cinema

Por Miguel Arcanjo Prado

Atriz lendária do teatro, cinema e televisão no Brasil, Berta Zemel morreu aos 86 anos na última quinta, 25, vítima de complicações respiratórias, apurou o Blog do Arcanjo. Ela havia sido internada no Hospital Santa Catarina, em São Paulo, em função de dificuldades respiratórias, e foi diagnosticada com uma broncopneumonia. A artista chegou a ser encaminhada para a UTI, mas não resistiu. Seu corpo foi enterrado na última sexta, 26, no Cemitério São Luiz, na zona sul paulistana. A morte da grande artista provocou comoção nos profissionais da cultura.

Berta Zemel e Tony Ramos como mãe e filho na novela Vitória Bonelli, protagonizada por ela na TV Tupi em 1972; à direita, eles contracenam com Etty Fraser no folhetim – Fotos: Divulgação – blogdoarcanjo.com

Ao saber pelo Blog do Arcanjo, por telefone, da morte de Berta Zemel, o ator Tony Ramos demonstrou forte emoção. “Fiz seu filho em Vitória Bonelli, em 1972. Fizemos juntos este lindo trabalho. Foi uma novela maravilhosa do Geraldo Vietri, e eu conheci mais de perto essa grande atriz chamada Berta Zemel. É uma notícia muito triste que você me dá, Arcanjo. Vou falar com a Lidiane [Barbosa, esposa de Tony] e outros amigos nossos, que certamente ficarão entristecidos com essa notícia”, disse Tony Ramos.

O ator prosseguiu: “A morte de Berta Zemel é uma pena, meu Deus, que saudade! O Brasil perde uma das suas maiores atrizes e uma das grandes professoras de teatro que nosso país teve. Ela foi uma mestra absoluta no que diz respeito às aulas teatrais. Durante muito tempo, com seu marido Woney de Assis, ela fez muitos cursos. Era uma atriz fantástica”, afirmou Tony Ramos.

A morte de Berta Zemel é uma pena, meu Deus, que saudade! O Brasil perde uma das suas maiores atrizes, e uma das grandes professoras de teatro que nosso país teve”, TONY RAMOS, ator.

Etty Fraser, Berta Zemel, Tony Ramos e Flamínio Fávero na novela Vitória Bonelli, em 1972, sucesso da TV Tupi – Foto: Divulgação – blogdoarcanjo.com

Nascida em São Paulo em 6 de agosto de 1934, Berta Zemel foi aluna do grande teatrólogo russo-ucraniano radicado no Brasil Eugênio Kusnet (1898-1975), que hoje dá nome ao Teatro de Arena, no centro paulistano. Ela ainda interpretou a mãe de Tony Ramos na extinta TV Tupi, na qual contracenaram na novela Vitória Bonelli entre 1972 e 1973, trama em que Carlos Alberto Riccelli também vivia um de seus filhos.

A atriz dava aulas na Cia. de Teatro, junto de Wolney de Assis, mas também foi uma das criadoras da função de coaching para atores, dando aula em sua casa para muitos artistas famosos, contribuindo para que melhorassem suas atuações. Elegante, jamais revelou o nome desses alunos célebres.

Berta Zemel estudou na Escola de Arte Dramática (EAD) e estreou profissionalmente em 1956 com a peça Hamlet, clássico de William Shakespeare, no Teatro Sergio Cardoso, que na época ainda se chamava Teatro Belo Vista.

Ela foi casada com o ator e diretor Wolney de Assis (1937-2015), com quem fundou o Teatro Móvel de São Paulo, que além de produzir e viajar pelo Brasil com espetáculos, também ministrava cursos de formação de ator.

Berta Zemel como a protagonista da novela Vitória Bonelli na TV Tupi, à frente dos seus quatro filhos na trama, interpretados por Flamínio Fávero, Carlos Alberto Ricelli, Tony Ramos e Annamaria Dias – Foto: Divulgação – blogdoarcanjo.com

Em 1972, Berta Zemel protagonizou a novela Vitória Bonelli, escrita por Geraldo Vietri, na TV Tupi. O folhetim fez estrondoso sucesso, chegando a alterar o horário de missas e de sessões de cinema entre setembro de 1972 e julho de 1973. Na obra, era Vitória, uma mãe de quatro filhos que permaneceu 20 anos reclusa e vive fora da realidade. Seus filhos eram interpretados por Flamínio Fávero, Carlos Alberto Ricelli, Tony Ramos e Annamaria Dias.

A partir da morte do marido e da derrocada econômica de seu lar, a personagem precisa encarar a realidade. Após muito sofrimento, abre uma cantina para a sobrevivência da família, sendo precursora da mulher empoderada e que não depende de homem para viver. Até hoje Vitória Bonelli é considerado seu melhor trabalho para a TV.

Laura Cardoso e Berta Zemel na novela Os Apóstolos de Judas, na TV Tupi, em 1976 – Foto: Divulgação – blogdoarcanjo.com

Em 1976, também na TV Tupi, viveu a correta professora Berenice na novela Os Apóstolos de Judas, também de Geraldo Vietri, na qual contracenava com Laura Carodoso e nutria uma paixão pelo protagonista vivido por Jonas Melo. Sua atuação na novela rendeu críticas positivas à atriz junto à crítica especializada.

Berta Zemel em reportagem da revista Amiga sobre sua personagem Berenice em Os Apóstolos de Judas na TV Tupi em 1976 – Foto: Divulgação – blogdoarcanjo.com

Depois de viver a costureira Rosa Aparecida dos Santos na peça A Volta do Messias, de Timochenco Wehbi, montada em 1975, ficou 25 anos sem atuar. Ela só voltou aos palcos em 2000, quando resolveu encenar a vida da médica psiquiátrica alagoana Nise da Silveira (1905-199) sob direção de Luiz Valcazara.

Cartaz da peça Anjo Duro, que rendeu para Berta Zemel o Prêmio APCA de Melhor Atriz em 2000 – Foto: Divulgação – blogdoarcanjo.com

Seu retorno aos palcos foi aclamado no 9º Festival de Teatro de Curitiba, em 2000, onde a peça estreou no emblemático Teatro Paiol. A obra lhe rendeu o Prêmio APCA de Melhor Atriz em 2000 e indicação ao Prêmio Shell, também como Melhor Atriz.

No cinema, fez atuações marcantes em filmes como Desmundo, de 2002, dirigido por Alain Fresnot, no qual deu vida a dona Branca e acabou conquistando o Troféu Candango de Melhor Atriz coadjuvante na 35ª edição do Festival de Brasília.

Berta Zemel em Desmundo, que lhe rendeu o Troféu Kandango no 35º Festival de Brasília em 2002 – Foto: Divulgação – blogdoarcanjo.com

Depois, atuou com desatque no filme O Casamento de Romeu e Julieta, de Bruno Barreto, diretor já indicado ao Oscar. O longa foi gravado em 2004 e lançado em 2005. Nele, interpretou a personagem Nenzica e contracenou com o ator Leonardo Miggiorin.

Leonardo Miggiorin e Berta Zemel no filme O Casamento de Romeu e Julieta, de Bruno Barreto – Foto: Divulgação – blogdoarcanjo.com

Já em A Casa de Alice, filme de 2007, fez Dona Jacira, a mãe da protagonista Alice, vivida por Carla Ribas no filme de Chico Teixeira que foi destaque no Festival de Cinema de Berlim.

Berta Zemel, em primeiro plano, ao lado do diretor Chico Teixeira nas filmagens do longa A Casa de Alice, que estreou no Festival de Berlim – Foto: Divulgação – blogdoarcanjo.com

Wolney de Assis e Berta Zemel não tiveram filhos. Dedicaram suas vidas ao fazer teatral, a formar atores e diretores, deixando legado inestimável ao teatro, cinema e televisão.

O Blog do Arcanjo envia os sentimentos à família e aos amigos de Berta Zemel.

Colaborou Ester Lopez, da CentauroPress.

O Blog do Arcanjo mostra a seguir a última entrevista da atriz:

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Miguel Arcanjo Prado é jornalista, mestre em Artes pela UNESP, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela ECA-USP e bacharel em Comunicação Social pela UFMG. Eleito três vezes pelo Prêmio Comunique-se um dos melhores jornalistas de Cultura do Brasil. Nascido em Belo Horizonte, vive em São Paulo desde 2007. É crítico da APCA, da qual foi vice-presidente. Passou por Globo, Record, Folha, Contigo, Editora Abril, Gazeta, Band, Rede TV e UOL, entre outros. Desde 2012, faz o Blog do Arcanjo, referência no jornalismo cultural. Em 2019 criou o Prêmio Arcanjo de Cultura no Theatro Municipal de SP. É coordenador de Extensão Cultural e Projetos Especiais da SP Escola de Teatro, colunista do Notícias da TV e faz o Podcast do Arcanjo em parceria com a OLA Podcasts. Foto: Edson Lopes Jr.

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