Morre Michel Fernandes, criador do Aplauso Brasil e ícone do teatro

Michel Fernandes (1975-2020) – Foto: Arquivo Blog do @miguel.arcanjo

Morreu o jornalista e crítico teatral Michel Fernandes neste domingo (17) aos 45 anos. Segundo pessoas próximas, ele foi vítima de um infarto.

Fernandes era crítico membro da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), onde tinha uma forte atuação, sempre na defesa apaixonada do teatro.

Também foi idealizador do site Aplauso Brasil, que nos últimos oito anos se desdobrou no Prêmio Aplauso Brasil, bastante disputado e prestigiado pela classe teatral paulistana.

Ator mostra foto antiga com Michel Fernandes

O crítico e jornalista Michel Fernandes (1975-2020) – Foto: Arquivo Blog do @miguel.arcanjo

Michel Fernandes possuía formação em Artes Cênicas no Célia Helena Centro de Artes e Educação, uma das mais tradicionais instituições artísticas da capital paulista.

Crítico apaixonado pelo teatro e o ofício do ator, seu olhar aguçado sempre foi disputado pelos artistas, dramaturgos e diretores.

Pioneiro na cobertura teatral online, fez grandes coberturas, como do Festival de Teatro de Curitiba, maior evento cênico da América Latina, onde sua presença era sempre festejada.

Michel Fernandes recebe flore seu companheiro Gilberto Muniz no Prêmio Aplauso Brasil de Teatro – Foto: Arquivo Blog do @miguel.arcanjo

Em seus últimos anos, com a saúde fragilizada, recebeu os cuidados de seu companheiro, Gilberto Muniz, sempre ao seu lado nas estreias teatrais e também no Prêmio Aplauso Brasil.

Cadeirante, Michel Fernandes ainda foi um ferrenho defensor da acessibilidade em nossos teatros.

O teatro brasileiro entra em luto neste domingo com a perda de uma de suas figuras mais notáveis na contemporaneidade. Michel Fernandes dedicou toda a sua vida ao teatro. E o teatro deve muito a ele. Por isso, choramos todos sua tão precoce partida nestes dias tão tristes que vivemos.

Michel Fernandes merece virar nome de teatro em São Paulo. É o mínimo diante de toda a dedicação que ele teve a essa arte, ao teatro paulistano e brasileiro. Que os nossos governantes façam, num futuro próximo, esta justa homenagem.

A saída de cena de Michel Fernandes é uma grande perda para a crítica teatral de São Paulo. Fiquei sabendo que ele estava muito angustiado com as salas de teatro fechadas. Michel era um dedicado membro da APCA e sempre lutou bravamente pelas coisas em que acreditava. Uma delas era o teatro e a outra, sem dúvida, era a sua própria vida, que insistia em dificultar sua caminhada. Estamos todos, artistas e críticos, muito tristes com a sua partida.”, CELSO CURI, presidente da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes)

Veja a repercussão da morte de Michel Fernandes na classe artística:

Michel Fernandes e Kyra Piscitelli: amizade que marcou os bastidores do teatro – Foto: Arquivo Blog do @miguel.arcanjo

O Michel Fernandes foi referência não só para o teatro, mas ele era a encarnação da esperança e da resistência. Driblou todos os desafios e nãos da vida. Achou na arte a forma sublime de sobreviver. Ele movimentou o teatro em uma cadeira. O perdemos em meio a uma Guerra silenciosa. Ele não morreu por causa da guerra, pois não foi e não será um homem comum. A esperança que ele era fica em nós.”, KYRA PISCITELLI, jornalista, crítica da APCA e do site Aplauso Brasil criado por Michel Fernandes.

Para mim o Michel Fernandes era mais que um exemplo de vida, de luta e de amor. Eu nunca conheci ninguém mais apaixonado pela vida e pelo trabalho do que o Michel. Ele me inspirava sempre, era um norte para mim. Nossa relação começou no início da chegada do Satyros na praça Roosevelt em 2001. Nossa relação foi muito intensa, viajamos juntos, ele dormia na minha casa às vezes. Ele foi muito especial para mim. Ele me homenageou no Prêmio Aplauso Brasil de Teatro ao lado de nomes como Etty Fraser, Renato Borghi e Ruth de Souza. Lembro que achei aquilo meio louco, mas recebi com um amor e uma gratidão muito profunda. Ele era um norte para gente continuar lutando. Michel Fernandes foi um grande vencedor. Se me perguntassem de alguém que venceu na vida, meu exemplo seria Michel Fernandes. Ele lutou contra todas as adversidades e conquistou um espaço muito sagrado. Vai fazer muita falta.”, IVAM CABRAL, ator, cofundador da Cia. de Teatro Os Satyros e diretor da SP Escola de Teatro.

Michel Fernandes foi um dos primeiros críticos e amigo dos Satyros quando chegamos a Praça Roosevelt. Ele acompanhou de perto nossos primeiros anos, foi amigo íntimo. Muitas coisas vivemos juntos. Uma vez, de férias, fomos juntos a Paraty. Ele participava de tudo, mesmo com as limitações do seu corpo. Um dia, fomos passear de barco pelas ilhas próximas e todos colocaram coletes salva-vidas e se jogaram no meio do mar, ao lado de peixes. Ele pediu para entrar. Há muitos anos não sabia o que era a água do mar. Pusemos o colete nele e ele foi jogado no mar. O rosto dele naquele momento era a expressão mais absoluta de felicidade que vi na vida. Ele se jogava no mundo e no teatro com uma paixão admirável. Uma perda enorme.” RODOLFO GARCÍA VÁZQUEZ, diretor da Cia. de Teatro Os Satyros.

Michel Fernandes era feito de coragem para enfrentar a vida superando seus limites.Era feito de amor pelo Teatro, e pelos seus atores e nos honrava acima de tudo .Era feito de sinceridade e manifestava tudo o que pensava porque exigia rigor no palco .Era feito de doçura e lucidez.Era único, era raro , sua paixão profunda por nossa Arte se confundia com a própria vida..Hoje as honras são para o Michel .Seu coração baterá para sempre em todos os palcos.” TUNA DWEK, atriz.

Em meio a tudo isso, ainda por cima, perdemos Michel Fernandes, o menino de outro que conhecemos há muito, muito tempo. Sua morte foi suave, assim como era. E gentilmente será levado ao céu, onde encontrará outras estrelas que tiveram o privilégio de serem entrevistadas por esse jornalista apaixonado por seu ofício. Eu choro por você, Michel, eu choro por nós, que não o teremos mais em nossas vidas, em nossos teatros. Voa, garoto, voa!”, CÉLIA FORTE, assessora e produtora teatral.

Michel Fernandes foi um bravo guerreiro do teatro brasileiro (e de nossa cultura como um todo), atuando em uma frente muitas vezes não tão valorizada, mas que é fundamental para a existência dessa arte: sua divulgação e a elaboração de um pensamento crítico de dimensão histórica sobre os espetáculos. Quando comecei a atuar na cobertura teatral em São Paulo, em 2007, Michel já era uma grande referência na área, com seu site Aplauso Brasil, pioneiro na cobertura teatral online. Lembro que nosso primeiro contato foi quando o convidei para ser jurado do 1º Prêmio Contigo de Teatro, no qual estive na organização. Nos últimos anos, seu nome ganhou ainda mais prestígio e peso na cena com a criação em 2012 do Prêmio Aplauso Brasil de Teatro, que se tornou grande referência em sua área. Ele também deixa sua marca na história da APCA, onde sempre foi um dos críticos mais apaixonados nas votações do prêmio concedido pela tradicional entidade da qual já é um membro histórico. Ter Michel Fernandes como meu contemporâneo e mestre na cobertura e crítica teatral foi um grande privilégio e ele abriu muitas portas. O teatro sem ele fica mais pobre e mais triste. Michel Fernandes nos fará muita falta.” MIGUEL ARCANJO PRADO, jornalista e crítico da APCA, criador do Blog do Arcanjo e do Prêmio Arcanjo de Cultura.

Michel foi exemplo de perseverança. Manteve o site Aplauso Brasil, muitas vezes, sem nenhum patrocínio ou apoio, e sempre marcando presença nas estreias teatrais. O Prêmio Aplauso Brasil é a maior demonstração de sua força. Força de vontade para realizar e a capacidade de reunir uma constelação de personalidades consagradas que faziam questão de ir à cerimônia para prestigia-lo”. ADRIANA BALSANELLI, assessora teatral.

Uma tristeza essa notícia. Michel Fernandes nos transmitiu todo seu amor pelo teatro e sobretudo pelos artistas. Primava pela valorização do artista. Faz parte da nossa história. Em tempos tão duros, nos deixa essa mensagem. Figura inesquecível.” RAPHAEL GARCIA, ator e cofundador do Coletivo Negro.

O Michel Fernandes parecia incansável. Tinha tantas lutas pra encampar em seu cotidiano – e não desistia de nenhuma! Insistiu em fazer do teatro brasileiro um lugar digno, em dar voz a artistas, técnicos e criativos. Como atriz e jornalista, eu o vi brigando muito pra que houvesse responsabilidade na hora de tratar da arte. E escreveu seu nome na história.”, VANESSA RODRIGUES, atriz.

Estou arrasada, muito triste mesmo, com a partida do Michel Fernandes. Ele foi me ver no espetáculo Entrevista com Phedra e jamais me esqueço do tanto que ele se emocionou e veio me abraçar chorando ao fim, dizendo que eu havia tocado ele com a homenagem à nossa amiga Phedra D. Córdoba. Estou muito triste com essa morte repentina de um talento tão jovem do nosso teatro, da crítica e do jornalismo.” MÁRCIA DAILYN, atriz.

Michel Fernandes posa com os colegas críticos da APCA – Foto: Edson Lopes Jr. Blog do @miguel.arcanjo

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4 Resultados

  1. Paulo Faria disse:

    É de muita tristeza tão grande ler essa notícia, como sempre tão bem escrita. Imagino a sua dor Miguel. Um abraço enorme.

  1. 18/05/2020

    […] Cabral homenageou o jornalista e crítico Michel Fernandes, que morreu neste domingo (17), aos 45 anos. O ator e cofundador da Cia. de Teatro Os Satyros publicou nas redes sociais […]

  2. 22/05/2020

    […] jornalista Michel Fernandes, que morreu no último domingo aos 45 anos vítima de um infarto, ganhará uma homenagem digital neste sábado (23). A cerimônia está […]

  3. 27/05/2020

    […] Morreu Carlos Eduardo Colabone, aos 60 anos, nesta terça (26). O artista atuou como cenógrafo, figurinista e carnavalesco em São Paulo, e ainda foi jurado dos prêmios Shell e Aplauso Brasil, ambos dedicados às artes cênicas. A morte foi comunicada nas redes sociais na manhã desta quarta (27) por sua irmã, Marta Colabone. A causa da morte não foi divulgada pela família, que informou que o corpo será sepultado em Rio Claro, interior de São Paulo, em cerimônia íntima.Em sua trajetória artística, Colabone trabalhou no Teatro de Arena e no Grupo Tapa, entre outras companhias. Foi parceiro profissional de diretores como Fauzi Arap, Francisco Medeiros, Eduardo Tolentino de Araújo, Fernando Peixoto e Roberto Mallet, entre outros. Era formado em Artes Plásticas pela Faap (Fundação Armando Alvares Penteado).Ele ainda atuou no mundo musical, produzindo cenografia para shows de artistas como Zezé Motta e Belchior, e do Carnaval, atuando como carnavalesco das escolas paulistanas Rosas de Ouro, Águia de Ouro e X-9 Paulistana. Colabone ainda atuava como professor de Artes do Colégio Santa Maria, onde aproximou diversas gerações de estudantes ao mundo artístico, e comandava com seu companheiro, Alex Galvão, o café do Instituto Capobianco, no centro paulistano. No mesmo espaço, atuou em 2019 na peça Reflexo Guimarães, com texto de Alessandro Toller e direção de Gonzaga Pedrosa. Em 2017, o artista dirigiu a peça Tempo de Viver, apresentada no Centro Cultural São Paulo.“Carlos Colabone era atento ao teatro e assíduo apaixonado. Estão duros esses tempos. No tempo em que integrou o júri defendia com propriedade suas escolhas e opiniões. Como também era professor, levava uma didática carinhosa em tudo. O Colabone como cenógrafo e figurinista levou seu conhecimento técnico aos prêmios e representava uma parte importante do teatro que nem sempre se vê. Faz falta”, declarou sobre ele ao Blog do Arcanjo Kyra Piscitelli, jornalista, crítica da APCA e jurada do Prêmio Aplauso Brasil.A morte de Carlos Colabone acontece no mesmo mês em que o teatro perdeu também o jornalista, crítico e criador do Prêmio Aplauso Brasil de Teatro Michel Fernandes. […]

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