Crítica: Eduardo Martini faz homenagem cativante em A Rainha do Rádio

Os atores Públio Gimenes, Viviane Alfano e Eduardo Martini em A Rainha do Rádio: com homenagem delicada ao nosso passado, espetáculo tem sessões no Teatro Viradalata, em SP – Foto: William Aguiar – Divulgação – Blog do Arcanjo – UOL

Todos nós sabemos que o Brasil é um país sem memória, sobretudo quando se trata de seus artistas do passado. O que é profundamente lamentável. Diante disso, é uma verdadeira satisfação assistir ao cativante espetáculo “A Rainha do Rádio”, texto e direção acertados de Eduardo Martini que volta ao cartaz em São Paulo no charmoso Teatro Viradalata, aos sábados, às 21h30, e domingo, às 19h.

A montagem narra, de modo romântico e musicado, as peripécias de Elenice, interpretada com desenvoltura e candura por Viviane Alfano — colega cênica de Martini há mais de três décadas, desde que dividiram o palco no histórico musical “A Chorus Line”, produzido por Walter Clark em 1983 e que lançou ainda Claudia Raia.

Viviane dá vida a uma ouvinte daquelas que já não se fazem mais. Do tipo de sonha e interage com a voz do locutor que soa diariamente em sua casa e que vê, em um dia, o próprio rádio se materializar em sua frente, papel desempenhado com competência por Eduardo Martini, em uma saborosa criação com pitada de realismo fantástico típico de nossa literatura latino-americana.

A partir deste encontro, o romantismo daqueles tempos simples paira no ar. A obra encontra lugar ainda para Públio Gimenes, em uma atuação divertida e carismática, compondo o trio que entoa clássicos de nosso cancioneiro. O clima ainda é mais intenso graças ao cenário e figurino que demonstram pesquisa farta de época assinados por Martini. Ver a peça é entrar em um antigo álbum de família.

Os atores Públio Gimenes, Viviane Alfano e Eduardo Martini em A Rainha do Rádio, que presta tributo à nossa história artística – Foto: William Aguiar – Divulgação – Blog do Arcanjo – UOL

É como se todos fôssemos transportados novamente para uma aura de inocência, onde o afeto, e não o comércio, prevalecia na relação proposta por este histórico meio de comunicação, o rádio, em sua era de esplendor, repleto de vozes de artistas potentes e altamente dedicados aos seus ouvintes do mesmo modo que Martini é ao seu público.

Diante desta peça, os mais velhos vão sentir uma nostalgia gostosa daqueles tempos que não voltam mais e, com certeza, reviverão grandes momentos de suas vidas, ouvindo aquelas canções ou mesmo aqueles antigos jingles comerciais.

Já os mais novos têm a chance de adentrar em um lirismo que alta velocidade pós-moderna e tecnológica nos roubou. E conhecer composições de nomes fundamentais como Adoniran Barbosa, Pixinguinha, Carmen Miranda e Dalva de Oliveira. Abrir os ouvidos para além de Anitta, Pabllo Vittar e Marilia Mendonça. Isso faz um bem danado.

Assim, na cuidadosa produção fruto da parceria de Martini, Valdir Archanjo e Bira Saide, todos se unem para reverenciar o passado artístico deste Brasil que, graças a espetáculos como este, tem a dádiva de, pelo menos em uma agradável sessão teatral, reviver sua tão combalida memória.

Crítica por Miguel Arcanjo Prado
“A Rainha do Rádio”
Avaliação: Muito Bom ✪✪✪✪

Quando: Sábado, 21h30, domingo, 19h. 70 min. Até 30/9/2018
Onde: Teatro Viradalata (r. Apinajés, 1387, Sumaré, SP)
Quanto: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia)
Classificação etária: 10 anos

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