Crítica: Roleta-Russa expõe jovem elite covarde e medíocre

Virgínia Castellões enfrenta Helio Souto em cena de “Roleta-Russa”: a atriz é o grande destaque da peça – Foto: Leekyung Kim/Divulgação

Por Miguel Arcanjo Prado

Nove jovens que representam bem uma elite medíocre e egoísta, que não consegue fazer nada além do que enxergar o vazio de seu próprio umbigo, se enfurnam em um porão para se matar. Para isso, utilizam o macabro jogo da roleta-russa, enquanto se engalfinham e reiteram estereótipos e preconceitos sociais contra o gay e a mulher.

Este é o mote da peça “Roleta-Russa”, adaptação do livro “Suicidas” do escritor carioca Raphael Montes — que ganha mostra com duas peças adaptadas de sua literatura no Espaço Parlapatões, em São Paulo, com “Roleta-Russa”, aos sábados, 21h, e “Dias Perfeitos”, aos domingos, 20h, até o fim de outubro.

Dirigida por César Baptista, que já foi assistente de diretores consagrados como Antunes Filho e Gabriel Villela e que trilha seu próprio caminho a partir desta montagem de sucesso junto ao público, sobretudo o jovem, a encenação aposta na construção de um thriller psicológico que deixa a plateia de sobressalto a cada angustiante disparo de revólver.

O ponto de vista da história é o de um jovem escritor, Ale, que pensa ser o mais grande talento da nova geração literária, uma ideia, obviamente, que não passa de um delírio subjetivo do personagem interpretado por um correto Dan Rosseto.

Contudo, quem aparentemente manipula tudo ao seu redor é o playboy Zac, vivido por Helio Souto, que empresta seu corpo-poder de macho alfa opressor para subjugar, pela artimanha do desejo alheio, todos ao redor, mesmo que, na verdade, o personagem esteja trancado em um armário repleto de hipocrisia, covardia e, claro, muita maldade. Tudo com a conivência de seus cúmplices naquele porão.

Atriz se destaca

O grande destaque do elenco chama-se Virgínia Castellões. Atriz potente que rouba a cena a cada fala, preenchendo todo o teatro com seu talento e verdade, ela interpreta Waléria, a personagem com o mais coerente ponto de vista dentro da história — se é que se pode ter alguma coerência dentro daquele fétido porão.

O restante do elenco, em alguns momentos, cai na armadilha de embarcar em fórmulas prontas, mas é evidente a entrega vigorosa de todos. Ainda estão em cena Diogo Pasquim, Emerson Grotti, Felipe Palhares, Gabriel Chadan e Lorrana Mousinho.

E é essa entrega dos atores aliada ao suspense do texto reforçado pela direção que faz segurar o longo espetáculo — um corte incisivo teria feito bem à encenação, deixando-a menos reiterativa e com mais dinamismo e fôlego.

De todo modo, “Roleta-Russa” prende a atenção do espectador e se destaca com sua proposta de fazer o difícil teatro de suspense, gênero de sucesso no cinema, mas ainda raro em nossos palcos.

“Roleta-Russa” ✪✪✪
Avaliação: Bom
Quando: Sábado, 21h. 120 min. Até 28/10/2017
Onde: Espaço Parlapatões – Praça Roosevelt, 158, Consolação, metrô República, São Paulo, tel. 11 3258-4449
Quanto: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia)
Classificação etária: 16 anos

Siga Miguel Arcanjo Prado no Facebook, no Twitter e no Instagram.

Please follow and like us: