Rapidinhas: Justiça nega censura a Jesus travesti; Bicha Oca é cancelada

Renata Carvalho em “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu” – Foto: Saulo Ohara/Filo 2016/Divulgação

Por Miguel Arcanjo Prado

Sem censura
A Justiça negou o pedido de censura à peça “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu”, com a atriz travesti Renata Carvalho, em Belo Horizonte. A decisão foi da juíza Cláudia Maria Resende Neves Guimarães, titular da 28ª Vara Federal. Ela declarou: “Não cabe ao Estado limitar o exercício da liberdade de expressão, direito constitucionalmente assegurado, sem que haja comprovação de prática de ilícito penal ou civil por meio de discursos de ódio, sob pena de se instalar, novamente, o obscuro período de censura estatal sob a roupagem de judicialização da arte”.

Sem censura 2
A liminar que impediu a peça de ser apresentada no Sesc Jundiaí, interior de São Paulo, também foi derrubada. Uma nova data já está sendo agendada.

Liberdade democrática
A juíza de Minas Gerais afirma em sua sentença: “O fato é que a liberdade de expressão é um elemento essencial em qualquer regime democrático, permitindo que a vontade coletiva seja formada através do confronto livre de ideias, em que todos os grupos e cidadãos devem poder participar. Em princípio, nenhuma ideia, escrito, obra de arte, peça teatral, etc, pode ser censurada. Mas isso não significa dizer que a liberdade de expressão deva ser absoluta, ademais, como nenhum direito o é. É possível restringir esse direito, especialmente quando se trata de discurso de ódio”.

Renata Carvalho em “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu” – Foto: Humberto Araujo/Divulgação

Preconceito contra minorias
A juíza ainda disse mais: “A liberdade de expressão encontra limite tão somente na manifestação do pensamento de ódio, não podendo o Estado contribuir, com sua inércia, para a disseminação do preconceito contra minorias estigmatizadas, criando um ambiente de hostilidade entre os diversos grupos que compõem a sociedade. No caso do Brasil, a Constituição obriga o estado a combater o preconceito e a discriminação, inclusive por meio da criminalização do discurso de ódio”.

Sem ofensas
Ainda estava na sentença: “O argumento autoral básico que estaria a justificar a limitação da liberdade de expressão seria a ofensa a dignidade da pessoa humana e à fé cristã. Não vislumbro, na hipótese, qualquer indício de que a peça teatral contenha manifestação de pensamento contrária ao ordenamento jurídico brasileiro ou ofensa à dignidade da pessoa humana, cingindo-se a insurreição dos autores tão somente a juízos de valor de patente subjetivismo, à semelhança de uma crítica de arte, exercício que, embora nobre, nem ao menos tangencia a função do Poder Judiciário”.

Segue firme
Fato é que a peça “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu” estreou com casa cheia nesta quinta (5) na mostra Ocupação Transarte e foi aplaudida de pé. Os 120 ingressos da apresentação foram vendidos. A peça fica em cartaz até domingo (8), na Funarte MG. Os ingressos já estão acabando.

Pedido de diálogo
Ao fim da peça, Renata Carvalho, a atriz travesti que vive Jesus na obra, não criticou os que se manifestavam do lado de fora da Funarte. “Eles têm o direito de se manifestar, mesmo. O que eu faço é o convite para eles para uma conversa, temos que conversar sobre tudo, dialogar, convido a assistir ao espetáculo para ter um entendimento mais profundo, porque ele fala sobre uma população extremamente marginalizada historicamente que é a população trans”.

Cena da peça “Bicha Oca” com Rodolfo Lima e Hugo Godinho – Foto: Gabryel Sampaio/Divulgação

“Bicha Oca” impedida de estrear no Rio
A peça “Bicha Oca” foi impedida de estrear no Rio, nesta quinta (5), no Castelinho do Flamengo. Com Rodolfo Lima e Hugo Godinho, a obra do Teatro do Indivíduo já fez várias temporadas de sucesso em São Paulo, com a história de um homossexual mais velho, Alceu, que tem uma tórrida relação com um home mais jovem. O elenco declarou: “A temporada da peça ‘Bicha Oca’ no Rio de Janeiro está suspensa por tempo indeterminado. A coordenação do Centro Cultural Municipal Oduvaldo Vianna Filho (Castelinho do Flamengo) informou hoje, no dia da estreia, que o espaço seria interditado por tempo indeterminado devido a uma pane elétrica ocorrida na noite anterior”. Assim falaram.

Trevas
Ainda segundo relato do elenco, a história informada não parece real: “Porém chegamos aqui para encontrar as luzes acesas, os computadores ligados e as pessoas trabalhando. Chegamos de São Paulo a convite da Secretaria de Cultura para oito apresentações da peça ‘Bicha Oca’ dentro do contexto da programação do Outubro da Diversidade promovido pela Prefeitura do Rio de Janeiro, mas até o momento não há previsão de resolução, nem a alocação de outro espaço para apresentação, tampouco posicionamento oficial da Secretaria da Cultura. Além da peça ‘Bicha Oca’, uma exposição de arte visual e outra peça de teatro também estão impedidos”. Que triste.

Mais uma
A peça “Nascituros”, dirigida por Victor Fontoura, também foi impedida de estrear no Castelinho do Flamengo. Eita.

Sumiço de fotos e quadro
Seis fotos do coletivo FLSH, com nudez de homens e trans em foco, desapareceram no Castelinho do Flamengo. Também sumiu um quadro da artista Ynaê, que marcava o mapa do Rio com embalagens de drogas sinalizando  pontos de venda do tráfico.

Vão devolver?
Em entrevista ao jornal O Globo, o subsecretário municipal de Cultura do Rio, André Marini, reforçou que houve um problema grave nas instalações elétricas do Castelinho do Flamengo e informou que “o quadro e as fotos foram removidos para que não houvesse risco de incêndio”, e que “serão devolvidos aos artistas”. Que assim seja.

“Pedaço de Mim” estreia no Teatro Augusta – Foto: Renata Fontana e Drica Fontana/Divulgação

Divagações
A peça “Pedaço de Mim” discute a relação entre dor, prazer e autodestruição a partir das divagações de uma mulher com Transtorno Borderline. Com direção do psiquiatra Bernardo de Gregorio, a obra é inspirada em pensamentos de Friedrich Nietzsche, Heráclito de Éfeso, Camille Paglia, entre outros. Estreia no Teatro Augusta, em São Paulo, em 7 de outubro.

Teatro com cara de cinema
A Ordinária Companhia espalhou telas no palco do Inbox Cultural para trazer a mise-en-scène do cinema para o palco na peça “Os Atingidos ou Toda Coisa que Vive é um Relâmpago” . É como se existissem duas peças, a que se desenrola na tela e a que acontece por trás das câmeras na busca de uma sincronização perfeita dos atores. As apresentações acontecem sempre quartas e quintas, às 21h, até 26 de outubro. A montagem conta com direção e dramaturgia de José Fernando Peixoto de Azevedo e traz antecedentes e desdobramentos do que aconteceu no crime do rompimento da barragem em Mariana (MG). É preciso ter memória.

Quase global
Uma atriz do grupo Satyros negocia um papel em produção da Globo. Ela ainda não quer revelar o nome para não botar olho gordo enquanto não assinar o contrato. Faz bem.

Cena da peça “O Espectador Condenado à Morte” – Foto: Patrícia Mattos/Divulgação

Contra o discurso de ódio
O “Espectador Condenado à Morte” está em cartaz na Funarte São Paulo. Encenado pela Companhia Teatro da Dispersão, o texto de Matéi Visniec tem direção de Thiago Ledier e a temporada acontece até 12 de novembro, de quarta a sábado, às 20h30, e domingo, às 19h30. As sessões de domingo são gratuitas. Nos dias 8, 22 e 29 de outubro, as apresentações serão acompanhadas de debate que passarão por temas relacionados a obra do dramaturgo romeno e o teatro do absurdo, a banalização do ódio e as ameaças aos direitos universais e as novas arenas de construção do discurso de ódio. Uma atmosfera bem presente no Brasil atual.

Oficina
Nesta temporada, a Companhia Teatro da Dispersão realiza uma oficina de construção de personagem no Teatro do Absurdo com o diretor Thiago Ledier aos sábados de 21/10 a 11/11. Os interessados deverão enviar nome, idade, telefone e carta de interesse contando qual é sua relação com o teatro e por que gostaria de fazer a oficina. Enviar para o e-mail: teatrodadispersao@gmail.com até dia 15/10. Anotou?

Ausência sentida
Zilu, ex de Zezé Di Camargo, não foi ao Teatro Cetip ver “2 Filhos de Francisco – O Musical”.

 

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