Crítica: Com Fagundes, Baixa Terapia surpreende e é uma das melhores peças do ano

Elenco afinado diverte e surpreende público com inteligência em “Baixa Terapia”, no Tuca – Foto: Caio Gallucci/Divulgação

Por Miguel Arcanjo Prado

Um texto delicioso e surpreendente feito por atores afinados por uma direção simples e segura. Assim é “Baixa Terapia”, peça em cartaz no Tuca, em São Paulo, até dezembro, encabeçada por Antonio Fagundes e, não à toa, já vista por 50 mil pessoas.

A primorosa dramaturgia do argentino Matías Del Federico, cujo título original é “Bajo Terapia” [a tradução literal seria ‘Sob Terapia’], foi adaptada com sucesso por seu conterrâneo Daniel Veronese em Buenos Aires na Calle Corrientes, espécie de Broadway portenha.

Conta a história de três casais que vão à terapeuta, mas não a encontram no consultório. O que há é apenas a recomendação de que o sexteto deve se autoanalisar, sem a presença da psicóloga.

O revelar dos personagens apenas prepara a grande ignição que, no momento oportuno, torna esta comédia uma obra profunda e contundente, cujo mistério não deve ser revelado, afinal, é preciso que o público o descubra junto ao jogo dos atores em cena. Esta é a grande potência desta que, sem dúvida, é uma das comédias mais inteligentes e assertivas dos últimos tempos.

“Baixa Terapia”, ótimo texto do argentino Matías Del Federico, mostra três casais que se autoanalisam em um consultório psicológico – Foto: Caio Gallucci/Divulgação

O texto escrito pelo jovem dramaturgo da pequena cidade de San José de la Esquina, na Província de Santa Fé, interior argentino, ganhou, merecidamente, concurso de dramaturgia promovido pela Associação de Empresários Teatrais e pela Associação Argentina de Atores. Foi descoberto por Fagundes em uma visita ao teatro na capital argentina.

Marco Antônio Pâmio conduz com maestria e leveza os seis atores brasileiros nesta história que faz o público gargalhar e refletir ao mesmo tempo. Em um cenário simples, a sala de espera do consultório, munida estrategicamente de um pequeno bar, os seis personagens começam a expor seus dilemas de relacionamento, fazendo com que o público os conheça pouco a pouco.

Generoso, o texto de “Baixa Terapia” dá bons momentos a todos os atores – Foto: Caio Gallucci/Divulgação

O elenco está afiado e afinado. Antonio Fagundes e Mara Carvalho vão certeiros como o casal maduro que enfrenta os problemas advindos de décadas de convivência, enquanto que os jovens Bruno Fagundes e Alexandra Martins interpretam o casal que tenta começar uma relação a dois, no afã de aprofundá-la.

Generoso, o texto dá bons momentos a cada um dos intérpretes, e Fagundes ali é apenas mais um ator no conjunto coeso, longe da vaidade comum a estrelas televisivas quando vão para os palcos, querendo se sobrepor a tudo. Isso, definitivamente, não acontece nesta obra.

Mas, o grande trunfo do elenco está no casal interpretado por Fábio Espósito e Ilana Kaplan, entregues de forma visceral a seus personagens. Ilana, sobretudo, vai num crescente ao longo da peça, como exige sua personagem, conquistando definitivamente o público paulistano com talento inquestionável, ao qual Espósito faz perfeito contraponto cênico.

O final surpreendentemente potente deixa o público estupefato e com a certeza de ter assistido a uma das melhores peças do ano. “Baixa Terapia” é imperdível. Corra pra ver.

“Baixa Terapia” ✪✪✪✪✪
Avaliação: Ótimo
Quando: Sexta, 21h30, sábado, 20h, domingo, 19h. 80 min. Temporada prorrogada até dezembro de 2017
Onde: Tuca – Rua Monte Alegre, 1024, Perdizes, São Paulo
Quanto: R$ 80 (sexta), R$ 100 (sábado) e R$ 90 (domingo)
Classificação etária: 14 anos

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