Crítica: Lívia desmorona sonhos de casal feliz

Sol Menezzes e Licínio Januário em “Lívia”: última sessão neste domingo (30), às 20h, no Parlapatões, em SP – Foto: Amanda França
Por Miguel Arcanjo Prado
A peça “Lívia” começa como uma comédia romântica que aos poucos vai incorporando elementos da tragédia, sem perder a leveza na forma que conta a história do casal Lívia e Felipe.
A obra encerra temporada neste domingo (30), às 20h, no Espaço dos Parlapatões, na praça Roosevelt, em São Paulo.
Um destaque do espetáculo do Coletivo Preto, do Rio, é colocar dois jovens protagonistas negros em uma “peça de casal de classe média”, lugar ainda pouco explorado no ainda excludente teatro brasileiro.
Que bom que as coisas podem mudar. E que negros possam também viver no palco conflitos pequeno-burgueses, não ficando presos apenas à histórias étnicas ou de temática racial. Trata-se de um importante avanço em rumo de novas narrativas.

Sonhos que se desmoronam: “Lívia” mostra casal de classe média formado por dois jovens negros – Foto: Amanda França
O texto, ainda incipiente, mas com alguns momentos interessantes, é do artista angolano Licínio Januário, que contou com colaboração da atriz gaúcha radicada no Rio Sol Menezzes, sua companheira em cena.
A peça produzida por Mariana Avelino mostra a vida de um casal, do momento em que, no auge da juventude, eles se conhecem em uma galeria de arte até o fim de suas vidas.
Drayson Menezzes e Orlando Caldeira assumem a direção, impondo ritmo ágil à encenação. Contudo, em determinados momentos, os atores estão tão preocupados com a forma que a atuação torna-se enfraquecida.
Gabriel Prieto, com sua luz sempre presente e propositiva, é crucial no andamento e na construção da narrativa. O figurino de Cristina Cordeiro é funcional em sua simplicidade: a partir dele se constrói o avançar no tempo das personagens. O cenário é de Lorena Luz, molduras que convidam o público a reinterpretá-las durante o andamento da obra.
Sol Menezzes se destaca em sua interpretação, conseguindo construir as nuances que explicitam a evolução de sua personagem durante sua conflituosa trajetória de vida, repleta de sonhos frustrados e de decepções.
Talvez aí esteja outro ponto forte da peça: não ir para o lugar fácil da comédia romântica, espécie de conto de fada infantil readaptado para mocinhas de idade adulta.
Em “Lívia”, o príncipe transforma-se em sapo, os sonhos intelectuais vão por água abaixo com uma gravidez indesejada e o futuro de velhice conjunta e feliz pode desmoronar diante do descaso e da crueldade familiar.
O impacto é forte a quem vai ao teatro esperando sair nas nuvens diante de um amor bem resolvido. Não, a vida não é tão simples assim.
“Lívia” ✪✪✪
Avaliação: Bom
Quando: Domingo (30), às 20h. 60 min (Última sessão)
Onde: Espaço dos Parlapatões (praça Franklin Roosevelt, 152, São Paulo, tel. 11 3258-4449)
Quanto: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia)
Classificação etária: 14 anos
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