Mato Grosso aposta em teatro e cinema para se destacar no Brasil
Jovens artistas da MT Escola de Teatro celebram primeira mostra no Cine Teatro Cuiabá – Foto: Divulgação
Por Miguel Arcanjo Prado
Uma nova geração de artistas de Mato Grosso está com sede de destaque no cenário nacional.
Prova disso é o que o Blog do Arcanjo do UOL viu nos últimos dias no charmoso Cine Teatro Cuiabá, onde foi realizada entre 19 e 21 de julho a 1ª Mostra de Cenas da MT Escola de Teatro, e foi exibido no sábado (22) o filme mato-grossense “Bala Perdida”. Sempre com casa cheia e forte aplauso do público.
Com direção geral de Ivam Cabral e coordenação pedagógica de Rodolfo García Vázquez, ambos fundadores do grupo paulistano Os Satyros e da SP Escola de Teatro, a escola artística mato-grossense foi aberta neste ano, inspirada no modelo paulistano.
De cara, o projeto despertou o interesse de jovens artistas de todo Mato Grosso: foram cerca de 800 inscritos para as 56 vagas oferecidas neste primeiro semestre, divididas nos cursos de atuação, produção, iluminação, direção, dramaturgia, sonoplastia e cenário e figurino.
1.000 km para estudar teatro
Gente como Roger Neves, morador da cidade mato-grossense Pontes e Lacerda, na divisa do Brasil com a Bolívia, que conquistou a sonhada vaga no curso de direção.
Ele conta que estudar é um grande sacrifício: ele viaja 1.000 km semanalmente para estar nas aulas, que acontecem aos fins de semana em Cuiabá.
O dinheiro para as passagens de ônibus, cerca de R$ 300, ele junta semanalmente dando aulas de zumba em sua cidade, já que não conseguiu nenhum tipo de apoio do poder público em Pontes e Lacerda para financiar seu transporte.
“É muito difícil, mas eu não vou desistir”, avisa ele, que é apreciador de musicais e sonha um dia se apresentar em um palco de São Paulo.
Três peças curtas
Tal garra que Roger demonstra foi vista nas três diferentes cenas apresentadas pelos aprendizes da MT Escola de Teatro em sua primeira mostra. Todas tiveram a temática da distopia, abordando uma ideia de um futuro que fizesse conexão com nosso presente.
A primeira, “Império Dell’Arte”, mostrou atores sucumbidos em um porão, onde ensaiam “Hamlet”, de Shakespeare, enquanto a terra acima deles está devastada e infectada.
A cena com direção segura de Eloá Pimenta e Maria Clara Bertúlio é uma metáfora da própria situação de crise do teatro brasileiro contemporâneo, na qual se destacou a atuação de Geovane Rodrigues, ator potente.
“Império Dell’arte” foi uma das três cenas apresentadas pelos aprendizes da MT Escola de Teatro – Foto: Divulgação
Já “Enigma”, a segunda cena, colocou o dedo na ferida de discursos extremistas, abordando um mundo utópico dominado por mulheres, no qual homens já não mais são autorizados existir.
Apesar da louvável coragem dos dramaturgos Amanda Miller e Elton Martins em abordar a temática polêmica do “femismo”, teoria que considera a mulher superior ao homem, a obra transitou por um discurso de interpretação dúbia, podendo provocar uma perigosa leitura ideológica.
Por fim, a terceira cena, “Arte Barata”, mostrou a crise da arte contemporânea, onde tudo e todos somos meros produtos à venda, ansiosos por mais curtidas nas redes sociais.
O irônico texto de Marana Moreira e Talita Figueiredo dialogou com regionalismos mato-grossenses, trazendo para o palco a figura do rei do agronegócio que tudo quer comprar.
A atriz Daniele Souziel roubou a cena como uma religiosa puritana de desejos reprimidos e inconfessos, assim como os figurinos exuberantes de Gizele Mesquita e Jane Klitzke.
Empolgados com a repercussão da primeira mostra, os alunos da MT Escola de Teatro já planejam participar do festival paulistano teatral Satyrianas, em novembro próximo.
“A MT Escola de Teatro nasceu de um sonho muito bonito, com um desejo de descentralizar a arte. Hoje, ela é uma realidade que conecta Mato Grosso com o Brasil e o mundo”, afirmou Leandro Carvalho, secretário de Estado de Cultura de Mato Grosso.
Na plateia, o estudante de direito Wallerson Ferreira, de 21 anos, natural de Poxoréu e morador de Cuiabá desde 2013, gostou do que viu. “É superinteressante vir ao teatro consumir uma coisa nossa, com atores daqui”, falou.
O estudante de música cuiabano Daniel Viegas de Oliveira, de 23 anos, também elogiou. “Achei as peças ousadas e contemporâneas. Acho que vou prestar o próximo processo seletivo, tenho vontade de estudar sonoplastia”, adiantou.
O secretário de Cultura do Mato Grosso, Leandro Carvalho, entre a dupla Nico e Lau, do filme “Bala Perdida” – Foto: Divulgação
Investimento em cinema
Se Mato Grosso quer ganhar peso no cenário teatral brasileiro, também deseja se fazer presente na sétima arte, antes uma ideia utópica e distante dos artistas do Estado.
Neste sábado (22), no Cine Teatro Cuiabá lotado, houve a pré-estreia do filme “Bala Perdida”, com as estrelas do teatro cuiabano Nico e Lau, interpretados por Lioniê Vitório e Justino Astrevo, protagonistas do curta-metragem com direção de Luiz Marchetti e roteiro de Justino Astrevo.
O tráfico internacional de drogas é o pano de fundo da comédia, que contou com 40 profissionais do audiovisual mato-grossense.
O curta é resultado do primeiro edital para cinema lançado pela Secretaria de Estado da Cultura do Governo de Mato Grosso, em parceria com a Agência Nacional de Cinema (Ancine) e o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA).
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