Oficina comemora proibição de torres no terreno de Silvio Santos

Oficina: instalado há 55 anos no Bixiga, em São Paulo - Foto: Mário Pizzi

Oficina, visto do terreno do Grupo Silvio Santos: torres estão proibidas no local – Foto: Mário Pizzi

Por Miguel Arcanjo Prado

José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, e os integrantes de seu grupo, a Associação Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona, comemoram a decisão tomada nesta segunda (26) pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) do Estado de São Paulo. Por maioria, o órgão proibiu a construção de três torres de 28 andares no terreno que pertence ao Grupo Silvio Santos no entorno do Oficina, no Bixiga, zona central de São Paulo.

“É uma decisão maravilhosa. Foram dez votos de pessoas contra as torres por questões que prejudicariam não só o Oficina como também o Bixiga e a cidade de São Paulo. Por isso, digo que foi uma vitória da cidade de São Paulo”, diz Zé Celso, direto do Oficina, ao Blog do Arcanjo do UOL.

Ele lembra que o Oficina, em dezembro de 2015, foi eleito o mais belo teatro do mundo pelo jornal inglês The Guardian. “O melhor e o mais intenso”, pontua. Segundo Zé, o Condephaat considerou que as torres gigantes prejudicariam o bairro e também o tombamento histórico do Oficina, realizado em 2010 pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

Zé Celso no Teat(r)o Oficina, inaugurado em 1961 - Foto: Bob Sousa

Zé Celso no Teat(r)o Oficina, que existe desde 1958 e tem sede desde 1961 – Foto: Bob Sousa

Troca de terrenos

Zé agora deseja que o terreno no entorno do Oficina permaneça vazio, com terra e árvores frutíferas, funcionando como um respiro no caos de concreto paulistano.

Após o tombamento pelo Iphan, Silvio Santos se reuniu com Zé Celso e sinalizou que aceitaria uma troca de terrenos, assunto que está sendo encaminhado pelo Ministério do Planejamento, que inclusive já tem uma proposta de um terreno próximo à sede do SBT, na região do Pico Jaraguá. Contudo, tal processo ainda não está finalizado.

“Estamos com um espaço vazio maravilhoso. São 36 anos de luta e tenho um orgulho muito grande desta nossa luta. São 36 anos batalhando para que não se construa nada aqui em volta do teatro”, fala Zé.

“O Silvio Santos já conversou comigo e ele quer fazer esta troca, quem não quer é esse administrador do setor financeiro do Grupo Silvio Santos, mas o terreno é do Silvio, e cabe ao Silvio a decisão. A troca do terreno ainda está de pé e espero que aconteça o quanto antes”, afirma o diretor.

Zé Celso revela à reportagem que escutou boatos de uma possível retaliação por conta da decisão do Condephaat pela Sisan Empreendimentos, braço imobiliário do Grupo Silvio Santos. “Ouvi que querem tirar a escada que fica no fundo do teatro e que dá acesso ao terreno e por onde o público tem entrado. Querem criar um beco sem saída”, conta o diretor, prometendo resistência. O grupo Sisan não comentou a proibição das torres.

O diretor Zé Celso: ele quer o terreno vazio e com árvores - Foto: Bob Sousa

O diretor Zé Celso: ele quer o terreno vazio e com árvores – Foto: Bob Sousa

Histórico

A briga travada com o Grupo Silvio Santos pelo terreno no entorno do Oficina já dura 36 anos. A disputa e a resistência do Oficina à especulação imobiliária inspirou, inclusive, o roteiro da série infantil “Castelo Rá-Tim-Bum”, na TV Cultura, na década de 1990.

Na história, o vilão especulador imobiliário Dr. Abobrinha, interpretado pelo ator Pascoal da Conceição, sonhava em derrubar o castelo mágico, uma alusão ao próprio Oficina, bradando: “Esse castelo será meu, meu, meu!”.

O Oficina existe como grupo desde 1958 – é o mais antigo grupo teatral do Brasil. Desde 1961, ou seja, há 55 anos, tem sede na rua Jaceguai, número 520, no Bixiga. Em 1991, o espaço ganhou projeto arquitetônico assinado por Lina Bo Bardi (a mesma arquiteta do Masp) e Edson Elito, chamado de Terreyro Eletrônico, tombado em 2010 pelo Iphan.

Os espetáculos do grupo abarcam o tropicalismo e a antropofagia, sendo Zé Celso considerado um dos mais importantes diretores teatrais vivos no mundo. Entre os artistas da companhia, estão nomes como Camila Mota, Marcelo Drummond, Sylvia Prado, Roderick Himeros, Letícia Coura, Danielle Rosa, Tony Reis, Nash Laila, Igor Marotti Dumont, Glauber Amaral, Joana Medeiros e Vera Barreto Leite Valdez, entre outros.

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