Diários secretos de diplomata irlandês Roger Casement viram peça em SP

Cia. Ludens encena polêmica vida de Roger Casement - Foto: Leekyung Kim

Cia. Ludens encena vida do diplomata Roger Casement (Bruno Perillo, à frente) – Foto: Leekyung Kim

Por Miguel Arcanjo Prado

O irlandês Roger Casement (1864-1916) foi um importante diplomatas na virada do século 19 para o 20. Após servir ao Império Britânico, se rebelou e lutou pela independência da Irlanda, mas foi preso, condenado por traição e morto.

Contudo, um detalhe de sua biografia sempre despertou curiosidade e polêmica: os diários atribuídos a ele nos quais contava aventuras homossexuais nos países nos quais serviu. O complexo personagem é tema da peça “As Duas Mortes de Roger Casement”, que estreia no Teatro Aliança Francesa, em São Paulo, na próxima sexta (2) com a Cia. Ludens.

Diretor e dramaturgo da peça, Domingos Nunez conta que os “diários negros”, como ficaram conhecidos os manuscritos secretos, são abordados “de forma indireta na primeira parte do espetáculo e de forma direta na segunda”.

Ele lembra que Casement foi personagem importante na história por “revelar como os interesses econômicos de grandes potências ignoravam os direitos de minorias e povos que habitavam o que passamos a chamar de Terceiro Mundo”.

E liga a saga do diplomata aos tempos atuais. “Com todos os avanços tecnológicos e mídias digitais, a ordem mundial não continua sendo manipulada e ditada pelos interesses econômicos dessas mesmas potências? O desmatamento, exploração de trabalhadores, a aculturação de povos, migrações, guerras e manifestações de toda ordem não são resultados de uma equação que, com muito mais frequência do que gostaríamos de ver, acaba em algum grau por violar os direitos de seres humanos e nações menos privilegiadas ou com menor poder de fogo?”, discursa.

"As Duas Mortes de Roger Casement" estreia no Aliança Francesa, em SP - Foto: Leekyung Kim

“As Duas Mortes de Roger Casement” estreia no Aliança Francesa, em SP – Foto: Leekyung Kim

A ideia da peça é embalada desde 2008. Para desenvolver o texto, Nunez contou com apoio da produtora e diretora literária da Cia. Ludens, Beatriz Kopschitz Bastos, e também com uma bolsa de pó-doutorado na Unesp, onde foi orientado por Peter James Harris.

Cabe ao ator Bruno Perillo dar vida ao protagonista. “Roger Casement foi grande e ao mesmo tempo extremamente polêmico. Gerou uma infinidade de publicações a seu respeito”, lembra. O artista revela que buscou “rigor e precisão nas escolhas” para compor o “personagem real, histórico”.

Para tanto, assistiu único filme que mostra o diplomata, de apenas 15 segundos, e mergulhou em livros, biografias, documentários e, claro, nos próprios diários que teriam sido escritos por Casement nos tempos em que trabalhou como cônsul na África, no fim do século 19, e na Amazônia, no começo do século 20.

Perillo lembra a grande contribuição de Casement aos direitos humanos: “Ele conseguiu mostrar ao mundo as atrocidades que eram cometidas contra as tribos africanas e os índios da Amazônia, em prol da exploração da borracha”.

E elogia seu personagem: “Um homem que se entregou de corpo e alma às causas em que acreditava. Um homem repleto de contradições. Um rico ser humano e um prato cheio para um ator”.

No elenco ainda estão Amanda Acosta, Chico Cardoso, Eliseu Paranhos, George Passos, Kiko Pissolato, Paulo Bordhin e Taiguara Nazareth.

“As Duas Mortes de Roger Casement”
Quando: Quinta a sábado, 20h30, domingo, 19h. 120 min (com intervalo de 15 min). Até 9/10/2016
Onde: Teatro Aliança Francesa – Rua General Jardim, 182, Vila Buarque, metrô República, São Paulo, tel. 11 3572-2379
Quanto: R$ 50 (inteira)
Classificação etária: 14 anos

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