Crítica: “Camaleão Borboleta” mostra uma Graveola mutante, pop e solar

Graveola toca "Camaleão Borboleta" no Auditório Ibirapuera, em SP - Foto: Fábio Nascimento

Graveola toca “Camaleão Borboleta” no Auditório Ibirapuera, em SP – Foto: Fábio Nascimento

Por Miguel Arcanjo Prado

Borboletas e camaleões se transformam sem perder a característica multicor. Assim também parece acontecer à banda mineira Graveola e o Lixo Polifônico, que chega ao sexto disco, o solar “Camaleão Borboleta”. O álbum é mais pop que o costumeiro, mas ainda com o transitar por diversos sons possíveis, característica expressa no próprio nome da banda. Cada música traz uma porção de possibilidades de sonoridades.

O álbum foi apresentado ao público paulistano neste domingo (28) em show no Auditório Ibirapuera no qual o sexteto executou, de forma envolvente, as novas canções e também recebeu três convidados no palco: a também mineira e ex-Graveola Juliana Perdigão, agora em carreira solo, o paulistano Léo Cavalcanti e o paraense Felipe Cordeiro.

Henrique Staino e Luiz Gabriel Lopes: sintonia - Foto: Fábio Nascimento

Henrique Staino e Luiz Gabriel Lopes: sintonia – Foto: Fábio Nascimento

O show foi azeitado recentemente na Europa, onde a banda passou por nove cidades de seis diferentes países, com apresentação que impactou o festival Roskilde, na Dinamarca, um dos principais do velho continente.

O novo disco traz forte influência tropicalista e de ritmos afro-brasileiros, representados pela percussão enérgica da compenetrada Luiza Brina, em diálogo intenso com a bateria do sorridente Gabriel Bruce, que responde na medida ao baixo sincopado do sempre leve Bruno Oliveira. A banda ainda tem nos vocais o flutuante Luiz Gabriel Lopes, com sua doçura, e José Luis Braga, de potente voz grave; ambos dividem a guitarra. E completa tudo Henrique Staino no sax e no teclado, um verdadeiro showman no palco. A direção cênica foi assinada por Marcelo Veronez, novo talento da música que também desponta em Minas.

Com os músicos em plena sintonia e vestidos com coloridíssimos figurinos da Bença, as canções foram conquistando aos poucos a plateia paulistana, que começou o show fria, mas logo foi se soltando e embarcando na fusão rítmica proposta pela Graveola.

A percussionista e vocalista Luiza Brina - Foto: Fábio Nascimento

A percussionista e vocalista Luiza Brina – Foto: Fábio Nascimento

De cara, o hit de verão “Talismã” sacolejou a todos com sua intensidade afro-baiana-mineira. “Costi”, música que Luiza Brina compôs para sua “família do sertão espanhol” serviu de brecha para José Luis Braga bradar “Fora, Temer” com sua voz grave (e ser respondido também), antes da doçura da voz preguiçosa de Luiza invadir e apaziguar tudo.

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“Camaleão Borboleta” foi produzido pelo experiente Chico Neves, que teve seu estúdio por anos no Jardim Botânico carioca e hoje está radicado na sua Minas Natal em Nova Lima. O produtor de discos como “Bloco do Eu Sozinho” do Los Hermanos e “Lado B Lado A” d’O Rappa reforçou o caráter pop de muitas das canções da banda, além de trazer Samuel Rosa para fazer dueto com Luiz Gabriel Lopes em “Talismã”, composta por Lopes com Gustavito e Chicó do Céu e feita sob medida para ser o hit do álbum.

E o disco, feito em parceria com o Natura Musical, vai conversando com os ritmos. O reggae invade e deixa o mundo mais leve em “Tempero Segredo”, música abertamente defensora da legalização do plantio e do consumo de maconha. O refrão, que a plateia do Ibirapuera cantou com gosto, conclui: “Decidir plantar meu pé, acho que isso é maturidade”.

Bruno de Oliveira e seu baixo - Foto: Fábio Nascimento

Bruno de Oliveira e seu baixo – Foto: Fábio Nascimento

Já “Índio Maracanã”, com suas vozes dissonantes em coro, ecoa os primeiros habitantes de nosso Brasil, ainda hoje tão maltratados e ignorados pelos governantes, como lembrou no palco Luiz Gabriel Lopes. Porque a Graveola não é só mistura de barulhinhos bons, mas também é postura política inclusiva, democrática e progressista.

Nesta profusão tão brasileira, onde cabe o jazz, o rock, o axé, o bolero e o que mais vier, a Graveola deixa sua música marcada por um ecletismo transformador mutante, pop e solar, de quem não faz questão de definir identidades. Até porque a vida (e a banda) evolui tal qual um camaleão ou uma borboleta.

Disco: “Camaleão Borboleta” * * * *
Avaliação: Muito Bom
Artista:
Graveola e o Lixo Polifônico
Informações: graveola.com.br

O baterista Gabriel Bruce - Foto: Fábio Nascimento

O baterista Gabriel Bruce – Foto: Fábio Nascimento

O guitarrista e vocalista José Luis Braga - Foto: Fábio Nascimento

O guitarrista e vocalista José Luis Braga – Foto: Fábio Nascimento

Felipe Cordeiro também participou do show da Graveola - Foto: Fábio Nascimento

Felipe Cordeiro também participou do show da Graveola – Foto: Fábio Nascimento

Juliana Perdigão fez participação especial no show - Foto: Fábio Nascimento

Juliana Perdigão fez participação especial no show – Foto: Fábio Nascimento

Léo Cavalcanti também cantou a convite dos mineiros - Foto: Fábio Nascimento

Léo Cavalcanti também cantou a convite dos mineiros – Foto: Fábio Nascimento

Graveola e convidados agradecem os aplausos - Foto: Fábio Nascimento

Graveola e convidados agradecem os aplausos – Foto: Fábio Nascimento

Cena dos bastidores do show da Graveola - Foto: Chema Llanos

Cena dos bastidores do show da Graveola – Foto: Chema Llanos

Graveola e convidados agradecem aplausos - Foto: Chema Llanos

Graveola e convidados agradecem aplausos – Foto: Chema Llanos

Graveola e o Lixo Polifônico em “Cameleão Borboleta”
Equipe do show:
Bruno Côrrea – técnico de PA
Rodolfo Yadoya – técnico monitor
Renato Banti – técnico luz
Luiz Romero – assistente de luz
Viola e Gabrielle – produção local
Fábio Nascimento – fotografia
Daniel Costa e Silva – filmagem
Clarisse Rodrigues – maquiagem Luiza Brina
Designer do CD e das nossas peças gráficas: Cecilia Lucchesi
Figurino: Bença
Cenografia: Fósforo Cenografia e Pomelo
Direção cênica: Marcelo Veronez
Produtor musical do disco: Chico Neves
Produtora Graveola: Michelle Braga

 

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