Transexual sofre crime de ódio em musical grátis em SP “Ópera Urbe”
Por Miguel Arcanjo Prado
O musical “Ópera Urbe – Peste Contemporânea”, dirigido por Rogério Tarifa, é apresentado de graça no largo da Batata, em São Paulo, até o fim de agosto. Com os atores Eduardo Mossri, Karen Menatti, Flavio Barollo, André Cezar e Leona Jhovs em cena, o espetáculo mostra as relações de amor e de afeto de um grupo de amigos que vive os dias conturbados do mundo de hoje.
Temas como fanatismo religioso, consumismo, violência, sexualidade e intolerância estão presentes na peça, que tem uma cena de um crime de ódio contra uma transexual, intepretada por Leona Jhovs, atriz que também é transexual. Em conversa com o Blog do Arcanjo do UOL, o diretor Rogério Tarifa diz que “intolerância sempre existiu no mundo”, que ela “faz parte da história humana na terra”. Contudo, reconhece nos dias atuais uma “crise profunda de falta de diálogo”.
“Milhares de imigrantes morrem absurdamente afogados nos mares da Europa, assim como centenas de negros da periferia continuam sendo assassinados mensalmente em nosso país”, afirma. “O que une essas duas pontas é o preconceito, a intolerância e a exploração desenfreada que nos aprisiona”.
Para Tarifa, a falta de utopia “é um prato cheio para a intolerância e para uma sociedade cada vez mais individualizada”, lembrando que hoje a vida está banalizada. “É preciso retomar a potência da vida, é preciso transbordar para a vida arte e poesia”, fala, constatando que é “preciso criar alternativa ao sistema capitalista, sonhar com outra sociedade”.
A obra tem música ao vivo executada por Breno Barros, Franco Orlando, Glauber Bento, Luca Frazão, Felipe Chacon e Carlos Zimbher, estes dois últimos respondendo pela direção musical.
Grito rasgado
“Ópera Urbe – Peste Contemporânea” foi escrita pelo músico e poeta Carlos Zimbher. “Um amigo me disse que é um grito rasgado, delicado e necessário no meio da cidade de São Paulo”, afirma o diretor. Ele defende que sua peça põe em pauta temas “ainda mais urgentes diante do momento político que vivemos em nosso país”.
Outra importância que reforça namontagem é ter como protagonista uma atriz transexual, Leona Jhovs, o que, segundo o diretor, confere à peça caráter de ato em pleno largo da Batata, “importante ponto de cultura e mobilizações políticas” da metrópole.
Leona Jhovs revela que fazer a peça é mais do que um ato artístico, é um ato político. “É difícil ser uma transexual no Brasil. Representar é fácil. Mas eu, como uma transexual, tenho de acordar e dormir sabendo que todos os dias mulheres como eu são agredidas e assassinadas neste país simplesmente pelo que são. O Brasil é o lugar do mundo que mais mata mulheres trans e travestis”.
Segundo a atriz, “representar/encenar não é mais difícil do que ser uma transexual nessa sociedade”. Por isso, para Leona, é “importantíssimo” que artistas transexuais representem seus próprios papéis. “Isso se chama representatividade. E hoje já temos muitas mulheres trans talentosas em cena. Somos muitas e estamos na luta para ocupar todos os lugares da sociedade. Nada mais justo que nos proporcionarem este direito”.
“Ópera Urbe – Peste Contemporânea”
Quando: Dias 14, 15, 16, 22, 23, 24, 25, 29, 30 e 31 de agosto, às 18h. 120 min. Até 31/8/2016
Onde: Largo da Batata, Pinheiros, metrô Faria Lima, São Paulo, tel. 11 99633-0388
Quanto: Grátis
Classificação etária: Livre
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