CineOP abre com gritos de “Fora Temer” na plateia em Ouro Preto
Por Miguel Arcanjo Prado
Enviado especial a Ouro Preto (MG)*
Houve protesto espontâneo do público que participou da abertura da 11ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, na noite desta quinta (23), no Cine Vila Rica, na cidade histórica mineira. O evento vai até dia 27 de junho com exibição gratuita de 90 filmes.
Quando o apresentador Leri Faria lembrou dos tempos sombrios da ditadura civil-militar, muitos dos espectadores presentes começaram a gritar: “Fora Temer”, fazendo referência ao presidente interino Michel Temer (PMDB), que assumiu após o afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT). O grito tomou conta da plateia por cerca de um minuto. Depois, Leri Faria cantou com o público “Para Não Dizer Que Não Falei das Flores”, de Geraldo Vandré, e lembrou de suas peças que foram censuradas pelos militares.
A cerimônia de abertura teve direção de Chico de Paula, que formatou a festa como um programa de TV. Houve ainda a banda Bom Jesus dos Matosinhos e a performance das atrizes Cibele Maia, Gabrielle Salomão e Ludmilla Ferrara, que lembraram a violência e opressão de gênero que sofrem as mulheres ao som de Elza Soares na música “Maria da Vila Matilde”, aquela do verso: “Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim”, composta por Douglas Germano e tocada pelo DJ Rafael.
O cineasta Eduardo Coutinho, do filme da abertura, “Cabra Marcado para Morrer”, e o restaurador Chico Moreira foram lembrados com homenagens. O filho de Moreira, Daniel, confessou: “Somente agora estou tendo a consciência de como meu pai foi importante e influente a tanta gente”.
Já a produtora assistente de Coutinho, Laura Liuzzi, falou da relação com o mestre documentarista. “O que ele tinha de mais generoso era a escuta, não apenas com os entrevistados, mas com toda a equipe, sempre em uma relação horizontal de trabalho”.
Laura recebeu o troféu das mãos da atriz Inês Peixoto, do Grupo Galpão, com quem Coutinho fez o filme “Moscou”, filmado nos bastidores da trupe de Belo Horizonte. “Sempre fui fã do Coutinho e o convite para o Galpão trabalhar com ele foi inusitado, uma grata surpresa. Ele revelou histórias que não sabíamos sobre nós mesmos”, afirmou.
Em conversa com o Blog do Arcanjo do UOL, Inês Peixoto definiu a CineOP como “um evento necessário”. “Além de exibir filmes, ele traz o debate e a fusão do cinema com a educação e a preservação, em uma cidade linda como essa que merece ser visitada por todos. É um charme”, definiu.
“A CineOP agrega valor de patrimônio à Sétima Arte”, afirmou Raquel Hallak, coordenadora geral da Mostra e da Universo Produção, responsável pelo evento e também pela Mostra de Cinema de Tiradentes e da Mostra CineBH.
Raquel lembrou que a CineOP surgiu de uma “aflição” durante a organização da Mostra de Cinema de Tiradentes: muitas vezes quando queria fazer uma retrospectiva, não encontrava cópia do filme para exibir e nem sabia a quem procurar. Daí viu a importância de criar um festival com foco na preservação do cinema nacional. Por isso, Ouro Preto tem uma Mostra Histórica, com filmes importantes do nosso passado – neste ano, o foco é em longas feitos entre 1976 a 1988.
“Sem memória, sem história, a gente não existe. Esta abertura da CineOP deu esse recado: mostrar o que vivemos no passado, para não repetirmos os mesmos erros, ainda mais neste contexto político do Brasil atual. É hora de pensarmos em avanços, não em retrocessos”, declarou Raquel Hallak.
*O jornalista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite da CineOP.