Bichas e drags ganham voz e liberdade em Vias, nova peça do Satyros

Flavio Salles, Eric Barros e Fernando Soares em Vias - Foto: Carlos Valle

Flavio Sales, Eric Barros e Fernando Soares em Vias, peça do Satyros – Foto: Carlos Valle

Por Miguel Arcanjo Prado

Enquanto alguns vivem aprisionados no armário com pavor de serem descobertos, para três jovens atores do grupo Os Satyros, a palavra “bicha” não é vista com assombro. Muito pelo contrário, é manifestação política de empoderamento.

Flávio Sales, Eric Barros e Fernando Soares, juntamente com a dramaturga e diretora Sabrina Denobile e o diretor Henrique Mello, criaram o espetáculo “Vias”, chamado por eles de “uma montanha-russa de política-pop”, justamente para falar do tema sem culpa alguma. Muito pelo contrário, com festa e celebração.

A obra estreia no próximo dia 10 de junho, no horário da meia-noite de sexta no Espaço dos Satyros 1, na efervescente praça Roosevelt,  centro paulistano, com o trio de atores montado de drag queen.

“Medo de ser bicha? Jamais! Tenho um orgulho enorme. Ser bicha é bater no peito, não fugir da raia e comprar briga. Então chame-me de gay, bicha, viado, baitola ou boiola que cada vez me empodero mais, minha legging fica mais apertada e minha unha mais rosa”, brada Flavio Sales, que na peça é a drag Jordana BAH.

Cena da peça Vias, do Satyros, que estreia dia 10 - Foto: Carlos Valle

Sem medo da palavra “bicha”: cena da peça Vias, do Satyros, que estreia dia 10 – Foto: Carlos Valle

Eric Barros, que dá vida à drag Poppins, pondera que usar a palavra “bicha” é “ato político” e que a ideia da peça surgiu em uma noite de “montação”, que é como as drags chamam o ato de vestir-se e maquiar-se de forma exagerada. “Resolvemos nos montar para uma festa do Satyros e vimos que tínhamos muitas coisas para falar sobre os temas”, lembra. E confessa: “Foi uma drag quem batizou a outra”, revelando como foi a escolha dos nomes.

Para Barros, a peça consegue unir o mundo purpurinado das drags à questões importantes da comunidade LGBTT. “Montação já é um ato político. A peça é uma mistura pop e tem muitas coisas nossas também na dramaturgia”, adianta.

Vias quer liberdade sexual no palco - Foto: Carlos Valle

Vias quer diversidade no palco – Foto: Carlos Valle

Fernando Soares, que completa o trio como a drag Triz, fala que tem “um orgulho imenso” de fazer o espetáculo e que considera os outros dois atores “irmãos incríveis”. “O principal motivador é a vontade que eu tenho de dar voz pras bichas. De poder fazer um trabalho que me questiona e tem como objetivo de encorajar essa gente toda ser o que se quiser ser. É um espetáculo de dentro pra fora”, declara sobre a peça, que tem sonoplastia feita por seu irmão gêmeo, Felipe Soares, iluminação de Diego Ribeiro, cenário de Ricardo Fernandes e figurinos de Bia Peratti e Carolina Reissman.

A diretora Sabrina Denobile, que como dramaturga assina Nina Nóbile, diz que se impressiona com a força que os atores têm no palco e fora dele. “A proposta do espetáculo veio deles e logo ganhou apoio do Ivam Cabral e do Rodolfo García Vázquez [fundadores do Satyros]. Não é sempre que surgem atores assim com algo tão forte a dizer”, elogia.

Sabrina ainda conta que fazer a direção a quatro mãos com Henrique Mello é um privilégio. “Estreamos juntos no Satyros no fim de 2004 no primeiro elenco de ‘Os 120 Dias de Sodoma’, dividindo o mesmo palco, e 12 anos depois é incrível estarmos dividindo uma direção”, celebra ela, que ainda conta com o auxílio do cenotécnico Marcelo Onuki Maffei. E ainda dá uma dica para o público que entrar no espírito da peça: “Quem vier montado terá desconto na entrada”.

“Vias”
Quando: Sexta, 23h59. 60 min. Estreia em 10/6/2016. Até 5/8/2016
Onde: Espaço dos Satyros 1 – Praça Roosevelt, 222, República, São Paulo, tel. 11 3258-6345
Quanto: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada) – Promoção: a pessoa que for montada paga R$ 15
Classificação etária: 18 anos

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