Peças transformam periferia de São Paulo em lugar de histórias potentes

Azar do Valdemar, da Cia. dos Inventivos, se apresenta na Mostra de Teatro de S. Miguel Paulista - Foto: Bob Sousa

Azar do Valdemar, da Cia. dos Inventivos, está na Mostra de Teatro de S. Miguel Paulista – Foto: Bob Sousa

Por Miguel Arcanjo Prado

Quem pensa que o teatro paulistano só acontece na região central da cidade está enganado. Nas regiões mais afastadas do centro, espetáculos, grupos e mostras conquistam cada vez mais o público com peças que apresentam históricas potentes e novas temáticas.

Edson Paulo Souza, do Buraco d'Oráculo - Foto: Divulgação

Edson Paulo Souza, do Buraco d’Oráculo – Foto: Divulgação

Este é o caso da bem sucedida Mostra de Teatro de São Miguel Paulista, na zona leste paulistana. Organizado pelo grupo Buraco d’Oráculo, o evento começou em 2002 e chega à 10ª edição entre 13 e 22 de maio, com 16 espetáculos gratuitos, entre eles “Azar do Valdemar”, da Cia. dos Inventivos.

Para Edson Paulo Souza, coordenador da Mostra, é primordial dialogar com a região: “É importante fazer teatro do ponto em que estamos localizados, considerando o pertencimento ao seu entorno, sem deixar de questionar a qual periferia ou a qual centro pertencemos”.

Souza lembra que o teatro nestas áreas busca novas temáticas em relação ao teatro do centro da cidade: “Histórias que relatem o cotidiano, que promovam a reflexão, que estimule a forma de pensar a vida e o sistema político”.

Ele reforça que os moradores costumam lotar as sessões. “A Mostra se tornou a ação do Buraco d’Oráculo mais efetiva no bairro. Temos sempre um grande público que, muitas vezes, supera o número de pessoas presentes em algumas salas de teatro da cidade”, afirma Souza.

Lina Agifu na peça "Antígona" - Foto: Ale Carolo

Lina Agifu na peça Antígonas – Foto: Ale Carolo

A Cia. Fábrica São Paulo também busca o espectador das regiões mais afastadas do centro com seu novo espetáculo, “Antígonas”, sob direção de Mário Santana e com dramaturgia de Calixto de Inhamuns a partir do texto clássico de Sófocles adaptado ao teatro de rua. A obra faz 13 sessões gratuitas ao ar livre nas próximas semanas em lugares da capital paulista como São Miguel Paulista, Perus, Freguesia do Ó e Cidade Tiradentes.

Atriz da peça, Lina Agifu diz que a preocupação do grupo é se comunicar com todo tipo de público. “Achamos importante levar o espetáculo para locais que tenham um público com menos acessibilidade ao teatro”, fala. “A peça torna-se uma experiência marcante e acaba por formar público para as artes”, complementa.

Vanessa Biffon em Guerrilheiro Não Tem Nome - Foto: Alan Siqueira

Vanessa Biffon em Guerrilheiro Não Tem Nome – Foto: Alan Siqueira

Outra que se apresenta em teatros da periferia paulistana nos próximos dias é a atriz Vanessa Biffon, em cartaz na peça “Guerrilheiro Não Tem Nome”, sobre a Guerrilha no Araguaia na década de 1970, sob direção de Anderson Zanetti com o Grupo Teatral Mata!: “A vida na cidade de São Paulo não se concentra só em um ponto”, enfatiza.

Por isso, ela gosta de viajar a cidade com sua peça. “Sinto que na periferia as pessoas têm uma curiosidade grande, sobretudo com a forma épica que a gente faz teatro “, declara. Vanessa reforça que é preciso ainda acabar com a ideia de “levar cultura à periferia”: “Lá tem cultura, teatro, arte e grupos ativos. O que precisamos é conectar mais a cidade”, pede.

Alexandre Mate e Mario Bolognesi: novas temáticas e teatro pulsante - Fotos: Bob Sousa

Alexandre Mate e Mario Bolognesi: novas temáticas e teatro pulsante – Fotos: Bob Sousa

Professor doutor e diretor do Instituto de Artes da Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho), Mario Fernando Bolognesi lembra que o teatro feito na chamada periferia se aproxima mais dos moradores do entorno porque “está muito mais próximo da realidade daquele lugar onde se insere”. Para o estudioso, “este teatro pede novos temas e novas formas, porque propõe espaços físicos e espaços sociais diferenciados em relação aos do centro da cidade”.

Pesquisador do teatro de grupo e teatro de rua na cidade de São Paulo, Alexandre Luiz Mate, também professor doutor no Instituto de Artes da Unesp, afirma que, “apesar de esta produção ser desconhecida pela quase totalidade das pessoas”, há uma vida teatral “absolutamente significativa” nas regiões mais afastadas do centro paulistano. “Nesses espaços mais distanciados das áreas consideradas centrais, a atividade teatral pulsa, e pulsa de uma maneira constante”, celebra.

X Mostra de Teatro de São Miguel Paulista, organizada pelo Grupo Buraco d’Oráculo
Quanto: Grátis 
Quando e onde:
13 a 22/5/2016, praça do Casarão e praça Guanambi, em São Miguel Paulista, zona leste, São Paulo
Conheça a programação completa

“Antígonas”, da Cia Fábrica São Paulo

Quanto: Grátis
Quando e onde:
14/05 (sábado) – 18h30 – Local: Ocupação Casarão Vila Mara – Praça do Casarão – Vila Mara, São Paulo
15/05 (domingo) – 16h – Ocupação Artística Canhoba – Praça Canhoba – Perus, São Paulo
21/05 (sábado) – 17h – Largo da Matriz de Nossa Senhora do Ó, 215 – Freguesia do Ó, São Paulo
04/06 – 16h – Local: Instituto Pombas Urbanas – Av. dos Metalúrgicos, 2100 – Cidade Tiradentes, São Paulo tel. 11 2285-7758
11/06 – 16h – Local: Casa de Cultura Palhaço Carequinha – Rua Professor Oscar Barreto Filho, 252 – Parque América (Grajaú), São Paulo tel. 11 5924-9135
18/06 – 16h  – Praça Aleixo Monteiro Safra (Praça do Forró ) – São Miguel Paulista, São Paulo
19/06 – 16h  – Largo do Rosário – Penha de França (Festa do Rosário 2016), São Paulo
25/06 – 16h  – Casa de Cultura Chico Science – Rua Abagiba, 20 – Ipiranga, São Paulo, tel. 11 2969-7066 / 2352-1138
Classificação etária: Livre

“Guerrilheiro Não Tem Nome”, do Grupo Teatral Mata!
Quanto: Grátis
Quando: 13 e 14/5, às 20h, 15/5, às 19h
Onde: Teatro Zanoni Ferrite – Av. Renata, 163, Vila Formosa, zona leste, São Paulo
Classificação  etária: 16 anos

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