Você tem fôlego? Peças fazem público andar por São Paulo

Cena da peça Entre Vãos no metrô de SP - Foto: Alécio Cezar/Divulgação

Cena da peça Entre Vãos na linha vermelha do metrô de SP – Foto: Alécio Cezar/Divulgação

Por Miguel Arcanjo Prado

Nada de ficar quietinho sentado em uma poltrona. Em alguns espetáculos apresentados em São Paulo, o espectador precisa de fôlego a mais e usar as próprias pernas para acompanhar o desenrolar da história, seja caminhando pelas ruas, pelo metrô ou até mesmo dentro de um casarão.

Na peça “Entre Vãos” o público de apenas 15 pessoas é divido em três diferentes locais e convidado a andar pelo centro de São Paulo para acompanhar a trajetória de quatro personagens: uma balconista, um livreiro de sebo, uma guiadora e uma empreendedora comercial. A obra do coletivo teatral A Digna em parceria com o grupo O Cafofo é inspirada na história do prédio paulistano São Vito, que ficou conhecido como Treme-Treme, demolido em 2011. Luiz Fernando Marques dirige a montagem.

“Quando propomos uma relação não convencional para o público, a relação dele com a obra já parte de um outro lugar, a qualidade do encontro ganha contornos de extraordinário”, analisa Marques.

O diretor diz que não tem cuidados especiais com o fato de a peça se passar também na rua. “O inesperado, o casual é muito bem-vindo”, afirma, antes de citar José Saramago em seu “Ensaio sobre a Cegueira”: “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”.

“Entre Vãos”
Quando: Sábados e segundas, 15h. 110 min. Até 20/6/2016
Onde: É preciso fazer reserva para saber o endereço do ponto de encontro pelo site: www.adigna.com/entrevaos; tel 11 98846-6080
Quanto: R$ 10
Classificação etária: 16 anos

O ator Daniel Ortega em "Neverland" - Foto: Ana Secco/Divulgação

O ator Daniel Ortega em “Neverland” na rua Augusta – Foto: Ana Secco/Divulgação

Já a rua Augusta, nas proximidades da av. Paulista, é cenário de “Neverland ou As (In) Existentes Faixas de Gaza”, da Cia. Artehúmus de Teatro. Durante o percurso, os 30 espectadores se encontram com uma moça sem identidade e com uma mulher que busca alguém com quem possa tomar um chope.

O diretor Evill Rebouças conta que “o retorno dos espectadores tem sido muito positivo”: “Falam da alegria, da potencia que é poder ocupar as calçadas, as ruas, o lugar do trânsito”. Para ele, “tirar os espectadores do lugar convencional é fundamental para que possamos lhes dar outra possibilidade de percepção”. “Muitos dizem que se sentem personagens dessa aventura, até porque recebem um kit viagem que os diferencia dos transeuntes comuns e são vistos também como personagens do espetáculo”, conta.

A rua Augusta foi escolhida por ter “muitas tribos”. Os frequentadores do local também entram na história. “Os estamos chamando de ‘convivas’. Alguns se oferecem para participar das cenas com os performers em certos momentos. Era o que almejávamos, que os ‘convivas’ fossem também protagonistas”, fala Rebouças.

“Neverland ou As (In)existentes Faixas de Gaza”
Quando: Quinta e sexta, 19h30. 90 min. Até 13/5/2016
Onde: Saída da Rua Augusta com Peixoto Gomide, Cerqueira César, São Paulo, tel. 11 94126-7714
Quanto: grátis – é preciso reservar pelo e-mail artehumus@gmail.com, informando nome completo, RG e telefone; só tem 30 lugares por sessão
Classificação: 16 anos

A atriz Isadora Petrin e público caminham por Heliópolis em "Utopia" - Foto: Weslei Barba/Divulgação

A atriz Isadora Petrin e público caminham por Heliópolis em “Utopia” – Foto: Weslei Barba/Divulgação

Outra peça que aposta em um público itinerante é “Utopia”, do Grupo Arte Simples de Teatro. A obra se passa em ruas, becos, vielas e até lajes da comunidade de Heliópolis, na zona sul paulistana. Com foco em dramas femininos, as personagens da peça representam as moradoras da maior favela paulistana, com 225 mil habitantes.

A experiência proposta pelas diretoras Tatiana Rehder e Tatiana Eivazian a partir da dramaturgia de Verônica Gentilin e do grupo é dialogar com a comunidade. E apresentar um novo olhar sobre as mulheres de Heliópolis.

“Não queremos dar uma conotação poética e romântica para a comunidade, mas mostrar o abandono dessas mulheres, sua força e independência para, diante das dificuldades e tragédias, dar a volta por cima, tocar a vida e cuidar dos filhos”, diz Tatiana Rehder sobre a obra apresentada apenas para 20 pessoas por sessão.

Tatiana Eivazian diz que “cada espetáculo é uma emoção”. E explica o porquê: “A produção tem que estar sempre atenta com as cenas, com os espectadores e com o movimento nas ruas. Levar o público para a rua é muito diferente de estar na proteção da caixa preta. Em ‘Utopia’, a arte, a vida e a arquitetura se complementam. Cada pessoa escolhe qual história quer ver naquele momento”, fala.

Ela lembra que a comunidade recebe bem a peça. “Como somos atuantes em Heliópolis há sete anos, os moradores estão habituados com o nosso teatro. Demonstram respeito pelo que estamos fazendo e se sentem à vontade para interagir, de forma natural e espontânea. Eu diria que eles são excelentes ‘atores’ involuntários”, conclui.

“Utopia”
Quando:
Sábado e domingo, 16h. 100 min. Até 12/6/2016 – Excepcionalmente não haverá peça no dia 5/6
Onde: Saída do CEU Heliópolis, pátio – Av. Estrada das Lágrimas, 2385, Heliópolis, São Paulo – Atenção: há transporte grátis de van do metro Sacomã, na saída da rua Silva Bueno. É preciso reservar pelo telefone 11 96848-6554 ou pelo e-mail reserva@artesimples.com.br
Quanto: Grátis
Classificação: livre

Casarão abriga o espetáculo "Medo" - Foto: Divulgação

Casarão abriga o espetáculo “Medo” – Foto: Divulgação

Becos também são explorados pela Companhia de Teatro Heliópolis na peça “Medo”. No caso, os cantos escuros de um casarão. Andando pelos cômodos, subindo e descendo as escadas, o público encontra os personagens que contam as histórias das mulheres que perderam seus filhos nos atentados que ocorreram em São Paulo em 2006.

Com texto de Gustavo Guimarães Gonçalves e direção e concepção de Miguel Rocha, a peça mistura o seleto público de 15 pessoas em diferentes espaços, criando o que chamam de “atmosfera nebulosa”. O diretor lembra que  a casa funciona como um labirinto, para que o espectador se sinta “perdido, desorientado e sem rota de fuga”.

“Desde o inicio, a ideia era que o público passasse por uma experiência. Trabalhamos na perspectiva de criação de um experimento que fosse gerador de insegurança, mal estar e opressão. Para isso lançamos mão de elementos como sons, silêncio, escuridão, odores e água”, explica o diretor.

Tudo isso para mostrar “o efeito do medo, que nos torna refém”: “E, quando tratamos do medo da violência, o efeito é fica mais latente, pois nos grandes centros, estamos sempre expostos a situações de risco”, afirma Rocha, que usa vultos e becos da casa para criar “sensações” em seu espectador.

“Medo”
Quando: Sábado e domingo, 20h. 70 min. Até 8/5/2016
Onde: Casa de Teatro Maria José de Carvalho – Rua Silva Bueno, 1.533, Ipiranga, São Paulo, tel. 11 2060-0318; como só tem 15 lugares é preciso agendar pelo e-mail ctheliopolis@ig.com.br
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada)
Classificação etária: 14 anos

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