“Abaixo o rótulo”, diz Gisa Guttervil ao voltar com Fando e Lis

Gisa Guttervil, em primeiro plano, com Leona Jhovs em Fando e Lis - Foto: Ricardo Cruz/Divulgação

Gisa Guttervil, em primeiro plano, com Leona Jhovs em Fando e Lis – Foto: Ricardo Cruz/Divulgação

Por MIGUEL ARCANJO PRADO

Paranaense radicada em São Paulo, a atriz Gisa Guttervil está de volta, de uma certa forma, ao seu começo no palco.

A partir desta quarta (20), ela encena no palco do Espaço dos Parlapatões, ponto nevrálgico da praça Roosevelt, em São Paulo, a peça Fando e Lis, do surrealista espanhol Fernando Arrabal, que também foi autor da primeira peça que fez na vida, Amores Impossíveis, com a qual ganhou o prêmio de melhor atriz do Teatro Guaíra, em Curitiba.

Na peça atual, vive Fando, enquanto Lis é interpretada pela atri transexual Leona Jhovs [leia entrevista com Leona no UOL].

“Fando não é um personagem leve de se interpretar”, avisa Gisa. “Tenho de pensar como homem, o que um homem faria nas situações colocadas pelo texto, na atitude física”, explica.

Mesmo assim, encontra muitas semelhanças com o personagem. “Tenho dele a ingenuidade, a impulsividade, a força física, o pensamento rápido e a hiperatividade”.

A colega de elenco Leona Jhovs parece concordar: “A Gisa vem sendo uma surpresa a cada dia, uma menina, mulher, um doce, um furacão”. E prossegue: “Pra ela, parece que não tem tempo ruim. Agora, não pisa no calo dela, porque aí você descobre que essa pequena não tem pavio [risos]”.

Gisa Guttervil, Billy Eustaquio, Gui Alves e Leona Jhovs - Foto: Ricardo Cruz/Divulgação

Gisa Guttervil, Billy Eustaquio, Gui Alves e Leona Jhovs – Foto: Ricardo Cruz/Divulgação

“Texto maldito”

Mas voltemos a Fando e Lis. Gis conta que foram os amigos da FAZ Centro de Criação que a encorajaram a levar o texto ao palco, sob direção de Erika Barbosa, com assistência de Samira Lochter.

No começo, quem faria Lis seria Suzana Alves, que ficou famosa como a Tiazinha. “Infelizmente, não rolou”, explica Gisa, que enfrentou percalços para concretizar a peça. “Foi a primeira produção na vida que me fez quase desistir de ser produtora, tivemos muitos problemas. Acredito que esse é um texto maldito, igual Macbeth, do Shakespeare”, afirma.

Mesmo assim, levantou sozinha e na raça o espetáculo. “Estamos nos virando conforme o tempo e as coisas andam. Agradeço a todos que acreditaram neste sonho. Tudo é na parceria, não gastei um real até agora”, comemora.

Sem medo de rótulos: Gisa Guttervil e Leona Jhovs, queer e trans em Fando e Lis - Foto: Ricardo Cruz/Divulgação

Sem medo de rótulos: Gisa Guttervil e Leona Jhovs, queer e trans em Fando e Lis – Foto: Ricardo Cruz/Divulgação

“Abaixo o rótulo”

Questionada se o fato de a peça ter uma mulher fazendo Fando e uma transexual fazendo Liz é uma forma de questionar os modelos de gênero vigentes na sociedade brasileira, ela diz que “sim”.

“A gente vive na rotulação, eu me incluo nisso, porque se for pra conotar, sou uma atriz/pessoa Queer. Mas isso é tão pequeno, não me faz ser algo diferente. Somos humanos com qualidades e defeitos. Temos uma história a ser contada de nossa educação e criação. Por isso, convidei a Leona para fazer a Lis. Abaixo o rótulo!”

Antes, quem fazia Lis era a atriz Leona Garrido, que precisou deixar a peça por conta de um outro trabalho. “A minha ideia era sempre ter uma trans como Lis”, confessa Gisa, que aproveita para elogiar os outros dois atores da peça: Gui Alves e Billy Eustáquio, que toparam “incrivelmente” embarcar nesta história de dois seres errantes em um mundo que já acabou.

Sobre a Lis de Leona, evita comparar com a feita por Lorena. “A Leona trouxe outra Lis, a Lis dela, e ela fez isso em pouco tempo. Depois dela, meu Fando é outro. Parece que ele agora tem mais idade, é mais velho de tempo do que o anterior. Ele é mais consciente do que o outro”, define.

“Fando e Lis”
Quando: Quarta, 21h. 55 min. Até 25/5/2016
Onde: Espaço dos Parlapatões – Praça Roosevelt, 158, São Paulo – tel. 11 3258-4449
Quanto: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada)
Classificação etária: 16 anos

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1 Resultado

  1. Phillipe disse:

    Vou concordar com ela quanto à questão dos rótulos, até porque já pesquisei sobre transexualidade por motivos acadêmicos.

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