Conheça um pouquinho da história de Nilta Murcelli, a peruqueira queridinha do teatro e da TV

Nilta Murcelli - Foto: Divulgação

Por BRUNA CRISTINA FERREIRA*

Sabemos que algumas vezes a arte flerta com a vida real. Em alguns casos, ela assume um caso de amor verdadeiro, um casamento que nem precisa de papel passado. Essa é a relação que se estabeleceu entre algumas criações e o trabalho de Nilta Murcelli, a peruqueira gentil, queridinha de alguns artistas.

Ela começou batalhando como cabeleireira em 1962 e só veio se consolidando na carreira desde então. Na década de 1980, Nilta já era uma profissional engajada nas questões da profissão, quando deu uma guinada. Ela assumiu o comando de uma tradicional estabelecimento de perucas na rua Augusta, em São Paulo, cercada por tradicionais espaços culturais da cidade.

Foi lá que estabeleceu seu primeiro contato com o mundo artístico. A primeira atriz que a procurou foi apenas Regina Duarte. Na época, ela estava se preparando para Chiquinha Gonzaga.

A partir daí, Nilta só ganhou mais clientes “especiais”.

Ela já trabalhou para Claudia Raia, em Cabaret, Gloria Menezes, em Ensina-me a Viver, entre outras que ela mesma conta na reportagem. Perguntei a ela se alguma celebridade tenta esconder a careca usando perucas. Não custa tentar, né?

Nilta Murcelli - Arquivo Pessoal

BRUNA CRISTINA FERREIRA – Você começou a trabalhar com cabelos em 1962. Naquela época, era mais difícil para as mulheres investirem na carreira. Como foi para você?
NILTA  MURCELLI – Naquela época era mais difícil. Os produtos eram todos importados e não havia apoio das empresas que, hoje em dia, apoiam os cabeleireiros, as viagens eram caras e os outros profissionais não compartilhavam de suas técnicas. Quando as mechas começaram a fazer sucesso, eu não sabia fazer. Fui até trabalhar num outro salão para tentar aprender, mas os outros profissionais cuidavam dos cabelos de suas clientes em cabines para ninguém ver. Realmente não era fácil.

BRUNA CRISTINA FERREIRA – Por que você escolheu se especializar em cabelos? Era uma jovem vaidosa?
NILTA MURCELLI – Eu gostava muito e tinha muita vontade de aprender e fui me apaixonando. Não era muito vaidosa não, mas cuidava dos meus cabelos e das unhas. Na época, anos 60,  surgiram os bobes, antes só usávamos rolinhos com os grampos. Quando eu comecei a usar os bobes, fiz sucesso com as vizinhas.

BRUNA CRISTINA FERREIRA – O seu primeiro salão foi em sua casa? Como aconteceu?
NILTA MURCELLI – Foi na garagem de casa na Vila Medeiros,  aplicando com as vizinhas o que eu fazia em mim. Um dia, ouvindo no rádio sobre um curso, fui me matricular para tentar aprender. Mas o curso só ensinou os primeiros passos. Depois disso fui atrás de empresas para tentar aprender mais.

BRUNA CRISTINA FERREIRA – É verdade que você ganhou o primeiro secador de cabelos do seu sogro?
NILTA MURCELLI – Sim, meu querido sogro, seu Juvenal. Me prometeu um secador com o seu primeiro dinheiro da aposentadoria. Foi muito bom, pois a partir daí minha clientes não precisavam mais dormir de bobes.

BRUNA CRISTINA FERREIRA – Você tem filhos, Nilta?
NILTA MURCELLI – Fui casada com um marido muito bom para mim e estou viúva desde 1997. Tenho uma filha, duas netas, que atualmente trabalham comigo, e três bisnetas. Costumo dizer que somos a casa das sete mulheres.

BRUNA CRISTINA FERREIRA – Como foi que começou a desenvolver perucas e apliques?
NILTA MURCELLI –
Na década de 60, toda mulher usava peruca para mudar o visual, mas eram só sintéticas. Como eu cortava muitos cabelos, comecei a fazer perucas naturais com os cabelos que eu cortava. A primeira foi feita da seguinte forma, eu comprei uma tela de filó, com ela fiz uma touca que eu enchi de cabelo com uma agulha de crochê e fez o maior sucesso. Os apliques foram criados inspirados no look da Wanderlea, ela usava aquele rabo com aplique em cima. Comecei a usá-los em clientes que tinham poucos cabelos.

 BRUNA CRISTINA FERREIRA – Em 1991, me parece que sua história mudou de vez, com a compra de um salão na Augusta. Como aconteceu?
NILTA MURCELLI – Em 1980, fui trabalhar num salão no Belém e acabei proprietária e também fazia parte da Febraca e Associação dos Cabeleireiros que, hoje, infelizmente, faliu. Eu trabalhava com o presidente, seu Gilson Máximo. Na época, eu fazia parte da diretoria. A Associação ajudava os pequenos cabeleireiros que não tinham recursos para viagens, revistas. Fazia isso porque sabia da dificuldade ao ter iniciado de baixo. Em 1981, seu Gilson, que tinha um salão com vendas de perucas nos Jardins, resolveu vendê-lo para minha felicidade e a dele, que sabia que eu poderia dar continuidade ao seu trabalho.

Claudia Raia e Nilta Murcelli - Arquivo Pessoal

BRUNA CRISTINA FERREIRA – Quando foi que que começou a ser procurada por artistas?
NILTA MURCELLI – Estando na rua Augusta comecei a ser mais procurada por produtores para empréstimos de perucas para teatro e televisão.

BRUNA CRISTINA FERREIRA – Você se lembra quem foi a primeira atriz que a procurou?
NILTA MURCELLI – Um belo dia, entrou em nosso salão nossa querida Regina Duarte, no inÍcio das gravações da Chiquinha Gonzaga e essa incrível atriz me ajudou muito a ficar conhecida. Nos demos bem e ela gostou muito do meu trabalho. A partir daí surgiram outros artistas como Luana Piovani, que também é um amor, que costumava comemorar seus aniversários de perucas.  Outras como Claudia Raia, Xuxa, Debora Secco…

BRUNA CRISTINA FERREIRA – Para artistas, quais foram os seus trabalhos mais marcantes?
NILTA MURCELLI – O mais marcante foi Chiquinha Gonzaga, me chamaram até para ir ao Rio para produzir as transformações nos cabelos de Regina Duarte e sua filha Gabriela Duarte que envelheciam durante a minissérie.

BRUNA CRISTINA FERREIRA – Alguma vez já enfrentou alguma atriz muito exigente?
NILTA MURCELLI – Os artistas têm aquela responsabilidade por seu trabalho, por isso, naturalmente, alguns chegam estressados, mas depois que a gente conversa e que eles sentem segurança com nosso trabalho, conhecendo nossa variedades de perucas, franjas e apliques, aí todos ficam calmos, são todos legais. É muito gratificante trabalhar com  artistas.

BRUNA CRISTINA FERREIRA – Se lembra de alguma situação engraçada com artistas e perucas que tenha vivenciado?
NILTA MURCELLI – Com a Gloria Menezes, em Ensina-me a viver, eu queria caprichar mais na peruca, mas ela preferiu deixar o mais simples possível.

BRUNA CRISTINA FERREIRA – Conta a verdade: tem alguma celebridade que finge que tem cabelo, mas é careca?
NILTA MURCELLI – Olha, você quer brincar comigo com essas perguntas [risos]. Não conheço nenhuma, não!

BRUNA CRISTINA FERREIRA – Para quem gostaria de fazer uma peruca ou aplique um dia?
NILTA MURCELLI –
Eu gostaria muito que, um dia, a Xuxa me procurasse para eu poder mudar um pouco seu visual. Faria algo mais glamouroso e deixaria o cabelo dela mais comprido, mas adoro ela, já fiz perucas e apliques para vários de seus trabalhos.

*BRUNA CRISTINA FERREIRA é repórter do Portal R7 e cobre o blog interinamente durante as férias do colunista e editor de cultura Miguel Arcanjo Prado.

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