Crítica: Gattu espeta políticos com riso mordaz em Reino 2

Eloisa Vitz, Daniel Gonzales e Miriam Jardim em Reino 2: deboche da política atual – Foto: Renato Rebizzi

Por MIGUEL ARCANJO PRADO

Em Reino, a dramaturga e diretora Eloisa Vitz fez um acerto com seu Grupo Gattu ao propor um teatro no qual fábula infantil se mistura de forma corrosiva ao teatro político.

Diante do bem sucedido espetáculo, propôs uma continuação: Reino 2, em cartaz no Teatro do Sol, em Santana, na zona norte paulistana.

Acostumado a um teatro infantilizado (mesmo em muitas montagens adultas), o público abraça a obra, vendo ou não suas nuances políticas ferinas e debochadas ao mesmo tempo.

Um acerto é trocar a plateia do Teatro do Sol de lugar. O povo foi para o lado inferior, enquanto a encenação ocupa a arquibancada, em um plano superior, demonstrando o poder que paira sobre a população.

A continuação mantém a intenção da primeira montagem, mas não a supera.

É clara a associação da rainha mandona e vaidosa vivida por Eloisa com a figura da Presidente da República, sempre rodeada por infinitos ministros que pouco fazem de concreto (na peça ou na vida real?). Também estão presentes as concessões cotidianas pelo poder, enquanto o povo, de memória frágil, a tudo esquece.

Mais uma vez, o texto acerta ao colocar o Ministro da Cultura como uma espécie de bobo da corte, já que o assunto de sua pasta não é tão interessante assim para os poderosos. Resta a ele ser uma espécie de verniz ambulante.

O teatro também entra na dança, em uma cena de deboche do êxito dos musicais da Broadway, com uma divertida versão mambembe de O Rei Leão.

Eloisa é quem mais se destaca no elenco (no qual faz falta Marília Goes, um dos destaques de Reino, com sua presença inquestionável). Mas, talvez, aí também more o ponto frágil da montagem. Enquanto Eloisa está num registro crível e ao mesmo tempo profundamente irônico, boa parte do elenco está mais próxima do registro de um teatro infantil.

E, apesar de a obra utilizar-se dos elementos do teatro infantil para contar sua fábula política, trata-se de uma montagem adulta. E é esta dualidade que a torna potente. Eloisa, como diretora, precisa conseguir maior unidade nas atuações de seu elenco. Assim, a obra crescerá.

Um retoque final na dramaturgia de Reino 2 cairia bem, para que a obra ganhe um norte. Assumir claramente um discurso político, mesmo que seja contra todos os poderosos independentemente de partidos, daria mais peso ao espetáculo.

Em Reino, isso ficava mais claro, quando debochava também do governo da província por ter deixado o povo sem água ao mesmo tempo em que atacava a poderosa Rainha.

De todo modo, Reino 2 é a continuidade do Grupo Gattu em espetar o poder com riso mordaz. Faz muito bem. Este é o papel do artista inteligente e atuante. Estar ao lado do povo e não do poder. Isso não pode ser esquecido jamais.

Reino 2
Avaliação: Bom
Quando:
Sábado, 21h, domingo, 20h. 60 min. Em cartaz por tempo indeterminado.
Onde: Teatro do Sol (r. Damiana da Cunha, 413, Santana, São Paulo, tel. 0/xx/11 3791-2023)
Quanto: Grátis
Classificação etária: Livre

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1 Resultado

  1. Phillipe disse:

    REINO 2 é um grito pela democracia. É teatro de vanguarda, revolucionário e não rebelde de “shopping center”. Neste momento político específico, aplaudo com veemência a coragem de Gattu de mostrar uma verdade que interessa a muitos esconder. A Arte pode ser apenas puro entretenimento, mas pode ser também instrumento político para quem quer enxergar.

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