Crítica: Bruno Motta supera texto de 1 Milhão de Anos em 1 Hora

O humorista Bruno Motta se apresenta no Rio com seu solo 1 Milhão de Anos em 1 Hora – Foto: Divulgação

Por MIGUEL ARCANJO PRADO

Bruno Motta é um dos humoristas mais inteligentes da nova geração. Tem pegada ácida, mas sem partir para a ofensa barata, como é comum no trabalho de muitos de seus colegas.

Outra coisa que o diferencia Bruno de nomes como Rafinha Bastos e Danilo Gentili é que seu humor ataca os opressores e não os oprimidos, como o boa receita de humor manda fazer. Afinal, bater em quem já apanha da vida é covardia.

Bruno coloca sua capacidade de segurar uma plateia em ação na montagem 1 Milhão de Anos em 1 Hora, que chega ao Teatro Leblon, no Rio, no próximo dia 9 de maio, após temporada de êxito no Teatro Nair Bello, em São Paulo.

A comédia do norte-americano Colin Quinn teve direção original de ninguém menos do que Jerry Seinfeld em Nova York. A versão brasileira é assinada por Marcelo Adnet, com direção de Cláudio Torres Gonzaga.

A premissa do espetáculo é simples: contar toda a evolução humana em uma hora, como diz o título. E, nisto, Bruno Motta é preciso e faz até questão de utilizar um relógio para garantir que o tempo seja cumprido — ao contrário de Claudio Botelho, que trapaceou a plateia fazendo durar bem mais do que duas horas o espetáculo Todos os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos, o que fez com que muitos espectadores deixassem a sala, sentindo-se desrespeitados pelo título enganoso.

Bruno tem a elegância de virar o relógio para o fundo do palco, enquanto a peça acontece, para que o público não se distraia com a contagem, o que faz muito bem.

O texto é divertido em muitos momentos, traça alguns perfis impagáveis de ícones históricos, mas, em certos momentos, carrega certa dose de preconceito: sobretudo com muçulmanos, latino-americanos e africanos.

Isto reflete que a obra não deixa de ser uma visão da história a partir do ponto de vista de um homem branco e norte-americano. A plateia precisa estar atenta a isso, para não tomar o dito no palco como “verdade história absoluta”. Sabemos que, claramente, é uma peça de ficção, mas em se tratando de público nacional, é sempre bom reforçar.

Os melhores momentos da montagem são quando Bruno Motta foge do texto original e é ele mesmo, improvisando ou mesmo fazendo textos que já integram seu repertório — quem acompanha o trabalho do artista certamente consegue reconhecer estes momentos. E a plateia reconhece isso, ao gargalhar com mais veemência nos momentos de autenticidade.

Isso nos faz chegar à seguinte conclusão: Bruno Motta não precisa de texto nova-iorquino para montar um espetáculo solo de humor. Ele mesmo é capaz de criar textos bem mais interessantes e de diálogos mais profundos com a plateia brasileira, a qual conhece como ninguém. O resultado quando este encontro acontece é riso farto.

1 Milhão de Anos em 1 Hora
Avaliação: Bom
Quando: Quinta, sexta e sábado, 21h. Domingo, 20h. De 9/5/2015 a 31/5/2015
Onde: Teatro do Leblon (r. Conde Bernadotte, 26, Leblon, Rio de Janeiro)
Quanto: R$ 50
Classificação etária: 14 anos

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1 Resultado

  1. Phillipe disse:

    Não poderia concordar mais com seu texto! Concordo com cada palavra posta. Principalmente com a frase “Afinal, bater em quem já apanha da vida é covardia”. Como se diz por aí, é fácil bater em cachorro morto. Daqueles desprovidos de quem os defenda, é muito confortável fazer troça. Acho não só uma covardia como uma falta de humanidade: muitas vezes a pessoa já apanhou tanto da vida (e sem merecer!) que, por uma questão de caridade cristã, não se deveria brincar com seus sentimentos. Algumas vezes emito fortemente meus pontos de vista por aqui, mas, no quotidiano, tento ser particularmente respeitoso com os menos favorecidos. Não sou perfeito, mas não quero ser eu a pessoa que causou um dissabor desnecessário a quem já possui uma vida sofrida. Há que se exercer a misericórdia!

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