Entrevista de Quinta: “É devagar que a vida vai dando certo”, diz Nany People

Nany People: estrela do humor nacional tem trajetória longa nos palcos do Brasil – Foto: Divulgação

Por MIGUEL ARCANJO PRADO

A vida é mesmo uma loucura que cai em cima da gente sem aviso. E a atriz e humorista Nany People sabe disso muito bem. Tanto que escolheu o título de TsuNany para seu novo show solo.

Na obra, que está em cartaz há quatro meses lotando o teatro Gazeta toda quinta às 21h e a partir de maio estará no Pikadero Fun House [veja serviços ao final], aborda de forma bem-humorada a imposição de padrões de beleza, sexuais e até tecnológicos na vida atual.

A despedida do Gazeta será no dia 7 de maio para uma apresentação especial em prol do Voluntariado Emílio Ribas. Além disso, Nany excursiona pelo País com Meninas Crescidas Não Choram e planeja segunda viagem ao Japão, onde fará Então Deu no que Deu – Do Outro Lado do Mundo.

A mineira criada em Poços de Caldas tem currículo artístico extenso: trabalhou em inúmeros programas de televisão, foi repórter especial de Hebe Camargo no SBT, integrou o elenco do reality A Fazenda, da Record, entre muitas outras coisas que fez na televisão. No teatro, também já esteve no palco atuando de peças clássicas de Brecht a grandes comédias que arrastam multidões, além de ter trabalhado por dez anos com o casal Nicette Bruno e Paulo Goulart no Teatro Paiol, em São Paulo. No jornalismo impresso, foi colunista da extinta G Magazine. Até porque Nany é avessa a classificações ou ao preconceito.

Querida no mundo das artes e nos bastidores deste, Nany People conversou com o Atores & Bastidores do R7 nesta Entrevista de Quinta. Falou de coisas sérias, mas também sorriu da vida, como é o seu cativante modo de ser.

Leia com toda a calma do mundo.

Nany People: sessão especial de TsuNany no dia 7 de maio no Teatro Gazeta – Foto: Divulgação

Miguel Arcanjo Prado – Você conseguiu lotar o Teatro Gazeta por quatro meses. Está feliz com esse sucesso numa casa tão importante da avenida Paulista?
Nany People – O balanço desta temporada é muito positivo. Fazer o Teatro Gazeta é um presente. Porque ele é muito importante. E a resposta do público foi enorme! Só estamos saindo porque o teatro é muito procurado por eventos empresariais durante a semana.

Miguel Arcanjo Prado – E vai para onde?
Nany People – Para o Pikadero Fun House, no bairro Vila Olímpia, que é dos meninos do Pânico. Estreamos lá no dia 8 de maio e fico em cartaz também às quintas, 21h, até o fim de junho. Continuar em São Paulo é um presente, porque aqui somos vistos e lembrados no País inteiro.

Miguel Arcanjo Prado – Você está planejando uma despedida especial no Gazeta?
Nany People – Sim. Vai ter no dia 7 de maio, uma quarta, um evento que me obrigo a fazer uma vez por ano, que é uma sessão voltada ao Voluntariado Emílio Ribas. Ele existe há dez anos e sou madrinha. É um trabalho muito lindo que eles fazem no Hospital Emílio Ribas com os pacientes e com as famílias que necessitam.

Miguel Arcanjo Prado – Como vai ser a sessão especial?
Nany People – Vai ser TsuNany do Bem e Convidados. Chamei humoristas amigos, que aceitaram de prontidão a fazer. Outros souberam e se ofereceram. O ingresso vai custar 30 reais e toda a renda será revertida para o Voluntariado Emílio Ribas. Minha meta é lotar os 700 lugares do Gazeta como fizemos durante toda a temporada!

Miguel Arcanjo Prado – Ano passado, eu me lembro que você foi para o Japão? É verdade que vai voltar para lá?
Nany People – Vou pela segunda vez, a convite do Luiz França, nosso embaixador do humor no Japão e está indo pela décima vez. Ano passado, fui em setembro. Fiz 16 shows em nove dias em mais de seis Estados japoneses. Agora, vou fazer o solo especial Então, Deu no que Deu do Outro Lado do Mundo. Fico 15 dias ao todo.

Miguel Arcanjo Prado – E quando voltar do Japão vai fazer o quê?
Nany People – No segundo semestre vou me dedicar a viajar com o espetáculo Meninas Crescidas Não Choram. Vou viajar 16 cidades paulistas pelo ProAC.

Nany People em um dos cartazes de divulgação do filme Hipóteses para o Amor e a Verdade – Arte: Laerte Késsimos

Miguel Arcanjo Prado – E o filme que você fez com o pessoal dos Satyros?
Nany People – Eu fiz com eles o filme Hipóteses para o Amor e a Verdade [veja o trailer], que é baseado na peça deles de 2010 e que deve estrear em 2015. Fui convidada a fazer o filme pela Luiza Gottschalk, que é atriz do grupo e ficou muito amiga minha na Fazenda, na Record. Na peça, a personagem que faço era feita por outra atriz, mas ela teve um problema nos olhos e não pôde entrar no filme. E teve uma pequena mudança. Na peça, era uma guia turística. Agora, virou uma locutora de rádio, para quem os ouvintes ligam e ela narra histórias da cidade de São Paulo.

Miguel Arcanjo Prado – Você sempre participa de vídeos de humor que fazem sucesso na internet.
Nany People – Participei da série do Fábio Rabin que se chama Longa-Metragem. Além disso fiz um vídeo com o dr. Jairo Bouer chamado DR – Destruindo Relacionamentos [risos]. Também fiz o Tapa na Cadela, que é uma paródia do vídeo Tapa na Pantera da Maria Alice Vergueiro [risos].

Miguel Arcanjo Prado – Nany, me explica uma coisa: você já foi do Satyros?
Nany People – Não. A minha história com os Satyros antecede à fundação do próprio Satyros. Eu participei da Cia. de Teatro Ava Gardner, que o Rodolfo García Vázquez dirigia antes de fundar o Satyros. Em 1988, fizemos o espetáculo Qorpo Santo, no Teatro Bexiga. Éramos 16 atores, e o Rodolfo estava começando a dirigir. Fazíamos a sessão maldita, à meia-noite.

Miguel Arcanjo Prado – Devia ser uma loucura…
Nany People – Era uma loucura mesmo. O texto era do José Joaquim de Campos Leão, que foi precursor do teatro do absurdo no Brasil. Ela era gaúcho e foi internado como louco por muito tempo.

Miguel Arcanjo Prado – Era todo mundo jovem?
Nany People – Éramos muito jovens, crianças. Era um jardim de infância! Eu fazia um homem negro que tinha um escravo branco, que era interpretado pelo hoje famoso estilista João Pimenta, que na época dividia apartamento comigo. Estava todo mundo começando.

Miguel Arcanjo Prado – Ainda não tinha o Ivam Cabral?
Nany People – Não, não tinha. O Ivam veio depois, quando chegou de Curitiba e fez um teste para entrar na peça, a convite de um amigo do grupo que era do Paraná. Mas aí depois a peça acabou logo, teve uma confusão e o grupo se desfez. Aí o Rodolfo se juntou com o Ivam para fundar os Satyros em 1989.

Miguel Arcanjo Prado – E como foi este reencontro com eles por meio do filme?
Nany People – Por coisas da vida, ficamos muito tempo sem nos falar. Voltei a ver o Ivam em 1998, quando nos encontramos no Festival de Teatro de Curitiba. Estava fazendo a peça Um Homem É um Homem, de Brecht, com direção do Alexandre Stockler, no Teatro Guairão. Eu interpretava a viúva Begbick e foi um grande momento na minha carreira.  E eles estavam com uma peça no Guairinha, que é do lado. O Ivam veio falar comigo… Anos depois, o Ivam apareceu um dia no Risorama [mostra de stand-up do Festival de Curitiba], que eu apresentei por dez anos. Então, esta reaproximação foi aos poucos. Agora, no filme, foi bem bacana. E eu fiz o filme por amor à arte, porque não teve cachê. O importante é dizer que foi a Luiza quem fez a ponte, quem me convidou realmente. E o Rodolfo foi cuidadoso comigo, me preservando em algumas cenas que na peça eram mais pesadas.

Miguel Arcanjo Prado – Tipo o quê?
Nany People – Gravei dois dias apenas. E tinha uma cena na boate que seria uma orgia no dark room, com uma cena de sexo em cima de um piano. Mas no filme ficou bem mais tranquilo que na peça. É que o filme fala sobre a vida dupla de todas as pessoas de São Paulo… Tem uma cena linda, que ficou quase o quadro Pietá, uma coisa muito renascentista. Tomara que entre na montagem final.

Nany no palco: ela tem viagem marcada para o Japão – Foto: Divulgação

Miguel Arcanjo Prado – Nany, muita gente não sabe que você é cria de Paulo Goulart e Nicette Bruno. Você sentiu muito a morte do Paulo, né?
Nany People – Sim. Fiz dez anos do Teatro Paiol com o Paulo Goulart e a Nicette Bruno. Eu era camareira do Ronaldo Ciambroni. Mas aí ele foi viajar e surgiu uma vaga de bilheteira no Teatro Paiol, na rua Amaral Gurgel. Comecei ali, depois fui para o escritório, depois para a produção, a técnica, e três anos depois, estreei no palco. Tudo isso fazendo o Teatro Escola Macunaíma e a Extensão Universitária em Interpretação na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). E com honra e louvor [risos]! Porque em 1987, ganhei o Festival de Monólogos de Franca com Porque os Teatros Estão Vazios, de Karl Valentin.

Miguel Arcanjo Prado – Como você se tornou madrinha do Voluntariado Emílio Ribas?
Nany People – Conheci o Voluntariado de tanto levar amigos para lá na época do boom da Aids. Ele é o segundo maior hospital de infectologia do mundo. É um trabalho lindo que eles fazem. Perdi muitos amigos para esta doença terrível. Era uma época que não tinha tratamento, coquetel.

Miguel Arcanjo Prado – Foi barra pesada, né?
Nany People – Eu sou de uma geração que sofreu muito. Eu perdi 13 amigos em um ano. O povo tomava novalgina porque não tinha coquetel! Eu sou de uma geração que a gente andava na rua e as pessoas saiam correndo. Gays não conseguiam alugar apartamento em São Paulo. Era um horror. Eu só sobrevivi porque não tinha muito identidade sexual nesta época. Porque eu tinha uma identidade sexual que transitava entre Maria Gadu e Mart’nália. Como ninguém sabia o que eu era direito, ninguém queria me pegar [risos].

Miguel Arcanjo Prado – Você demorou a ficar bem consigo mesma e a se resolver sexualmente?
Nany People – Miguel, eu fui ter uma vida sexual tranquila só depois dos 35 anos. Tem duas coisas que eu demorei: a dar e a tirar carteira de motorista [risos]. Foi tudo na mesma época. É devagar que a vida vai dando certo [risos].

TsuNany
Quando: 24 de abril (quinta) e 7 de maio (quarta), às 21h. Sessão de 7/5/2014 é beneficente para o Voluntariado Emílio Ribas
Onde: Teatro Gazeta (av. Paulista, 900, metrô Trianon-Masp, São Paulo, tel. 0/xx/11 3253-4102)
Quanto: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada) no dia 24/4/2014; já no dia 7/5/2014 a entrada é R$ 30
Classificação etária: 14 anos

Novo serviço a partir de 8/5/2014

TsuNany
Quando: 8/5/2014 a 26/6/2014, quintas, às 21h
Onde: Pikadero Fun House (r. Júlio Diniz, 176, Vila Olímpia, São Paulo, tel. 0/xx/11 3045-4146)
Quanto: R$ 40
Classificação etária: 14 anos

Veja o trailer do filme Hipóteses para o Amor e a Verdade:

HIPÓTESES PARA O AMOR E A VERDADE | Trailer Oficial [HD] | HYPOTHESIS FOR LOVE AND TRUTH | Official Main Trailer [HD] from Satyros Cinema on Vimeo.

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2 Resultados

  1. Phillipe disse:

    1. Há um mero erro de digitação: “Ffiz”, quando seria “Fiz”. É quando Nany fala sobre ser cria de Paulo e Nicette;
    2. Achei infeliz o comentário sobre a vida dupla de “todas as pessoas de São Paulo”. Isso é generalizar e nem todo o mundo em São Paulo tem vida dupla. Isso pode ser verdade para alguns, mas não para todos.

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