Bastidores da peça LoueLeo: quem faz a obra com a louca vida de Leo Moreira Sá

Elenco de Lou&Leo, capitaneado por Leo Moreira Sá (ao centro, de cinza), faz pose histórica para Bob Sousa: a partir da esq.: Beatriz Aquino, Tom Garcia, Leo Moreira Sá e Lucas Impallatory

Por Miguel Arcanjo Prado
Foto de Bob Sousa

Após cumprir temporadas de sucesso no Centro Cultural São Paulo e no Espaço dos Satyros 1, a peça Lou&Leo, com direção de Nelson Baskerville, volta ao cartaz nesta sexta (4), no Teatro do Ator, na praça Roosevelt, em São Paulo [veja serviço ao fim da reportagem].

A montagem conta a história de vida do transexual Leo Moreira Sá, que nasceu Lourdes e hoje é Leo.

Ele, que integrou a banda de punk rock Mercenárias nos anos 1980, teve uma vida tumultuada, repleta de aventuras, sexo, drogas e rock’n’roll.

O R7 invadiu os bastidores da montagem. E conta para você quem é quem na peça:

O ator Leo Moreira Sá resolveu contar sua história de vida no palco – Foto: Bob Sousa

Leo Moreira Sá tem história de vida que rende romance. Fazer peça de teatro foi fichinha. Nasceu Lourdes, estudou na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, foi baterista da banda de punk rock feminista Mercenárias, traficou drogas, foi casado com uma travesti, foi preso, saiu da cadeia, se misturou ao teatro e hoje é Leo, querido por todos na praça Roosevelt, reduto do teatro alternativo paulistano. Resolveu fazer de sua vida um espetáculo ao ver Luis Antônio – Gabriela, peça na qual o diretor Nelson Baskerville comoveu todo o Brasil com a Cia. Mugunzá contando a história de seu irmão travesti. Após chorar copiosamente, Leo chamou Baskerville para dirigir também sua história. “No palco, exponho toda a minha verdade, que é bem pesada, mas transformada em poesia”, diz.

Beatriz Aquino, a bela atriz cearense que hipnotiza a plateia em Lou&Leo – Foto: Bob Sousa

Beatriz Aquino é a grande tensão libidinosa de Lou&Leo. A atriz cearense de Fortaleza, radicada em São Paulo há 20 anos, é linda e sexy. “Era consultora de recursos humanos antes de virar atriz. Esta é minha segunda peça”, conta. Na montagem, que antes seria um monólogo, mas não resistiu ao furor de sua presença, vive a travesti que foi o grande amor de Leo, Gabriela. Na pele da pesonagem, abusa da sensualidade. E gosta. “Toda mulher tem isso de querer ser sensual. O que mais me atrai nela é o amor livre”. E revela que teve contato com a personagem original. “Nos falamos pela internet. A Gaby hoje vive na Europa. Ela me aprovou no papel”.

Lucas Impallatory define: “Eu e o Tom somos o colorido do espetáculo”- Foto: Bob Sousa

O ator Lucas Impallatory é falante, despachado. Lou&Leo é sua terceira peça. Adora o momento de se “montar” para fazer a obra dirigida por Nelson Baskerville. Sempre está em busca de dicas de maquiagem, para compor sua personagem. Ao lado de Tom Garcia, cumpre a função de uma espécie de coro da montagem. Por conta de sua espontaneidade, acabou ganhando uma personagem extra, a chefona da cadeia onde Leo foi preso. “Eu e o Tom somos o colorido do espetáculo”, define.

Tom Garcia, de Birigui para SP: “A gente chega para iluminar a escuridão” – Foto: Bob Sousa

O ator Tom Garcia vive a outra personagem que traz cor e vida ao drama denso de Lou&Leo. Mais tímido do que Lucas, o artista natural de Birigui, no interior de São Paulo — a mesma terra de Reynaldo Gianecchini —, está na capital paulista há quatro anos. Há três, faz parte de montagens do grupo Os Satyros, como Justine, 120 Dias de Sodoma e Satyros’ Satyricon. Este é seu sexto espetáculo na cidade. Sobre seu papel e de Lucas na peça, também dá sua definição: “A gente chega para iluminar a escuridão”.

Lou&Leo
Avaliação: Bom
Quando: Sexta, 23h. 50 min. Até 23/10/2013
Onde: Teatro do Ator (praça Roosevelt, 172, metrô República, centro, São Paulo, tel. 0/xx/11 3257-3207)
Quanto: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada)
Classificação etária: 16 anos

CRÍTICA, por Miguel Arcanjo Prado


Lou&Leo expõe de forma poética e crua o artista que fez da vida sua principal obra de arte

A verdade da vida impressiona. Assusta. Seduz. Ainda mais quando é uma vida de histórias fartas para se contar. A de Leo Moreira Sá é assim. Vida de romance. Nasceu mulher, mas quis ser homem. E conseguiu.

Saiu do interior rumo à metrópole. Onde se fez. Entrou na USP, mas largou as ciências sociais para virar baterista da primeira banda de punk rock feminista do País, as Mercenárias. Como toda banda de rock, terminou em briga.

Leo (à dir.) com as meninas da banda Mercenárias: ícone do rock brasileiro da década de 1980 – Divulgação

Depois, foi dono da boate Circus, que durou seis meses do auge à falência. Depois, teve lanchonete, casou com uma linda travesti chamada Gabi, se afundou nas drogas, virou traficante, foi preso por cinco anos e, por fim, entrou para a trupe do grupo teatral paulistano Os Satyros, onde tudo cabe.

Leo resolveu transforar tudo isso em peça de teatro: Lou&Leo.

A obra é dirigida por Nelson Baskerville, que repetiu elementos cênicos de seu grande sucesso teatral Luis Antonio – Gabriela, com a Cia. Mugunzá, sobre a história de seu irmão travesti.

Se o impacto da encenação como um todo desta última é mais forte, em Lou&Leo o que interessa é a história de Leo Moreira de Sá, nascido Lourdes.

Com ele ali, de verdade, testemunhando com seu corpo o mundo de sexo, drogas & rock’n’roll no qual se meteu para todo o sempre, não há contestação. Nem possibilidade de crítica.

A maior obra de arte de Leo Moreira Sá é ele mesmo. E que obra. Não há como ficar indiferente à sua presença. Aos 54 anos, é um garoto jovem e viril. E, o mais importante, ainda sonha.

Leo repassa sua vida louca aos olhos da plateia de forma dura, mas poética. Estão lá os abusos sofridos na infância, o vestido de bailarina que não cabia em seu corpo infantil, a loucura dos anos 1980, a decadência dos 1990, a ressurreição no século 21. Tudo, é claro, recheado de rock do bom e clima underground.

Além dos dois personagens travestis que fazem o coro, interpretados por Lucas Impallatory e Tom Garcia, no palco, em companhia de Leo, está uma musa automática do teatro brasileiro: Beatriz Aquino. Bela, forte e sedutora, a atriz é puro desejo. Tensão sexual em riste de todos.

Lou&Leo é um atestado que a vida não tem regras ou trilhas a serem seguidas por todos. Cada um tem a sua, com seus tropeços e méritos. Não há o que julgar. O que entender. O que aceitar. Porque a verdade da vida só exige respeito.

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3 Resultados

  1. Felipe disse:

    Acho válido que a peça aborde a transexualidade, até porque estudei academicamente acerca do tema. Entretanto, espero que a peça não glamurize o mundo das drogas, pois esta é uma opção equivocada.

  1. 10/10/2013

    […] Aquino, a Musa do Teatro R7, é atriz da peça Lou&Leo, em cartaz no Teatro do Ator, na praça Roosevelt, em São Paulo. Ela recebeu 3.776 votos, ou 60,2% […]

  2. 12/11/2013

    […] em busca de sua identidade. Uma peça repleta de sexo, drogas e rock’n’roll. Veja as fotos de bastidores. Quando: Terça (12), 21h30, 50 min., sala Ademar Guerra […]

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