Entrevista de Quinta – Diogo Liberano, o artista que faz um teatro carioca seco, concreto e cinza

Diogo Liberano tem apenas 25 anos e já é um dos nomes fortes do novo teatro carioca – Foto: Daniel Isolani/Clix

Por Miguel Arcanjo Prado*
Enviado especial do R7 ao Festival de Curitiba
Fotos de Daniel Isolani/Clix

Diogo Liberano tem apenas 25 anos. Mas já é nome reconhecido pela crítica teatral de todo o Brasil. Seu trabalho de conclusão do curso de direção teatral na UFRJ, Sinfonia Sonho, foi destaque no Festival de Curitiba de 2012.

Neste ano, volta ao evento como convidado pelos curadores da mostra oficial com Maravilhoso, que estreou nesta quarta (3) e faz outra sessão nesta quinta (4) no Teatro Bom Jesus, na capital paranaense, no qual assina dramaturgia. Ele também apresenta no Fringe, a mostra paralela, o espetáculo Vazio É o que Não Falta, Miranda, no qual também atua, além de assinar dramaturgia e direção. A peça é apresentada de sexta (5) a domingo (7), sempre às 18h, no TEUNI.

À frente do Teatro Inominável, cuja sede funciona em sua casa, no bairro de Vila Isabel, na zona norte carioca, o artista demonstra ter pés no chão, mesmo com o sucesso precoce nos palcos. É o último dos quatro filhos do casal formado pela professora Lucilia Liberano e o engenheiro Valcyr Cambraia, moradores de Vassouras, no interior do Rio, onde nasceu.

Apesar de ser o caçula, conquistou sua independência cedo. Mora sozinho desde os 15 anos. E na capital fluminense desde os 17.

Bem-humorado, diz ao Atores & Bastidores do R7 nesta Entrevista de Quinta que é “4D”. Diante de nosso espanto, explica, dando gargalhada: “sou diretor, dramaturgo, diabético e DJ”.

Leia com toda a calma do mundo:

Fluminense de Vassouras, Diogo Liberano está à frente do Teatro Inominável – Foto: Daniel Isolani/Clix

Miguel Arcanjo Prado – Você fez sucesso logo na primeira peça. Não ficou se achando?
Diogo Liberano – Não. Não ajuda nada ter este tipo de comportamento. Se achar não tem nada a ver. É um saldo de um trabalho que está apenas começando. Viemos, no ano passado, para o Fringe como uma aposta. E, felizmente, deu um retorno incrível. Sabíamos que vir para o Festival de Curitiba era apostar, mas acreditava muito em nosso trabalho. A repercussão que o festival nos deu nos acompanhou durante todo o ano passado.

Eu me lembro que na estreia de vocês praticamente todos os jornalistas foram vê-los.
Foi uma loucura. Lembro que vinham me perguntar se podiam liberar mais jornalistas, e eu disse, libera todo mundo! [risos]

E como veio o convite para participar este ano da mostra oficial?
Foi maravilhoso! E pra gente trazer Maravilhoso [risos], que é uma ideia do ator Paulo Verlings.

Como você lida com o sucesso?
Na verdade, a questão do sucesso é algo bem simples para mim. Eu não trabalho pensando nisso. Tem uma labuta diária no teatro, a companhia é na minha casa, o escritório é o meu quarto. Meu foco não é esse. Meu foco é fazer o teatro no qual acredito. Este é o meu lugar: como um artista. Não sou um modelo a ser seguido. Ainda tenho muito o que aprender.

Mas não rola inveja dos coleguinhas do teatro por você ter sido reconhecido tão cedo?
Sabe o que mais tem no Rio? É um investimento em parceria. Eu quero ir, mas quero que meu colega vá junto. Senão, o teatro morre. Temos de respeitar o lugar da diferença.

No Fringe e na mostra oficial: Diogo Liberano está com duas peças no Festival de Curitiba – Foto: Daniel Isolani/Clix

Aonde você quer chegar?
Acho que é naquilo que eu já estou fazendo. E pagar minhas contas, claro [risos]. Eu quero poder viver uma vida focada no trabalho e também me divertir, porque eu gosto também de diversão. É que sou workaholic total! Quero construir um trabalho consistente com a minha companhia, me desafiando sempre. Porque cada trabalho é uma arma que a gente aponta primeiro para a gente.

E qual é a cara do seu teatro?
Ele é concreto, seco e cinza. Porque esta mensagem turística do Rio não existe. É virtual. E eu comprei o Rio como cidade para eu viver. Quero que meu trabalho ajude a resolver o Rio. Porque o Rio é uma mentira. É a capital da TV. É pura edição e maquiagem. É enquadramento para foto. Mas a vida real não é a edição final. É um plano-sequência interminável. É por isso que meu teatro precisa ser seco, turvo e negativo.


*O jornalista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do Festival de Curitiba.

Veja a cobertura completa do R7 do Festival de Curitiba

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3 Resultados

  1. Felipe disse:

    Ele falou tudo!

  2. Isaura disse:

    parabéns pela entrevista. leve e profunda ao mesmo tempo.

  1. 31/05/2013

    […] Inominável O Teatro Inominável, de Diogo Liberano, além de estrear Maravilhoso em São Paulo, no Sesc Belenzinho, neste sábado (1º), tem outra […]

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