Com grandes nomes, Festival Mirada coloca teatro latino e ibérico no mesmo barco em Santos

Barquinho cruza o mar de Santos para levar público à Fortaleza da Barra - Foto: Fernanda Procópio/Sesc

Por Miguel Arcanjo Prado
Enviado especial do R7 a Santos*

O barquinho que levou o público para ver a peça Hysteria, do Grupo XIX de Teatro, na Fortaleza da Barra, em Santos, no último fim de semana, serve de metáfora para o Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos, o Mirada.

O evento congrega na mesma embarcação as diferenças e as semelhanças do teatro produzido atualmente na América Latina, Portugal e Espanha.

O Mirada é o caçulinha dos grandes eventos teatrais do Brasil. Enquanto o Festival de Curitiba acumula 21 edições, e o de Belo Horizonte, 11, o Mirada chega a sua segunda edição.

Peça mexicana Incêndios é o grande destaque do Festival Mirada - Foto: Fernanda Procópio/Sesc

Se a estrada é pouca, o prestígio já é grande. O evento do Sesc São Paulo traz ao Brasil importantes nomes da cena teatral latino-americana e ibérica e, claro, dos palcos nacionais.

A atriz e diretora da Escola Superior de Artes Célia Helena, Ligia Cortez, diz ao R7 que percebe um crescimento no evento.

— É um festival jovem, mas muito estruturado. Já tem porte de festival maduro, antigo. E, mais do que apresentar as peças, ele proporciona também o pensamento sobre o teatro. Pretendo voltar sempre.

Ator e diretor do Piollin Grupo de Teatro, que apresentou a peça Retábulo, Luiz Carlos Vasconcelos ressalta a qualidade dos trabalhos.

— É um painel diverso da produção ibero-americana. O Sesc tem um olhar sensível para o teatro.

Aproximação pós-ditaduras

Sidnei Martins, assessor da Gerência de Ação Cultural do Sesc São Paulo e um dos coordenadores do Mirada, afirma que já estava na hora de a instituição ter seu próprio festival, com o objetivo de aproximar o teatro brasileiro daquele produzido nos países vizinhos.

— O Mirada foi pensando para cumprir esta função. Escolhemos a cidade de Santos para sediá-lo por uma questão simbólica. Afinal, é aqui que fica o porto, que é um lugar de entrada e de saída, um lugar de troca.

Ele lembra que as ditaduras que ocuparam os países latino-americanos nas décadas de 1960, 1970 e 1980 acabaram por isolar a arte teatral de cada um destes países. E que o festival tem o objetivo de romper com esses muros em “um processo de aproximação”.

Roberto Alvim, diretor do Club Noir, concorda. Lembra que durante muito tempo era raro ver, por exemplo, peças brasileiras em Buenos Aires e vice-versa.

— O Brasil ficava distante da América Latina. O Mirada é uma grande iniciativa para acabar com essa barreira. As consequências dele são férteis e imprevisíveis.

Peça Aire Frio representou a ilha de Cuba no festival em Santos - Foto: Fernanda Procópio/Sesc

Tomaz de Aquino, diretor do teatro MiMO, de Fortaleza, no Ceará, conta que o intercâmbio é mesmo prioridade.

— Quero curtir o festival e conhecer o máximo possível dos teatros dos outros países.

Carlos Corona, da Companhia El Farfullero, da Cidade do México, classifica o Mirada como “indispensável”.

— Nós, latinos, pensamos de maneira parecida. É emocionante perceber isso. Quando era estudante, nos anos 90, o teatro brasileiro era famoso no México. Depois, perdemos o contato, que está sendo retomado agora. Espero que o Mirada sirva de inspiração para se criar também um festival desse porte na Cidade do México.

Funil de espetáculos

O conselho diretivo do evento é formado por Danilo Santos de Miranda, diretor reginal do Sesc São Paulo, Pepe Bablé Meira, diretor do Festival Ibero-Americano de Teatro de Cádiz, na Espanha, a diretora brasileira radicada na Espanha, Isabel Ortega, e Ramiro Osório, diretor do Festival de Sevilha.

A tarefa de escolher os 38 espetáculos, dos quais 23 são internacionais, não foi nada fácil. A primeira lista tinha cerca de 200 produções. A decisão final foi feita no que Sidnei Martins chama de “curadoria compartilhada”. Ele ressalta o apoio do Instituto Nacional de Belas Artes do México, o país homenageado nesta edição, que financiou a passagem aérea de mais de 70 artistas mexicanos.

Com tanta gente circulando por Santos em busca de arte, Danilo Santos de Miranda aproveita para ressaltar o mais importante nome do festival.

— No Mirada, o público é fundamental.

*O jornalista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do Sesc Santos.

Público admira o cenário-instalação do espetáculo espanhol B.A.R.R.A - Foto: Fernanda Procópio/Sesc

 

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2 Resultados

  1. Lygia Concellos disse:

    Ola Michel, gostaria de te encaminhar um material sobre o espetáculo “umnenhumcemmil” com Cacá Carvalho. Como faço? Um abraço!

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