★★★★ Crítica: Madame Durocher apresenta às novas gerações mulher que desafiou o Brasil imperial com garra e coragem

Sandra Corveloni é a protagonista de Madame Durocher, de Dida Andrade e Andradina Azevedo © Divulgação Blog do Arcanjo 2024

★★★★
MADAME DUROCHER
Avaliação: Muito Bom
Crítica por Miguel Arcanjo Prado

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

Este crítico tem a honra de poder acompanhar de perto a carreira dos cineastas Dida Andrade e Andradina Azevedo desde a excelente estreia da dupla paulistana no ótimo longa A Bruta Flor do Querer em 2013. Portanto, inacreditavelmente, há mais de uma década. Pois os antes meninos agora tornaram-se homens feitos e ganham cada vez mais peso no cinema brasileiro, encampando grandes produções já não mais autoreferenciadas, mas sem perder aquele frescor no olhar à la nouvelle-vague que tornou os dois jovens talentos notáveis na sétima arte. Madame Durocher, em cartaz nos melhores cinemas e apresentado pelo Festival Varilux do Cinema Francês, é a prova viva desse caminho de amadurecimento e diálogo com o mundo ao redor, que caracteriza o cinema da dupla. É um filme que merece ser visto com a devida atenção, sobretudo por apresentar uma mulher relevante da história brasileira às novas gerações deste país sem memória. Dessa vez, eles trazem uma história mais que relevante para o centro da cena, com minucioso e grandiloquente roteiro de Rita Buzzar e João Segall: a história verídica da primeira mulher a obter o título de parteira no Brasil, Marie Josephine Mathilde Durocher, concedido pela Academia Imperial de Medicina, onde foi pioneira, enfrentando o machismo ao redor. Com sua lente de presença inquieta e rápidos avanços no tempo, o filme narra desde a infãncia à maturidade da personagem que viveu praticamente todo o século 19, da vinda de Paris ainda criança ao Brasil ao lado de sua mãe, papel da atriz franco-canadense vencedora do Festival Cannes Marie-Josée Croze, até a terceira idade, como parteira escolhida pela família imperial. Na juventude, a personagem é interpretada com frescor por Jeanne Boudier, que passa o bastão na fase madura da personagem a Sandra Corveloni, outra atriz vencedora do Festival de Cannes. Ambas convergem em uma construção sutil e ao mesmo tempo forte da personagem, como a mesma pede. No Brasil ainda escravocrata do século 19, marca presença ao lado da personagem sua ama Clara, defendida com intensidade por Isabel Fillardis, em um dos grandes momentos da atriz no cinema. Dois médicos fazem parte da vida da parteira, um como seu benemérito, Dr. Joaquim, médico negro defenfido com a altivez necessária por André Ramiro, e outro como seu algoz, Dr. Hermínio, personagem de um exacerbado Mateus Solano, além de Adriano Toloza na pele do seu cruel e invejoso colega Dr. Guilherme. O longa ainda traz participações especiais de atores talentosos, como Fernando Alves Pinto, Armando Babaioff, Clara Moneke, Robson Catalunha, Fabio Penna e Nelson Baskerville, com personagens que cruzam o caminho da protagonista. Madame Durocher é um filme que retrata os percalços enfrentados por uma mulher à frente do seu tempo em um Brasil altamente conservador, patriarcal, machista e escravocrata no século 19, criando uma interessante ponte entre o passado e o Brasil atual, ainda com fortes resquícios de todas essas mazelas em seu cotidiano social. Ao criar tal paralelo, Madame Durocher torna-se um filme relevante e que deixa um legado de reflexão.

★★★★
MADAME DUROCHER
Avaliação: Muito Bom
Crítica por Miguel Arcanjo Prado

Blog do Arcanjo mostra fotos da estreia em São Paulo do filme Madame Durocher

Editado por Miguel Arcanjo Prado

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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