Teatro mistura digital e presencial para resistir perto do público

O ator Ivam Cabral, do Satyros, grupo que apostou no teatro digital e fez sucess internacional - Foto: Lina Sumizono/Divulgação - Blog do Arcanjo
O ator Ivam Cabral em Todos os Sonhos do Mundo, do Satyros, grupo que apostou no teatro digital e fez sucess internacional – Foto: Lina Sumizono/Divulgação – Blog do Arcanjo

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

É um prazer passar a colaborar como articulista do HuffPost Brasil, escrevendo às sextas sobre o que amo: teatro, cultura e entretenimento. Este mercado tão importante para nossa saúde mental neste ano de pandemia e que contribui, e muito, com o país — a economia criativa gera 2,64% do PIB brasileiro.

Fico lisonjeado em colaborar neste site de importância global e de estar ao lado de profissionais que fazem um jornalismo inteligente, provocante e de qualidade, sob direção editorial de Diego Iraheta, nome fundamental da imprensa brasileira.

Dito isso, preciso me apresentar: sou o Miguel Arcanjo Prado, jornalista mineiro de Belo Horizonte radicado em São Paulo desde 2007. Sou mestre em Artes pela UNESP, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela ECA-USP e bacharel em Comunicação Social pela UFMG. Desde 2012, faço o Blog do Arcanjo, site focado nas artes e que me deu a honra de ser eleito três vezes pelo Prêmio Comunique-se como um dos melhores jornalistas de Cultura do Brasil. Também sou crítico da APCA, a Associação Paulista de Críticos de Artes, na qual fui vice-presidente, e passei por Globo, Record, Folha, Contigo, Editora Abril, Gazeta, Band, Rede TV, R7 e UOL. Em 2019, criei o Prêmio Arcanjo de Cultura, em noite inesquecível no Theatro Municipal de São Paulo. Atualmente, coordeno a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e faço ainda o Podcast do Arcanjo, em parceria com a OLA Podcasts. Agora, vamos ao que interessa.

Neste meu primeiro texto aqui no HuffPost Brasil, preciso falar de um dos mercados que mais foram afetados pela pandemia do novo coronavírus: o teatro. Tendo o encontro presencial como característica, os palcos foram esvaziados em março sem qualquer tipo de ajuda a seus profissionais, que atravessaram meses sombrios e só agora, no fim do ano, enxergam a chegada da Lei Emergencial Aldir Blanc.

Trata-se de gente talentosa e trabalhadora nos palcos e nos bastidores, que movimenta importante cadeia econômica, que vai desde o uber que nos leva ao teatro, passando pelo bilheteiro, iluminador, cenógrafo, figurinista, maquiador, camareira, pipoqueiro e até mesmo o garçom que serve a pizza naquela esticada ao restaurante depois do espetáculo. Muitas famílias vivem do teatro.

Teatro digital

No afã de manter a comunicação com o público, foi criado o teatro digital, no qual o Brasil foi pioneiro no mundo, transferindo atores dos palcos para as telas. Ivam Cabral, ator da Cia. de Teatro Os Satyros, que mudou a história da praça Roosevelt, em São Paulo, foi o primeiro a ir para as redes, com seu solo Todos os Sonhos no Mundo, no Instagram, em 20 de março de 2020.

A Selvática Ações Artísticas, de Curitiba, também fez ações no YouTube bem no começo da pandemia. No Rio, Ricardo Cabral e Natasha Corbelino, do Teatro Caminho, mergulharam no espaço digital para estrear a peça O Filho do Presidente já no digital em abril. Depois, veio Cléo De Páris e Fábio Penna com a live Desamparos, entre tantas outras iniciativas importantes. No momento em que todos estavam amedrontados, os artistas escolheram continuar presentes.

Novamente foram Os Satyros, com a peça A Arte de Encarar o Medo, de Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez e dirigida por este último, quem conseguiu sintetizar um caminho estético possível para o teatro no digital. E deu certo. A montagem que estreou em junho com 17 atores pelo Zoom ainda está em cartaz. A peça ganhou duas novas montagens, uma com atores da África e da Europa, e outras com atores dos Estados Unidos, que arrancaram elogios internacionais, como da Time Out de Nova York. O que coloca o Brasil na vanguarda do teatro digital. 

Com os caminhos virtuais abertos, outros artistas não tiveram preconceito e aderiram à novidade. Nomes como Sergio Mamberti, Maitê Proença, João Acaiabe, Ana Beatriz Nogueira, Irene Ravache, Lilia Cabral, Os Crespos e tantos outros experimentam dia a dia novas formas comunicativas.

Os atores da peça A Banheira, primeira a voltar ao teatro presencial em São Paulo no Teatro Maria Della Costa - Foto: Edson Lopes Jr./Divulgação - Blog do Arcanjo
Os atores da peça A Banheira, primeira a voltar ao teatro presencial em São Paulo no Teatro Maria Della Costa – Foto: Edson Lopes Jr./Divulgação – Blog do Arcanjo

Teatro presencial

E o teatro presencial, que estava impedido desde março, voltou a funcionar já no fim de outubro na cidade de São Paulo, com uma grata surpresa: a adesão do público. A comédia A Banheira foi a primeira na retomada, com espectadores devidamente distanciados e com máscara, no Teatro Maria Della Costa, na Bela Vista. O Teatro Renaissance, nos Jardins, apostou no humor stand-up de nomes como Yuri Marçal. O mesmo fez o Teatro das Artes, no shopping Eldorado, com Miá Mello em seu divertido monólogo sobre a maternidade, Mãe Fora da Caixa.

Ainda marcam esse retorno do teatro presencial o Festival do Humor do Teatro Procópio Ferreira, também nos Jardins, O Vendedor de Sonhos, no Teatro Fernando Torres, no Tatuapé, e o espetáculo inédito sobre a vida de Clodovil, Simplesmente Clô, no Teatro União Cultural, no Paraíso. O teatro recobra a vida.

Estes são apenas alguns dos muitos exemplos da resistência do teatro brasileiro em um ano tão adverso e de tantas incertezas. O mais importante nisso tudo é que os trabalhadores das artes cênicas não abriram mão de estar junto do público e seguem resistindo no teatro digital e na volta do teatro presencial, ainda tão delicada, mantendo viva a dignidade de seu ofício. Diante de tamanha resistência, só nos resta aplaudir de pé os artistas e técnicos do teatro brasileiro. Eles merecem.

Texto publicado originalmente no Huffpost Brasil

Editado por Miguel Arcanjo Prado

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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