Maciel Silva dá recado urgente pelo respeito à diversidade no solo Eu, Estatística

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo
Após dirigir a peça A Vida Começa aos 60! de Aguinaldo Silva, o ator e dramaturgo Maciel Silva já tem novo projeto nos palcos. Ele estreia seu solo “Eu, Estatística” na Casa de Artes SP, na Vila Buarque, em São Paulo, neste sábado, 31 de maio, às 20h. Com participação especial de Nany People em vídeo, a obra manda um potente recado contra a LGBTQIAPN+fobia. A direção é de Fellipe Calixto.
Maciel construiu a peça a partir de dados do Ministério da Saúde e da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), mesclando depoimentos reais de pessoas LGBTQIAPN+ com a trajetória ficcional de um jovem gay que tenta sobreviver à ignorância de uma sociedade adoecida. No centro do palco, um corpo, uma voz, e uma urgência: não virar mais uma estatística.

Vilência sofrida vira arte
“Estava pesquisando saúde mental da população LGBTQIAPN+ quando fui alvo de uma agressão verbal homofóbica nas ruas de São Paulo. Aquilo me despertou. Ri na hora, mas a dor ficou. Decidi transformar a pesquisa em arte com função social, e nasceu essa peça”, explica o autor e ator Maciel Silva a Miguel Arcanjo.
“É um tema que não se esgota. A violência continua, desde questões de emprego, saúde mental, violência parental, violência dos órgãos públicos, entre outros. As estatísticas continuam. Precisamos reagir”, pontua o artista.

Acerto de contas com o passado
A trama gira em torno de Estatística, um ex-suicida que virou voluntário no CVV. Ele atende ligações de pessoas em sofrimento, até que o próprio passado bate à porta: seu pai homofóbico e doente precisa morar com ele. Essa convivência forçada dispara gatilhos e o personagem entra em colapso, lutando para não ser engolido pelos mesmos fantasmas que jurou combater.
“Este não é o primeiro texto em que atuo e escrevo, mas considero o mais importante, por causa do tema abordado e porque me vejo na personagem principal. Então, está sendo um desafio diferenciar o que sou eu autor/ator do personagem”.
Maciel Silva
ator e dramaturgo de Eu, Estatística
“Às vezes, as emoções se misturam. Mas é um desafio que encaro com muita alegria, pois estou protegido por uma equipe que me apoia e me acolhe para poder contar essa história”, diz.

Direção foca no ator em cena
Na direção, Fellipe Calixto optou por radicalizar a simplicidade para amplificar a força do conteúdo e valorizar a interpretação do ator em cena. “O texto do Maciel já traz muitos direcionamentos. A missão foi respeitar isso com delicadeza e impacto. O monólogo pede poucos elementos cênicos. O assunto é pesado e precisava de espaço para ressoar”, explica o diretor.
“As molduras vazias em cena representam as vítimas da LGBTfobia. O cenário é uma caixa onde o personagem transita com suas dores. Tudo foi pensado para não distrair a plateia do essencial: o humano em cena.”
A obra também costura diferentes linguagens — música, dança, teatro documental — e emociona sem perder a potência do grito. A presença em vídeo da atriz Nany People, referência na luta por visibilidade trans, amplia o alcance simbólico e político do espetáculo.

Sinopse
ESTATÍSTICA é um voluntário no Centro de Valorização da Vida. Um dia, quando esteve à beira do suicídio, encontrou acolhimento naquele espaço — e decidiu retribuir. Desde então, dedica-se a atender ligações de pessoas em crise, oferecendo a mesma escuta que um dia o salvou. Vive hoje uma “vida normal”, lidando com os desafios cotidianos de uma pessoa LGBTQIAPN+, entre dores e conquistas silenciosas. Mas tudo muda quando seu pai — um homem rude, marcado pelo preconceito, e agora gravemente doente — precisa morar com ele. A presença paterna desperta traumas adormecidos, e ESTATÍSTICA entra em nova recaída. Os fantasmas do passado voltam à tona. Agora, ele terá que enfrentá-los de frente. Entre dados, relatos e vivências de quem sobreviveu à dor do suicídio e da violência, ESTATÍSTICA mergulha numa jornada íntima de reconstrução. Acostumado a salvar vidas do outro lado da linha, ele se vê diante de uma pergunta urgente e dolorosa: Quem vai salvar a sua vida?
Ficha Técnica
Texto e atuação: Maciel Silva. Direção: Fellipe Calixto. Direção artística: Felipê Aguiar. Trilha sonora ao vivo: Ivan Alves. Participação em vídeo: Nany People. Produção executiva: Mayra Messias e Lucas Lima. Assistência de produção e administração: Clau Pereira e Roberta Viana. Design de luz: Rony Vieira. Cenário: Allex Duran. Figurino: Gerard Paes. Design gráfico e redes sociais: Chico Tomaz. Contrarregra: Chico Araújo.
EU, ESTATÍSTICA
Monólogo com Maciel Silva.
Estreia: dia 31 de maio, sábado, 20h.
Teatro Casa de Artes SP, Rua Major Sertório, 476 – Vila Buarque, São Paulo.
Temporada: De 31 de maio a 29 de junho. Horário: sextas às 21h, sábados às 20h, domingos às 18h.
Capacidade: 100 lugares
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Editado por Miguel Arcanjo Prado
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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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