★★★★ Crítica: Marku Musical consagra o grande artista Marku Ribas com talentosa performance familiar

Marku Musical narra vida e obra do grande artista Marku Ribas © Pablo Bernardo Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

★★★★
MARKU MUSICAL
Avaliação: Muito Bom
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
CCBB-SP até 13/7/2025

@markuribas

Marku Musical é uma celebração à altura do multiartista mineiro de Pirapora Marku Ribas (1947-2013), fazendo com que sua história de vida e obra chegue ao público contemporâeno. O espetáculo envolvente reverbera o precioso talento que faz dele nome fundamental da música produzida no Brasil na segunda metade do século 20. A peça encerra neste domingo (13) temporada consagradora paulistana no CCBB-SP — São Paulo, como sua família conta após os aplausos, teve importância crucial na carreira do brilhante artista. A etapa paulistana faz parte da turnê que estreou no CCBB-BH e fez passagem calorosa no começo do ano pelo CCBB-RJ.

A montagem familiar, em um interessante diálogo do teatro musical com o teatro performativo, é um reencontro necessário com um artista que navegou entre a música afro-brasileira, a percussão e a performance, muitas vezes à margem de um reconhecimento à altura de sua importância e pioneirismo. Ele foi parceiro de nomes como Nara Leão, Wagner Tiso, Djavan, Chico Buarque, João Donato, Tim Maia, Marcelo D2 e Emílio Santiago; isso para ficar só nos brasileiros.

A força deste espetáculo reside em sua origem: a obra é conduzida e encenada pela própria família de Marku Ribas. A direção de Lira Ribas — com Ricardo Alves Jr. de codiretor — e a direção musical de Júlia Ribas, ambas filhas do artista — herdeiras de grande talento musical e donas de vozes soberanas —, além da mãe delas e viúva de Marku, Fatão Ribas, também em cena, transformam o tablado em um espaço de memória e afeto. A cena na qual a Fatão de hoje se une ao retrato de seu casamento com Marku é um show de sensibilidade.

É preciso destacar o grande artista Mário Broder, dono de voz potente, que brilha na pele de Marku Ribas, sempre amparando pela versatilidade musical do multiinstrumentista nigeriano Ìdòwú Akínrúlí.

O espetáculo é híbrido, mesclando teatro, música e projeções audiovisuais, com o precioso acervo familiar sendo compartilhado com o público. A dramaturgia, baseada na autobiografia de Marku Ribas, em diálogo com escrita poética de Allan da Rosa, mergulha em lembranças familiares para traçar o caminho do artista, desde Pirapora, às margens do Rio São Francisco, em Minas Gerais, passando por Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, França, Martinica, Ilha Santa Lúcia, Angola, Namíbia e Estados Unidos. E cruzando com nomes como Roberto Menescal — que o levou para a gravadora Phillips —, Bob Marley, The Rolling Stones — tocando percussão na faixa Back to Zero do álbum Dirty Work —, Mick Jagger — de quem participou do clipe de Just Another Night — e James Brown — para quem abriu show na Martinica. A partir de tão distintos lugares e encontros, Marku Ribas formula seu caldeirão musical.

Em relação ao interessante diálogo audiovisual que a obra propõe a partir do olhar cinematográfico poético em cena de Gabriel Mendes projetado em um telão — como é típico do Teatro Oficina —, uma observação construtiva: uma simples mudança no posicionamento da câmera permitiria que artistas triangulassem com a câmera e com o público ao mesmo tempo, evitando dar as costas à plateia.

O espetáculo Marku Musical faz efetivo diálogo com os dias atuais. O espetáculo aborda questões como ancestralidade e o apagamento de vozes negras na cultura, sobretudo as que estão fora do eixo mercadológico. Ao revelar a dimensão íntima de Marku Ribas — não só como músico, mas como pai e marido — a peça cresce e ganha novas ressignificações afetivas.

Marku Musical é a prova de que a memória de Marku Ribas está mais viva do que nunca. E que merece ser propagada. A celebração de sua vida e obra neste espetáculo resgata o passado para iluminar o presente e levar ao futuro a importância do legado de um artista a quem devemos aplausos de pé.

★★★★
MARKU MUSICAL
Avaliação: Muito Bom
Crítica por Miguel Arcanjo Prado
CCBB-SP até 13/7/2025

@markuribas

Marku Musical conta com viúva e filhas de Marku Ribas no palco: Fatão Ribas, Lira Ribas e Júlia Ribas © Pablo Bernardo Divulgação Blog do Arcanjo 2025
Marku Musical mistura teatro musical e performance para celebrar o grande artista Marku Ribas © Pablo Bernardo Divulgação Blog do Arcanjo 2025
Marku Musical celebra legado artístico de Marku Ribas: Fatão Ribas, Lira Ribas, Júlia Ribas e Mário Broder © Pablo Bernardo Divulgação Blog do Arcanjo 2025

Blog do Arcanjo mostra imagens da carreira de Marku Ribas

Marku Musical

FICHA TÉCNICA

PATROCÍNO: BANCO DO BASIL
REALIZAÇÃO: MINISTÉRIO DA CULTURA E CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL
DIREÇÃO: LIRA RIBAS E RICARDO ALVES JR.
DIREÇÃO MUSICAL: JULIA RIBAS E MARCELO DAI
ELENCO: FATÃORIBAS, ÌDÒWÚA KÍNRÚLÍ, JULIARIBAS, LIRARIBAS, MARIOBRODER
OPERAÇÃO DE CÂMERA: GABRIEL MENDES
DRAMATURGIA: ALLAN DA ROSA E MARKU RIBAS
PESQUISA DRAMATÚRGICA: RAFAEL QUEIROZ
DIALOGUISTA: RAYSNER DE PAULA
DIREÇÃO DE MOVIMENTO/PREPARAÇÃOCORPORAL: FERNANDO BARCELLOS
PESQUISA DE BELÈ: BORIS PERCUS
PREPARAÇÃO VOCAL:JÚLIA RIBAS
DIREÇÃO DE ARTE: MARIANA ROCHA E PATRICIA BATITUCCI
ASSISTENTE DE ARTE: ÁLVARO ROCHA
FIGURINO: LUIZ CLAUDIO SILVA
ILUMINAÇÃO: MARINA ARTHUZZI E TAINÁ ROSA
DIREÇÃO DE PALCO: ÌDÒWÚA KÍNRÚLÍ
OPERAÇÃO DE LUZ: VIVIANE SANTOS
SOM: DANIEL NUNES
OPERAÇÃO DE SOM: RODRIGO LOBO
ASSESSORIA DE IMPRENSA: YASMIM BIANCO
IDENTIDADE VISUAL: LUANG DA CACH
PRODUÇÃO EXECUTIVA: NINA BITTENCOURT
DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: SIRLENE MAGALHÃES
PRODUÇÃO LOCAL: VANESSA SOARES E ANA CECILLIA

Editado por Miguel Arcanjo Prado

Siga @miguel.arcanjo

Ouça Arcanjo Pod

Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
© Blog do Arcanjo por Miguel Arcanjo Prado | Todos os direitos reservados.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *