Mater investiga relações entre mãe e filha em texto de Maria Adelaide Amaral com Teatro Livre de Portugal

Mater, com  Carla Chambel e Luísa Ortigoso, faz quatro apresentações no Teatro Sérgio Cardoso – Foto: Daniel Fernandes e Sandra Cepinha Divulgação © Blog do Arcanjo 2025

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

As relações que permeiam mãe e filha são pano de fundo do espetáculo Mater, que estreia nos palcos paulistanos trazendo um olhar profundo sobre os desencontros familiares. A partir do texto Querida Mamãe, de Maria Adelaide Amaral, a adaptação da Companhia portuguesa Teatro Livre estreia no Teatro Sérgio Cardoso, em 4 únicas apresentações, de 19 a 22 de maio de 2025, sendo na segunda, terça e quarta às 19h e na quinta, às 20h30.

Mãe e filha

A produção luso-brasileira dirigida por Beto Coville aborda os desencontros entre mãe e filha, explorando os silêncios, confrontos e tentativas de aproximação entre Luísa e Rute, interpretadas, respectivamente, por Carla Chambel e Luísa Ortigoso. Rute, ao revelar seu passado, tenta se aproximar da filha, enquanto Luísa, presa a suas próprias dores, hesita em acolher essa história que não lhe pertence. Durante oito movimentos, Mater constroi uma jornada emocional em que mãe e filha revisitam histórias, memórias e dívidas afetivas. 

A dramaturga Maria Adelaide Amaral © Rafa Marques Blog do Arcanjo 2025

Maria Adelaide Amaral

“Perdi a conta das vezes em que disse e repeti que jamais escreveria um texto tão ameno sobre a relação mãe e filha. A minha versão certamente estaria longe de ser uma relação delicada”, conta Maria Adelaide Amaral. A dramaturga explica que a peça surgiu após um mal-entendido, quando, nos anos 1980, fez uma edição da tradução de Ce tendres liens, da autora francesa Loleh Belon. “Foi assim que nasceu Querida Mamãe, no início dos anos 90, montada poucos anos depois por Eva Wilma e Eliane Giardini, com a direção de José Wilker”, relembra.

Sobre a adaptação para o teatro, Maria Adelaide elogia a força da encenação: “Infelizmente, não pude ir a Lisboa para assistir Mater, mas as imagens do espetáculo me deixaram maravilhada. E, pelas críticas que li e pelas impressões do público, tenho certeza de que é uma encenação forte do ponto de vista dramatúrgico e deslumbrante do ponto de vista visual.”

Olhar simbólico

A direção se afasta do realismo convencional e propõe um olhar simbólico e sensorial sobre os embates emocionais e reflete o quão importantes são os gestos que às vezes não fazemos. Mais do que um relato de conflito, a peça reflete sobre o desejo de pertencer, os laços que se rompem e a busca pelo afeto que, por vezes, se perde nas entrelinhas da convivência.

“A encenação busca materializar sentimentos muitas vezes não expressos. Aquilo que se gostaria de ouvir ou de ter dito, mas que é deixado passar por medo e insegurança, é concretizado aqui no espetáculo. Assim como a presença do inconsciente que vem buscar a verdade da relação, neste caso entre mãe e filha, que mesmo dolorida, é revista em forma de catarse”, conta o diretor Beto Coville.

“A peça fala de amor, saudade, resgate e superação, elementos essenciais para tentar resolver a difícil tarefa que nos foi imposta pelo universo, que é ‘sobreviver’ às nossas famílias”. Beto Coville ainda destaca que Mater não se limita ao drama familiar, mas mergulha no imaginário das personagens, dando vida ao que não foi dito: “Aquilo que se gostaria de ouvir ou de ter dito, mas que foi deixado passar por medo ou insegurança, é concretizado aqui no espetáculo.” 

O espetáculo convida o público a se reconhecer nas fragilidades e forças das personagens. Uma oportunidade à reflexão sobre as diferentes formas de amar e a complexidade dos laços que nos definem.

“A cena final é impactante e é onde o ponto de vista é mais claro. É onde as peças encaixam e as mudanças são compreendidas (ou não)”, comenta o Beto Coville. Para ele: “Cada um se revê naquilo que lhe toca e leva consigo os pontos e situações em que mais se identifica, pois as diferentes experiências vividas ao longo da peça chegam de forma distinta para cada pessoa. E são oito. Pelo menos as visíveis.”

O curador, gestor e produtor André Acioli © Rafa Marques Blog do Arcanjo 2025
A produtora Dani Angelotti © Rafa Marques Blog do Arcanjo 2024

Parceria internacional

Com apoio do Ministério da Cultura de Portugal, o espetáculo estreou em Lisboa, em 26 de janeiro de 2022, no Teatro Meridional. Agora, em parceria com a MIACENA – Mostra Internacional de Artes Cênicas para Espaços Não Convencionais, os produtores Dani Angelotti e André Acioli, junto à Companhia Teatro Livre, trazem a estreia do espetáculo no Brasil, viabilizada pelo programa de internacionalização do Ministério da Cultura, em parceria com a DGArtes e com o apoio da APAA – Associação Paulista dos Amigos da Arte.

Sinopse

O texto narra a relação de uma Mãe e de uma Filha. A Filha que não consegue ser Mãe porque ainda precisa ser Filha. A Mãe, que para chegar à filha, revela a mulher que sempre foi. A herança do feminino transmitida para além do útero. Um jogo de poder, controle e descontrole que leva a um caminho pelas várias e diferentes formas de amar, para além do Amor.

MATER

FICHA TÉCNICA

Texto: Maria Adelaide Amaral. Direção: Beto Coville. Elenco: Carla Chambel e Luísa Ortigoso. Cenografia: Eurico Lopes. Música Original: João Balão. Figurinos: Luísa Martins. Desenho de Luz: Pedro Santos. Assistência de Direção: Inês Oneto. Fotografia Cartaz: Sandra Cepinha. Fotografia de Cena: Daniel Fernandes. Produção BR: Cubo Produções. Assessoria de Imprensa BR: Adriana Balsanelli. Direção Técnica BR: Cleber Eli. Produção Executiva e Comunicação BR: Dairzey Abnara. Direção de Produção BR: Dani Angelotti e André Acioli. Realização: Companhia Teatro Livre & Miacena Conexões. Espetáculo apoiado pela República Portuguesa/DGArtes.

Serviço:
Espetáculo Mater
De 19 a 22 de maio de 2025 – Segunda, terça e quarta às 19h e quinta, às 20h30.
Teatro Sérgio Cardoso
Sala Pascoal Carlos Magno
R. Rui Barbosa, 153 – Bela Vista, São Paulo – SP, 01326-010
Duração: 90 minutos. Classificação: 14 anos. Gênero: Drama
Capacidade: 149 lugares
Ingressos:  R$50 (inteira)
Link para vendashttps://bit.ly/4cOyLCt

Editado por Miguel Arcanjo Prado

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige o Blog do Arcanjo desde 2012 e o Prêmio Arcanjo desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por TV Globo, Grupo Record, Grupo Folha, Editora Abril, Huffpost Brasil, Grupo Bandeirantes, TV Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Foi coordenador da SP Escola de Teatro. Integra o júri do Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de SP, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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