★★★★ Crítica: Eu Não Vou Fazer Greta Garbo se destaca em SP com reflexões profundas e emoção

Eu Não Vou Fazer Greta Garbo, espetáculo mineiro de São João del-Rei, fez sucesso em São Paulo na SP Escola de Teatro © Ethieny Karen Divulgação Blog do Arcanjo 2024

Por RODRIGO BARROS
Especial para o Blog do Arcanjo

★★★★
EU NÃO VOU FAZER GRETA GARBO
Avaliação: Muito Bom
Crítica por Rodrigo Barros

A peça Eu Não Vou Fazer Greta Garbo, do Grupo de Pesquisas em Artes Cênicas da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), teve concorridas sessões em São Paulo, na SP Escola de Teatro, de 24 a 26 de maio. Com entrada gratuita, o espetáculo atraiu um público diversificado, que lotou as apresentações. O grupo inova ao trazer uma temática comumente abordada nos palcos pelo viés da dor e do rancor a partir de uma perspectiva de amor, esperança, sem deixar de traçar os devidos limites.

A peça segue um elenco que se reúne para ensaiar e enfrenta um dilema: um dos atores se recusa a interpretar uma personagem homossexual masculina que prefere ser chamada de Greta Garbo. A questão levantada – “Afinal, quem pode representar quem?” – força o grupo a repensar o fazer teatral e tomar decisões importantes às vésperas da estreia, se aprofundando nas questões de gênero e sexualidade e seus limites em cena.

A peça oferece uma reflexão poderosa sobre as máscaras que todos usamos e as pressões para nos conformarmos às expectativas sociais e também sobre a liberdade do ser e dos direitos individuais.

O espetáculo é o resultado de dois anos de pesquisa e investigação, realizada no âmbito do Projeto de Pesquisa “Diversidade Sexual e Teatro no Brasil: Visibilidade, Minoritarismo e Representação”, sob a orientação de Alberto Tibaji, da UFSJ (universidade de São João del Rei – MG).

O foco do grupo é a investigação de gênero e diversidade, com ênfase na representatividade de orientação sexual, etnia e raça no contexto teatral. Este extenso trabalho de pesquisa se materializa de forma impactante no palco, analisando as relações entre o indivíduo e o coletivo no fazer teatral.

Um dos aspectos mais marcantes da produção foi a intertextualidade tecida no roteiro. A peça incorpora trechos de obras de grandes dramaturgos como Shakespeare, Chico Buarque, Agatha Christie, entre outros, criando um diálogo poético e leve, entre diferentes textos e contextos.

Essas referências literárias não só enriquecem a narrativa, mas também proporcionam uma profundidade adicional, permitindo ao público explorar as temáticas de identidade e autoconhecimento sob várias perspectivas.

As performances do elenco mereceram um destaque especial. Muitas vezes o tema acaba sendo trazido para uma lugar de peso e de dor, mas os artistas Alexa Vitória Maciel Corrêa, Everton Kaian Miranda, Luísa Amorim Santos Teixeira, Maria Clara Nardy Mattos Carneiro Cabral, Michael Silva de Sousa, Rafael Augusto Egydio de Mello e Tainá Vitória de Paiva Batista trouxeram uma leveza e autenticidade que tornaram os personagens complexos e extremamente humanos.

A capacidade dos intérpretes de transmitir as camadas emocionais e psicológicas de suas personagens é algo que merece um destaque especial. 

Sob a direção de Alberto Ferreira da Rocha Junior, a produção se destacou pela criatividade e inovação. Utilizando uma combinação de cenários minimalistas e uma iluminação dramática operada por Victor Hugo Sanches Furtado, juntamente com a operação de som de Gustavo Travenisk da Graça, a encenação criou uma atmosfera que oscilava entre o íntimo e o grandioso, refletindo perfeitamente a dualidade explorada na peça, onde o público presencia um ensaio que leva a justificar se a peça começou ou não, até estar totalmente envolvido na trama do grupo. 

Oficina de Atuação e Pesquisa

Além das apresentações, o grupo ofereceu uma oficina gratuita de atuação, compartilhando o processo de treinamento e construção da cena. Realizada pelo grupo de pesquisa e extensão “Diversidade Sexual e Teatro no Brasil: Visibilidade, Minoritarismo e Representação”, a oficina ampliou a compreensão das diversas formas de identidade e expressão, contribuindo para uma representação mais assertiva dos corpos presentes no contexto social e político atual.

“Eu Não Vou Fazer Greta Garbo” não é apenas uma peça de teatro; é uma experiência introspectiva e transformadora, sobre gênero, sexualidade, limites e mais que tudo sobre a busca em amar e ser feliz sendo o que se é e nada mais que isso. As apresentações na SP Escola de Teatro demonstraram a força do teatro como uma forma de arte que desafia, questiona e inspira. Para aqueles que tiveram a sorte de assistir, foi um lembrete poderoso da importância de permanecer fiel a si mesmo em um mundo que muitas vezes tenta ditar quem devemos ser.

★★★★
EU NÃO VOU FAZER GRETA GARBO
Avaliação: Muito Bom
Crítica por Rodrigo Barros

*Rodrigo Barros é jornalista, ator e produtor cultural. É bacharel em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade São Marcos. Formou-se em Atuação pelo Latin American Film Institute – Instituto Stanislavisky. Como ator, protagoniza a série Três Quartos, lançada em 2020. Prestou assessoria de comunicação para o Governo de Estado de São Paulo, Prefeitura de São Paulo, Instituto Unibanco e Dentsu Brasil. Desde 2021, é produtor cultural assistente responsável pelas residências artísticas na Extensão Cultural da SP Escola de Teatro, sob curadoria e coordenação de Miguel Arcanjo Prado.

Editado por Miguel Arcanjo Prado

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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