★★★★ Crítica: Conforto tem Ana Flavia Cavalcanti em intimismo expressivo que retrata desigualdades sociais

Ana Flavia Cavalcanti em Conforto © Jorge Bispo Divulgação Blog do Arcanjo 2024

★★★★
CONFORTO
Avaliação: Muito Bom
Crítica por Runan Braz

Palcos da vida são aconchegos para espetáculos performáticos de Ana Flavia Cavalcanti. É assim que a atriz paulista abriu sua curtíssima temporada no Itau Cultural (de 7 a 10 de março) do espetáculo autoral Conforto, no qual ela dirige e narra as vivências de infância, quando acompanhava sua mãe diarista, Val Cavalcanti, performer convidada do espetáculo.

A obra produzida por Rafael Ferro exala o sentimentalismo na pele de duas mulheres em luta constante pela sobrevivência na periferia de São Paulo. A obra retrata questões delicadas como preconceito, fome e a solidão na ausência do pai.

Ana Flavia atua no papel de babá, diarista e paquita, em uma performance emocionante, levando ao palco um intimismo ousado ao narrar as situações ocorridas, por meio de elementos sensoriais (tato, visão, cheiro) nos atos da obra: fotos e lembranças de momentos marcantes, um esborrifador com aquele cheirinho de amaciante Confort, um farto banquete no palco com som da Xuxa (Quem quer pão?).

Tudo isso envolve o público. Em alguns momentos sente-se que estamos em bate-papo aberto, dentro do seu lar, numa simbologia de parâmetros de raça e de classe. Ainda no sensorial, o espetáculo tem um dinamismo que adentra a alma do público, com o canto e execução de música ao vivo, de Lua Bernardo, que toca seu contrabaixo acústico aos sons de canções brasileiras: Identidade (Jorge Aragão), Milágrimas (Itamar Assumpção) e Oyá (Metá Metá).

De forma impactante, a obra também provoca o paradoxo do nome, que é o desconforto, para refletir um cotidiano repleto de desigualdades sociais.

Nesse cenário, Conforto nos ensina que compensa lutarmos nas adversidades no dia a dia e, dependendo do seu status na pirâmide social, reconhecer os privilégios enraizados.

A reverencia à mãe Val Cavalcanti até certo ponto pode se considerar uma homenagem aos espectadores que se identificam com as histórias dramáticas e de superação. O intuito é desconfortar e ao mesmo tempo exaltar aqueles que sempre batalharam para se ter o mínimo de conforto desejado.

★★★★
CONFORTO
Avaliação: Muito Bom
Crítica por Runa Braz

*Runan Braz é jornalista graduado pela Faculdade Cásper Líbero. Já colaborou com textos sobre arte e cultura para veículos como a Revista Teatral Legítima Defesa, Blog do Arcanjo e Alma Preta Jornalismo. Ele escreveu esta crítica a convite do Blog do Arcanjo.

CONFORTO

Ficha técnica
Concepção, direção e atuação: Ana Flavia Cavalcanti
Supervisão artística: Isabel Setti e Fábio Osório
Performer convidada: Val Cavalcanti
Direção de arte e vídeos: Ana Flavia Cavalcanti
Cenário: Marília Piraju
Cenotecnia: Cássio Omae
Figurino: Ana Flavia Cavalcanti
Trilha sonora: Lua Bernardo
Execução de música ao vivo: Lua Bernardo e Beatriz França (stand in)
Iluminação: Cyntia Monteiro
Operação de Luz: Cyntia Monteiro e Angel Taize
Operação de Vídeo: Tiago Silva
Fotografias: Hanna Vadasz, Jorge Bispo e Felipe Avila
Produção: Rafael Ferro
Produção Executiva: Jandilson Vieira
Assistente de Produção: Mariana Mollys
Assessoria de Imprensa: Pedro Madeira e Rafael Ferro
Preparação Vocal: Isabel Setti
Designer: Jonas “Joe” Borges e Daniel Kubalack
Tratamento de Fotos: Sérgio Lisboa

Editado por Miguel Arcanjo Prado

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Jornalista cultural influente, Miguel Arcanjo Prado dirige Blog do Arcanjo e Prêmio Arcanjo. Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Cultura pela USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, Folha, Ed. Abril, Huffpost, Band, Gazeta, UOL, Rede TV!, Rede Brasil, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra os júris: Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio do Humor, Prêmio Governador do Estado, Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio DID, Prêmio Canal Brasil. Venceu Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio ANCEC, Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado.
Foto: Rafa Marques
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