Selvática liberta ‘loucos do porão’ com Adoráveis Transgressões no Festival de Curitiba: ‘Somos bagunceiras do fundão’

Selvática estreia Adoráveis Transgressões na Mostra Lucia Camargo no 31º Festival de Curitiba © Annelize Tozetto Agência Daniel Sorrentino @dansorrel Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo 2023

Por MIGUEL ARCANJO PRADO
@miguel.arcanjo

ENVIADO ESPECIAL AO FESTIVAL DE CURITIBA*

Principal grupo que revolucionou o teatro curitibano e nacional na última decada com boa dose de desbunde e uma legítima representatividade de diversos corpos, sendo pioneiros em muitos questionamentos que reverberariam na sociedade, a Selvática Ações Artísticas é uma das mais aguardadas atrações do 31º Festival de Curitiba com seu novo espetáculo, Adoráveis Transgressões.

Stefani Belo, da Selvática, que estreia Adoráveis Transgressões no Festival de Curitiba © Annelize Tozetto Agência Daniel Sorrentino @dansorrel Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo 2023

A obra, que esgotou todos os ingressos para as duas sessões no Teatro José Maria Santos nesta sexta, 31, e sábado, 1º, o que comprova sua alta comunicabilidade com as novas gerações, é uma revisita à trajetória do próprio grupo, unindo a dramaturgia da curitibana Leonarda Glück, hoje radicada em São Paulo e que integrou os primórdios da companhia, à escrita do argentino Copi. Tudo isso cruzado com o cabaré e o melodrama, com auxílio da pesquisadora da obra de Copi no Brasil Renata Pimentel.

Lennarda Glück, da Selvática, que estreia Adoráveis Transgressões no Festival de Curitiba © Annelize Tozetto Agência Daniel Sorrentino @dansorrel Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo 2023

“O Dalton Trevisan diz que em Curitiba toda família tem seu ‘louquinho do porão’. Nós explodimos o porão e saímos dele”, define Leonarda Glück, em conversa com o Blog do Arcanjo, ao lado dos integrantes da Selvática. “Tem regras que não sabemos para que foram criadas e que não fazem sentido nenhum. Transgredir é uma necessidade vital, ou você vai ficar no porão. E não dá para ficar no porão e a família se achando a normal. A pergunta fundamental é: será que não é ao contrário?”, questiona.

Nina Ribas, da Selvática, que estreia Adoráveis Transgressões no Festival de Curitiba © Annelize Tozetto Agência Daniel Sorrentino @dansorrel Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo 2023

“Nós assumimos com alegria que somos o grupo mais transgressor do Brasil. A gente aceita esse nome”, confessa Nina Ribas. “Somos transgressores, mas somos adoráveis”, complementa o diretor Ricardo Nolasco, lembrando que os artistas recuperam a esperança após a ressaca política que o Brasil viveu nos últimos anos. “Os artistas foram achinchalhados. Mas sem arte, sem cultura, não se faz um país”, define Glück.

Ricardo Nolasco, da Selvática, que estreia Adoráveis Transgressões no Festival de Curitiba © Annelize Tozetto Agência Daniel Sorrentino @dansorrel Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo 2023

“Se pudesse voltar no tempo, eu diria para os jovens q fomos: taquem fogo em tudo enquanto é tempo”, confidencia Nolasco. “A gente lia aquelas coisas horríveis nos livros de História e depois viu tudo acontecendo de novo. A gente apresentando peça com medo de ser presa”, recorda Glück.

Leo Bardo, da Selvática, que estreia Adoráveis Transgressões no Festival de Curitiba © Annelize Tozetto Agência Daniel Sorrentino @dansorrel Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo 2023

Leo Bardo lembra que “não é só o choque pelo choque” em uma Curitiba conservadora, e recorda que desenvolvem toda uma pesquisa sobre o cabaré contemporâneo. “Nosso trabalho é incomodar o mundo, que está cagado, e a gente veio para informar”, explica Glück.

Stéf Belo, uma das artistas mais emblemáticas e carismáticas da Selvática, lembra que o grupo “fala das dissidências às normas, com seu convívio cotidiano de pessoas que estão resistindo a coisas muito fortes nessa sociedade” e afirma que o grupo quer “rodar o Brasil” com a obra. “As instituições tem como viabilizar isso se quiserem”, pontua, antes de reconhecer o legado que já produziram. “Nós somos geradores de vários grupos e artistas por aí”.

E lembra que há uma tradição de transgressão em Curitiba, feita por curitibanos e pessoas de todo o país que rumam para a capital do Paraná, como ela, que é baiana. “Precisamos sair de invisibilidade. É sobre tomar os holofotes para si e termos o direito de ser feliz”.

Gabriel Machado, da Selvática, que estreia Adoráveis Transgressões no Festival de Curitiba © Annelize Tozetto Agência Daniel Sorrentino @dansorrel Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo 2023

Gabriel Machado, produtor executivo da Selvática, lembra que o grupo sempre sofreu perseguições, sobretudo à sua sede, a Casa Selvática, palco das criações mirabolantes do coletivo de 23 artistas. “Os vizinhos reclamavam da gente, nas viagens o pesssoal dos hotéis ficava em suspensão conosco”, lembra Leonarda.

Patricia Cipriano, da Selvática, que estreia Adoráveis Transgressões no Festival de Curitiba © Annelize Tozetto Agência Daniel Sorrentino @dansorrel Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo 2023

“Nosso maior desafio é olhar para essa coletividade, produzindo essa arte coletiva, de pesquisa e experimentação”, fala Machado. “A gente joga luz a corpos que foram marginalizados e colonizados. Mostramos que essa corpa existe”, afirma Patricia Cipriano.

Semy Monastier, da Selvática, que estreia Adoráveis Transgressões no Festival de Curitiba © Annelize Tozetto Agência Daniel Sorrentino @dansorrel Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo 2023

Semy Monastier lembra que a Selvática sempre confrotou as normas de família e Estado impostas pela sociedade, o que casa com a dramargia Copi-Glück.

Marina Viana, da Selvática, que estreia Adoráveis Transgressões no Festival de Curitiba © Annelize Tozetto Agência Daniel Sorrentino @dansorrel Festival de Curitiba – Blog do Arcanjo 2023

Como atriz convidada de Adoráveis Trangressões, Marina Viana, uma das grandes artistas de sua geração na cena teatral de Belo Horizonte, lembra o impacto que a Selvática lhe causou quando viu o grupo no Festival de Curitiba. “A cena de BH e de Curitiba têm muitas similaridades. A Selvática faz esse teatro que assume a cidade, neste cabaré diverso que reverbera tantas coisas”.

“Mexemos com as feridas da galera do fundão. Pode colocar aí: nós somos as bagunceiras do fundão”, conclui Nolasco.

*O jornalista e crítico Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do Festival de Curitiba.

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Jornalista cultural influente e respeitado no Brasil, Miguel Arcanjo Prado é CEO do Blog do Arcanjo, fundado em 2012, e do Prêmio Arcanjo, desde 2019. É Mestre em Artes pela UNESP, Pós-graduado em Mídia e Cultura pela ECA-USP, Bacharel em Comunicação pela UFMG e Crítico da APCA – Associação Paulista de Críticos de Artes, da qual foi vice-presidente. Coordena a Extensão Cultural da SP Escola de Teatro e apresenta o Arcanjo Pod. Eleito três vezes um dos melhores jornalistas culturais do Brasil pelo Prêmio Comunique-se. Passou por Globo, Record, R7, Record News, Folha, Abril, Huffpost Brasil, Notícias da TV, Contigo, Superinteressante, Band, CBN, Gazeta, UOL, UMA, OFuxico, Rede TV!, Rede Brasil, Versatille, TV UFMG e O Pasquim 21. Integra o júri de Prêmio Arcanjo, Prêmio Jabuti, Prêmio Governador do Estado de São Paulo, Prêmio Sesc Melhores Filmes, Prêmio Bibi Ferreira, Prêmio Destaque Imprensa Digital, Prêmio Guia da Folha e Prêmio Canal Brasil de Curtas. Vencedor do Troféu Nelson Rodrigues, Prêmio Destaque em Comunicação Nacional ANCEC, Troféu Inspiração do Amanhã, Prêmio África Brasil, Prêmio Leda Maria Martins e Medalha Mário de Andrade do Prêmio Governador do Estado, maior honraria na área de Letras de São Paulo.
Foto: Edson Lopes Jr.
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