Crítica: Musical Madagascar acerta ao reforçar respeito às diferenças

Dirigido por Marllos Silva e sob produção de Renata Borges, Madagascar, Uma Aventura Musical reforça o respeito às diferenças, algo necessário ao Brasil de hoje; em cena, os protagonistas Mauricio Xavier, Ludmillah Anjos, Ivan Parente e André Loddi – Foto: Edson Lopes Jr. – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Madagascar, Uma Aventura Musical
Crítica por Miguel Arcanjo Prado

Avaliação: Muito Bom ✪✪✪✪

A empolgação do grupo de quatro animais que foge do zoológico de Nova York e vai parar em uma famosa ilha africana onde os lêmures são um show à parte fez a fama em 2005 da animação “Madagascar”.

A obra ganha montagem teatral nos palcos de São Paulo sob direção de Marllos Silva e versão brasileira de Daniel Salve em “Madagascar, Uma Aventura Musical”, em cartaz no Theatro Net São Paulo.

O texto original foi desenvolvido pelo braço teatral da Dreamworks, estúdio responsável pelo filme nos Estados Unidos, e é assinado por Kevin Del Aguila, com músicas originais e letras de George Noriega e Joel Someillan. De forma coesa, transpõe o roteiro do filme para a dramaturgia cênica.

Cena de Madagascar que faz lembrar o tráfego negreiro do passado: recados potentes e sutis estão presentes na montagem dirigida por Marllos Silva – Foto: Edson Lopes Jr. – Blog do @miguel.arcanjo UOL

O grande recado da montagem brasileira, tanto para as crianças como para os adultos, é reforçar o respeito às diferenças. E só alguém que vive em outro planeta não concordará que isso é absurdamente necessário ao tão desrespeitoso Brasil de hoje.

Afinal, precisamos buscar em qualquer lugar que seja um fio de esperança de que teremos qualquer tipo de futuro melhor diante dos atuais tempos de mergulho no caos da ignorância, preconceito e censura tão difundidos por aí.

Outros recados sutis, mas importantes, estão presentes na obra, como a representatividade negra no time de protagonistas em um musical que leva o nome de um país africano. Na cena dos animais aprisionados no porão do navio entre América e África, por exemplo, é impossível não enxergar referências ao horripilante tráfego negreiro do passado, um acerto da direção.

Progonistas dedicados empolgam o público em Madagascar, Uma Aventura Musical – Foto: Edson Lopes Jr. – Blog do @miguel.arcanjo UOL

O elenco protagonista se entrega aos personagens — o trabalho da preparadora de elenco Inês Aranha se ressalta aí —, com destaque para a energia contagiante de Mauricio Xavier, como a zebra Marty, e também a de André Loddi, como o leão Alex. Completam o time principal Ludmillah Anjos na pele da dengosa hipopótamo Glória e Ivan Parente, como a medrosa girafa Melman.

Mas, quem rouba a cena realmente é um teoricamente coadjuvante: Lucas Cândido, na pele do rei lêmure Julien. Dono de farto carisma, o ator domina o palco — e o espetáculo — de uma forma incontestável, deixando todos fascinados com sua gigante presença cênica que desconcerta qualquer tipo de preconceito. Afinal, a arte, quando exercida com talento, serve justamente para isso.

O carismático Lucas Cândido (à esquerda, ao lado do ator Nalin Júnior) rouba a cena como o enérgico rei dos lêmures africanos – Foto: Edson Lopes Jr. – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Ainda estão em cena Will Sancar, Renato Belini, Fernando Palazza, Júlio Oliveira, Nalin Júnior, Rafael Aragão, Brenda Nadler, Vanessa Mello, Letícia Mamede e Guilherme Pereira.

A cenografia de Renata Borges aposta na cor e na vivacidade ao fazer dialogar elementos cênicos móveis com um dinâmico painel de LED. Com leves ousadias, Renata faz estreia interessante na função, além de assinar a superprodução com sua Touché Entretenimento, produtora responsável pelo arrasa-quarteirão “Peter Pan”. Sua cenografia impõe a magia do transporte geográfico da grande metrópole norte-americana para o país insular africano na costa do Oceano Índico, fazendo o público viajar com os animais.

Respeito ao próximo como lição de vida: cena do musical Madagascar, Uma Aventura Musical, em cartaz no Theatro Net São Paulo – Foto: Edson Lopes Jr. – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Também contribuem fartamente no envolvimento com a história os figurinos de Fause Haten, alguns deles realmente exuberantes, como o da girafa e o da hipopótamo, não devendo nada a grandes superproduções internacionais. Talvez o único atropelo seja os pinguins de pelúcia, que não convencem muito ao serem manipulados, além de sujarem constantemente a barriguinha branca no chão — mas isso pode ser um preciosismo deste crítico detalhista.

A direção musical está a cargo de Natan Bádue, com arranjos envolventes, bem como a coreografia correta de Vivien Fortes. Carina Gregório, por sua vez, assina a direção associada ao lado de Marllos Silva — também autor da bela iluminação estroboscópica —, para que tudo dance conforme a música.

Madagascar, Uma Aventura Musical: é preciso abrir a cabeça para o respeito às diferenças, é a lição que deixa o colorido musical – Foto: Edson Lopes Jr. – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Quem vê “Madagascar, Uma Aventura Musical” sai com a sensação de que, para nos tornarmos pessoas melhores, precisamos sair de nossas estruturas cômodas e previamente concebidas, e abrirmos, com a simplicidade de uma criança, nossas cabeças em direção às diferenças. E é a partir de enxergar e respeitar o outro de fato que a amizade, o amor e a própria civilização tornam-se possíveis.

Madagascar, Uma Aventura Musical
Crítica por Miguel Arcanjo Prado

Avaliação: Muito Bom ✪✪✪✪

Theatro Net São Paulo (r. Olimpíadas, 360, shopping Vila Olímpia, São Paulo, tel. 11 4003-1212). Sexta, 20h30; sábado e domingo, 15h e 18h. R$ 35 a R$ 240. 90 min. Livre. Até 1º/12/2019.

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Madagascar, Uma Aventura Musical – Foto: Edson Lopes Jr. – Blog do @miguel.arcanjo UOL

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