Cesar Pivetti se destaca na iluminação teatral com olhar poético preciso

Mago da luz e da sombra: o iluminador Cesar Pivetti se destaca na atual cena teatral e é disputado pelas produções em São Paulo; só neste ano ele já assinou a luz de sete peças – Foto: Priscila Prade – Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Nova referência na iluminação teatral paulistana, Cesar Pivetti colhe os louros da experiência acumulada com luzes e refletores em 23 anos de carreira dedicados não só ao teatro como também à televisão e ao mercado de shows musicais e eventos.

O “lighting designer”, ou iluminador no bom e velho português, acaba de ser indicado ao Prêmio Shell de Teatro  e Prêmio Bibi Ferreira na categoria Iluminação pelo trabalho na peça “O Mistério de Irma Vap”, que agora viaja o Brasil após concorrida temporada paulistana com Luis Miranda e Mateus Solano.

Este é apenas um dos sete espetáculos neste ano nos quais Pivetti foi responsável pela luz, a maioria deles em parceria com a iluminadora Vânia Jaconis. Por trabalhos anteriores, o profissional já foi indicado a outros prêmios como Aplauso Brasil de Teatro, Coca-Cola Femsa e Academia Brasileira de Artes.

Nesta exclusiva Entrevista de Quinta ao Blog do Arcanjo, o profissional que já trabalhou ao lado de ícones do teatro brasileiro como Bibi Ferreira e Naum Alves de Souza e também novos nomes como Dan Rosseto, Jorge Farjalla e Isser Korik fala sobre sua trajetória e ainda dá importante dicas para quem quer se enveredar pelo mundo que existe entre as sombras e a luz.

Leia com toda a calma do mundo.

Miguel Arcanjo Prado – Cesar, quantas e quais peças você já fez a luz neste ano?
Cesar Pivetti – Este ano de janeiro até agora já são sete espetáculos: “O Mistério de Irma Vap, “Quando Tudo Estiver Pronto”, “Di Repente”, “Dolores”, “Hedda Gabler”, “Segunda o Kê?” e “Na Cama”.

Miguel Arcanjo Prado – E no total na carreira?
Cesar Pivetti – De 1996 para cá já foram mais de 430 espetáculos teatrais.

Miguel Arcanjo Prado – Quando e por que você começou a iluminar teatro?
Cesar Pivetti – Em 1996, comecei minha carreira trabalhando como maquinista e contrarregra no Teatro Jofre Soares, no bairro da Bela Vista, aqui em São Paulo. Nessa época, havia um espetáculo em cartaz chamado “A Dama e o Vagabundo”, foi nele que tudo aconteceu. Conheci nesse espetáculo o primeiro cara que me mostrou o que era luz, Alexandre Zulu, comecei a auxiliá-lo e, quando ele partiu para novos horizontes, me deixou responsável pela luz deste infantil.

Os atores Rafael Maia, Mel Lisboa e Carol Carreiro em cena da peça “Hedda Gabler”, de Ibsen sob direção de Marcio Macena, com iluminação de Cesar Pivetti e Vania Jaconis – Foto: Guto Garrote – Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Miguel Arcanjo Prado – Você faz shows musicais e eventos também?
Cesar Pivetti – Faço eventos corporativos, shows e teatro. Atualmente, além do teatro, também estou em turnê com o cantor Toni Garrido, no show “Noites de Orfeu”. Meu último musical iluminado foi “Rita Lee Mora ao Lado”.

Miguel Arcanjo Prado – Para criar a luz você trabalha sozinho ou em parceria? Com quem?
Cesar Pivetti – Até três anos atrás trabalhei sozinho. Após isso, firmei uma parceria com a iluminadora Vania Jaconis e desde então estamos fazendo tudo juntos, a única peça que fiz sozinho este ano foi “O Mistério de Irma Vap”.

Os atores Mateus Solano e Luis Miranda em “O Mistério de Irma Vap”: iluminação de Cesar Pivetti indicada ao Prêmio Shell de Teatro em SP – Foto: Jonatas Marques – Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Miguel Arcanjo Prado – Como funciona a parceria?
Cesar Pivetti – A parceria serve como complemento, serve para que existam dois olhares críticos em relação a obra, tudo é discutido e definido em comum acordo. De vez em quando, ela e eu fazemos algumas coisas sozinhos até mesmo para compreendermos o quanto evoluímos profissionalmente e o que aprendemos um com o outro. O trabalho em parceria é, além de tudo, um excelente exercício e é extremamente necessário para esse oficio.

Miguel Arcanjo Prado – Você sente que a iluminação ainda é mal aproveitada e desvalorizada no teatro paulistano? Por quê?
Cesar Pivetti – Não acho que a iluminação é mal aproveitada, acho que muitos iluminadores que estão no mercado ainda não compreenderam a fórmula básica do menos é mais. Sempre fui um iluminador consciente, nunca usei nada a mais do que aquilo que a obra pedia, conceito de luz x quantidade não cabem na minha leitura de artista. Óbvio que existem obras que pedem mais luz e obras que pedem menos luz, existem espaços que pedem mais luz e espaços que pedem menos luz. A diminuição do investimento financeiro na cultura e o alto valor cobrado pelas locadoras faz com que o iluminador atual se torne mais carpinteiro. Eu tenho aproveitado esse momento para redesenhar meus projetos, torná-los mais artesanais e menos tecnológicos.

Miguel Arcanjo Prado – Quem você considera o mago da luz?
Cesar Pivetti – Mago da luz?… Deus! Iluminadores que uso como referência? Aurélio de Simoni, Beto Bruel, Jorginho de Carvalho, Davi de Brito e Luís Paulo Neném.

Os atores Juan Manuel Tellategui, Carol Hubner e Diogo Pasquim em cena da peça “Enquanto as Crianças Dormem”, de Dan Rosseto, em 2017, com iluminação de Cesar Pivetti e Vania Jaconis – Foto: Bob Sousa – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Miguel Arcanjo Prado – Como é seu diálogo com os diretores?
Cesar Pivetti – Na sua grande maioria, todos os diretores que trabalho são diretores de longa e incrível parceria. Quando existe parceria estabelecida existe já um conhecimento aprofundado de ambas as partes sobre como cada parte trabalha. O diálogo precisa ser eficaz, compreender e extrair para você aquilo que esta na cabeça do diretor não é fácil.

Miguel Arcanjo Prado – O que não pode faltar em uma boa iluminação teatral?
Cesar Pivetti – Olhar artístico e crítico sobre a obra.

Miguel Arcanjo Prado – O que você acha de quem faz peça com luz branca aberta?
Cesar Pivetti – Se a obra pede luz branca e aberta acho que é perfeito, se a obra pede luz intimista e o iluminador usa luz branca e aberta, daí eu entendo como erro. Tudo depende do que esta sendo proposto.

Os atores Pedro Bosnich e Cristiane Werson na peça “Na Cama”, com iluminação de Cesar Pivetti e Vania Jaconis – Foto: Allan Bravos – Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

Miguel Arcanjo Prado – O que você acha das luzes de Led que estão surgindo nos teatros mais novos?
Cesar Pivetti – Eu particularmente não gosto da Led pelo seu resultado final, uma par Led nunca vai ser uma Par 64, uma ribalta de Led nunca vai ser uma ribalta de dicroica. Precisamos nos adequar e evoluir com a tecnologia e tenho feito isso bem devagar, confesso! [risos]. Ela [luz de Led] tem uma série de fatores prós, como por exemplo o baixo consumo de energia elétrica. A Led foi criada para atender o mercado de shows, aos poucos ela foi sendo inserida no teatro, os iluminadores mais novos talvez nunca irão compreender o como é lindo um contra vermelho 26, azul 74, âmbar 21… feito com lâmpada par foco 2 ou foco 5 [Risos], alias não há nada mais lindo, na minha concepção, que uma lâmpada par acesa a 40%… [risos].

Miguel Arcanjo Prado – Qual dica você daria para quem quer ser iluminador?
Cesar Pivetti – A primeira é humildade, ninguém está acima da obra. Nunca faça luz para que ela fique bonita, faça luz que atenda a obra, atendendo a obra ela ficara bonita (ou não) sozinha. A tecnologia não vem antes da técnica, antes de se preocupar com qual mesa usar, se preocupe em saber para o que cada refletor serve. O iluminador precisa entender que luz coloca vidas em risco, entender de peso e elétrica é o básico para quem quer ser iluminador. Seja ético. O iluminador precisa saber usar bem não somente o cérebro, mas o ouvido também, esteja aberto para ouvir críticas, elas são extremamente construtivas.

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O iluminador Cesar Pivetti – Foto: Priscila Prade – Divulgação – Blog do @miguel.arcanjo UOL

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