Mulher interrompe aos gritos peça no Festival de Curitiba

Cena da peça “Manual de Autodefesa Intelectual”, da Kiwi Cia. de Teatro: grito de uma mulher que não queria ouvir falar de política no teatro – Foto: Annelize Tozetto/Divulgação – Blog do Arcanjo/UOL

Por Michele Marreira, em Curitiba*
Colaboração para o Blog do Arcanjo

No segundo dia do 27º Festival de Curitiba, o público se deparou com uma situação constrangedora que fugiu do roteiro da peça “Manual de Autodefesa Intelectual” logo em sua estreia no evento, nesta quarta (28), no Sesc da Esquina. No meio do espetáculo, uma mulher começou a gritar na plateia. Tudo porque a tal espectadora considerou que a encenação do diretor Fernando Kinas falava de política, justamente um dos temas centrais da obra.

A proposta de “Manual de Autodefesa Intelectual” é promover a discussão de assuntos relacionados a questões sociais, políticas e religiosas. A peça tem no elenco os atores Fernanda Azevedo, Maíra Chasseraux, Maria Carolina Dressler e Vicente Latorre.

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Cena da peça “Manual de Autodefesa Intelectual”, da Kiwi Companhia de Teatro, no 27º Festival de Curitiba – Foto: Annelize Tozetto/Divulgação – Blog do Arcanjo/UOL

Na hora do berro da espectadora, uma das atrizes da montagem da Kiwi Companhia de Teatro, Fernanda Azevedo (vencedora do Prêmio Shell 2014 de melhor atriz), lia um texto crítico inicial que, normalmente, antecede o espetáculo com assuntos da atualidade sob um viés crítico.

De repente, ao escutar o texto, uma senhora levantou-se de seu lugar e, visivelmente nervosa, bradou, inconformada: “Paguei ingresso para ver teatro e não ouvir sobre política”. A platéia logo se manifestou, vaiando a espectadora e pedindo sua retirada do local em respeito ao restante do público pagante. A espectadora continuou na plateia.

A atriz Fernanda Azevedo lembrou do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson, entre outras denúncias no começo da peça – Foto: Annelize Tozetto/Divulgação – Blog do Arcanjo/UOL

O Blog do Arcanjo no UOL conversou com exclusividade com a atriz Fernanda Azevedo, que conta como foi o episódio.

“Nosso trabalho é fazer uma análise social, política, discutindo sobre a mídia hegemônica e religiões. Precisamos pensar criticamente sobre o mundo em que vivemos. Normalmente, no início da peça lemos um texto, abordando questões políticas atuais. Denunciamos o genocídio da população jovem negra nas favelas e periferias, o assassinato dos rappers de Maricá, falamos do fato de vivermos um governo golpista, a violência contra os candidatos à Presidência da República e, obviamente, sobre o assassinato do Anderson Gomes e da Marielle Franco”, revela.

Fernanda Azevedo, Maria Carolina Dressler e Maíra Chasseraux em cena da peça “Manual de Autodefesa Intelectual”, da Kiwi Companhia de Teatro, no 27º Festival de Curitiba – Foto: Annelize Tozetto/Divulgação – Blog do Arcanjo/UOL

“Eu estava no terceiro ponto da nossa ‘lista de desgraça’, infelizmente, quando essa mulher se levantou, afirmando que tinha pago ingresso para ver teatro e não política. Eu a respondi dizendo que no espaço do teatro discutimos sobre a sociedade, sim. Ela permaneceu até o final. Aqui [em Curitiba] há um histórico mais reacionário. As coisas estavam muito quentes na cidade no dia de nossa estreia”, diz.

Na noite desta quinta (28), aconteceu a segunda apresentação da peça “Manual da Autodefesa Intelectual” no Festival de Curitiba, no Teatro do Sesc da Esquina. O Blog do Arcanjo no UOL apurou que, no segundo dia, não houve incidentes durante a sessão.

Fernanda Azevedo em cena no meio do público no Sesc da Esquina, no Festival de Curitiba, em “Manual de Autodefesa Intelectual” – Foto: Annelize Tozetto/Divulgação – Blog do Arcanjo/UOL

A atriz Maria Carolina Dressler em cena de “Manual de Autodefesa Intelectual” no 27º Festival de Curitiba – Foto: Annelize Tozetto/Divulgação – Blog do Arcanjo/UOL

*Enviada especial, a jornalista Michele Marreira viajou a convite do Festival de Curitiba.

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