Revelação do ano, Luedji Luna lança 1º disco: ouça

Revelação de 2017 na MPB, cantora Luedji Luna lança primeiro disco, Um Corpo no Mundo – Foto: Tássia Nascimento/Divulgação

Por Miguel Arcanjo Prado

Cantora potente surgida na nova MPB e com uma farta pitada de world music, Luedji Luna lança nesta sexta seu primeiro álbum, “Um Corpo no Mundo”.

Seguidora confessa dos passos de Nina Simone e Elza Soares, Luedji fará uma série inicial de três shows em São Paulo para lançar o álbum [veja serviço ao fim].

O disco estará à venda nos shows e chega às lojas paulistanas a partir do dia 10/11 (Fnac e Livraria Cultura, R$ 19,90), mas já está disponível para ser escutado no YouTube.

Ouça “Um Corpo no Mundo, de Luedji Luna

Conhecida por envolventes apresentações intimistas, onde sua suave e ao mesmo tempo forte energia domina a tudo e a todos, a baiana radicada na capital paulista já arregimentou um séquito de fãs.

Gente que já canta na ponta da língua os primeiros hits, como “Banho de Folhas” — que ganhou videoclipe soteropolitano de fotografia vibrante — e a canção-título do álbum de 11 faixas, “Um Corpo no Mundo”, cujo clipe foi gravado na dureza dos prédios do centro paulistano e já conta com quase 300 mil visualizações no YouTube.

Nesta entrevista exclusiva ao Blog do Arcanjo do UOL, Luedji Luna fala sobre a música que faz e seu primeiro disco. Leia com toda a calma do mundo.

Miguel Arcanjo Prado – Qual o conceito principal do seu primeiro disco?
Luedji Luna — “Um Corpo no Mundo” é uma proposta para se pensar identidade, é um olhar sobre mim mesma a partir do contato, ainda que disperso, com os imigrantes africanos em São Paulo. O projeto se fundamenta na ideia do não pertencimento, do corpo que ocupa o espaço, mas não se identifica, e da necessidade de conexão com a ancestralidade. O álbum remete à travessia, ao deslocamento, é a partir dessa noção que os arranjos foram pensados. Um disco fluído, com referências que transitam. O que se pretende, na verdade, é levar uma sensação: o não-lugar!

Miguel Arcanjo Prado – Em qual tipo de música você acredita?
Luedji Luna – Eu acredito na música que cura, que transmuta e que transforma.

Miguel Arcanjo Prado – Quando você começou a cantar profissionalmente?
Luedji Luna – Eu comecei a cantar com 25 anos, em Salvador.

Miguel Arcanjo Prado – Por que “Um Corpo no Mundo”? Como foi a gravação deste clipe?
Luedji Luna – “Um Corpo o Mundo” porque falo desce corpo negro diaspórico, falo do não-lugar que esse corpo ocupa, faço uma crítica ao racismo institucional num país que sistematicamente resiste a esses corpo, dessa impossibilidade de não retorno ao continente mãe e da ausência de referencial histórico. O clipe foi gravado em São Paulo, dirigido por Joyce Prado, da Oxalá Produções, com uma equipe composta 80% por mulheres negras. Esse clipe foi um grande divisor de águas na minha carreira.

Miguel Arcanjo Prado – E o novo clipe, “Banho de Folhas”? Como foi a gravação?
Luedji Luna – “Banho de Folhas” foi gravado em Salvador, em dois dias, escolhemos retratar uma Salvador não turística, uma Salvador real, antiga, bonita e degradada ao mesmo tempo, também filmamos no Cabula, bairro onde nasci.

Miguel Arcanjo Prado – Qual a história dessa canção, que é o grande hit de seus shows?
Luedji Luna – “Banho de Folhas” é um canção de minha autoria junto com Emillie Lapa, cantora, compositora e atriz de Salvador, e conta a história dessas duas mulheres percorrendo a cidade atrás de um pai de santo para um jogo de búzios.

Luedji Luna no clipe Banho de Folhas, gravado em Salvador – Foto: Joyce Prado/Divulgação

Miguel Arcanjo Prado – Como selecionou as 11 faixas?
Luedji Luna – A seleção foi toda feita por mim. Já vinha experimentando as canções nos shows, e essa experiência foi determinante na escolha do repertório. Além das minhas composições, estão uma canção de Tatiana Nascimento, cantora, poeta e compositora brasiliense, minha parceira na Mostra Palavra Preta, que reúne poetas, compositoras e artistas visuais negras de todo o Brasil, duas canções de François Muleka, uma em parceria comigo e outra em parceria com sua irmã, Marissol Mwaba — François é quem assina os violões no disco —, e por fim uma canção de autoria do meu pai, “Saudação Malungo”, composta junto com Cal Ribeiro, compositor baiano, que foi minha escola de música durante toda infância. Além dessas, a já conhecida “Banho de Folhas”, autoria minha e de Emillie Lapa.

Miguel Arcanjo Prado – Qual a parte mais difícil de se mudar de Salvador pra SP? E o que foi bom pra você nisso?
Luedji Luna – O frio e a poluição, que realmente afetaram minha saúde. São Paulo é uma cidade dinâmica, um lugar onde gente do Brasil e do mundo aporta, e por isso é uma cidade que possibilita encontros muito produtivos e frutíferos, ela tem sido uma cidade extremamente generosa comigo e com minha carreira.

Miguel Arcanjo Prado – Aonde você pretende chegar com sua música?
Luedji Luna – Para onde ela me levar…

Ouça “Um Corpo no Mundo, de Luedji Luna

Luedji Luna faz série de shows grátis em SP para lançar primeiro disco, Um Corpo no Mundo – Foto: Tássia Nascimento

Crítica: Sofisticado e elegante, “Um Corpo no Mundo” mostra potência musical de Luedji Luna – Por Miguel Arcanjo Prado

Luedji Luna poderia estar cantando em um grande palco de Londres, Nova York, Buenos Aires, Cidade do Cabo, Tóquio ou Berlim. Por sorte nossa, nasceu no Brasil, mais especificamente no bairro do Cabula, em Salvador, o que não a impede de em breve conquistar todos esses lugares e mais alguns.

Porque Luedji Luna soa, sempre, internacional, mesmo que sua música esteja, de certa forma, fortemente conectada às suas raízes afro-brasileiras e, agora, com pinceladas pop e afrofuturistas.

Contudo, a cantora está longe de ser uma caricatura étnico-regional. Ela faz world music da melhor qualidade. E com uma delicadeza comum aos grandes músicos, sem abrir mão de seu discurso potente e da grande cantora que é.

Para tanto, conta com a cumplicidade dos sensíveis músicos do álbum: o queniano Kato Change (guitarras), o paulista criado na Bahia e filho de congoleses François Muleka (violão), o cubano Aniel Somellian (baixo elétrico e acústico), o baiano Rudson Daniel de Salvador (percussão) e o sueco radicado na Bahia Sebastian Notini (percussão).

E, claro, da produção e mixagem elegante de Sebastian Notini.

Quem já viu Luedji Luna ao vivo sabe o que acontece, sobretudo quando ela canta na Aparelha Luzia, espécie de segunda casa da baiana que se mudou para São Paulo com fome de conquistar o mundo com sua voz. Tal qual uma gaúcha chamada Elis Regina nos anos 1960.

Com asas gigantes, Luedji Luna já alçou voo em direção a ouvidos cada vez mais numerosos e distantes, mas nem por isso, menos próximos.

“Um Corpo no Mundo” é o recado macio e aveludado de Luedji Luna. Sofisticado e elegante, como sua voz, que chega calma, suave e altamente profunda.

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“Um Corpo no Mundo”, de Luedji Luna ✪✪✪✪✪
Avaliação: Ótimo
Shows gratuitos de lançamento
05/11/2017 (domingo), às 13h, no Sesc Itaquera – Praça de Eventos (av. Fernando Espírito Santo Alves de Mattos, 1.000, Itaquera, São Paulo), Grátis
16/11/2017 (quinta), às 20h, no Sesc Jundiaí – Teatro (av. Antônio Frederico Ozanan, 6.600, Jardim Botânico, Jundiaí), Grátis
18/11/2017 (sábado), às 16h, no Sesc Interlagos – Praça Pau-Brasil (av. Manuel Alves Soares, 1.100, Parque Colonial, São Paulo, Grátis

Ouça “Um Corpo no Mundo, de Luedji Luna

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