Crítica: Trança Teatro de Sorocaba clama por fim de morte de jovens negros

Marco Antonio Fera e Clarice Santos, do Grupo Trança Teatro, de Sorocaba - Foto: Rennan Castro

Marco Antonio Fera e Clarice Santos, do Grupo Trança de Teatro, de Sorocaba – Foto: Rennan Castro

Por Miguel Arcanjo Prado

“Parem de nos matar”, bradam os intensos atores Marco Antonio Fera e Clarice Santos, do Grupo Trança de Teatro, de Sorocaba, interior de São Paulo, no espetáculo teatral “Corpo Notícia: Relatos sobre o Amor a e Violência”. Entre outros temas referentes à população negra, a obra aborda o assassinato de jovens negros por agentes do Estado.

A montagem foi apresentada em São Paulo neste sábado (26), no emblemático Aparelha Luzia, charmoso centro cultural dedicado à negritude que vem causando burburinho no bairro de Campos Elísios. Ao fim da obra, boa parte do público estava emocionada.

Os atores do Trança buscam diálogo forte não só com seu público como também na construção da peça. Para isso, convocaram colaboração de artistas negros de outros grupos da capital, como Raphael Garcia, do Coletivo Negro, que assina a direção do espetáculo, e Sidney Santiago, do grupo Os Crespos, que ajudou na preparação do elenco.

A vontade de diálogo dos dois jovens artistas de Sorocaba é intensa e representa a força de grupos do interior paulista que desejam colocar no palco as questões étnico-raciais. A partir da dramaturgia fragmentada de Diana Moura, Fera e Clarice redescobrem afetividades coletivas da população negra, bem como mergulham em seus ritmos, suas histórias e sua religiosidade, além de seus dramas e tragédias, íntimas e coletivas.

Assim, a peça apresenta um panorama emotivo do jovem negro no Brasil contemporâneo, que já avançou passos em relação a seus antepassados, mas que ainda encontra um caminho turvo pela frente, sobretudo por conta do preconceito racial que teima em existir no Brasil de oportunidades desiguais.

A maior força da obra é seu discurso político, por mais que em alguns momentos esta se aproxime do psicodrama. É uma peça combativa, mas que a direção soube, de forma sensível, casar com a sutileza emotiva na construção da cena, na qual a música executada ao vivo por Kinder Adriano e Oziel Antunes desempenha papel fundamental, indo do samba-enredo à modinha de viola interiorana.

A montagem ainda tem figurinos de Isa Santos e coreografia de Renata Rocha, na qual o samba marca presença. Soraya Machado trabalhou o corpo dos atores, enquanto a voz foi cuidada por Zack Rodrigues. A peça contou também com pesquisa de Marco Pereira.

“Corpo Notícia: Relatos sobre o Amor a e Violência” é um espetáculo necessário em um país que teima em negar o racismo arraigado na sociedade. Falar sobre ele e suas cruéis consequências é o melhor começo para extirpá-lo de nós.

“Corpo Notícia: Relatos sobre o Amor a e Violência” * * *
Avaliação: Bom

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